Quando o BC começar a sinalizar que o ciclo de cortes da Selic finalmente já está visível no seu horizonte, os juros longos tendem a recuar. Isso pode acontecer porque diante da perspectiva de queda de juros no curto prazo, mais recursos passam a migrar para a renda fixa longa e, com isso, o juro real passa a cair.
Por enquanto, quem quer aproveitar os maiores retornos desde 2016 ainda pode travar taxas muito atrativas. De fato, o tom mais duro na ata da última reunião de política monetária divulgada em 23 de setembro ampliou a incerteza sobre o início da queda da Selic e até levou a uma subida dos rendimentos no Tesouro Direto nos últimos dias. O movimento refletiu uma certa frustração de parte dos investidores que esperavam um corte já em 2025.
No caso dos títulos atrelados à inflação, os famosos IPCA+, as taxas seguem acima de 7% ao ano. Esse juro real – aquele que supera a variação da inflação – é um dos maiores dos últimos anos. O título Tesouro IPCA+ 2029, por exemplo, foi negociado nesta terça-feira (30) na plataforma Tesouro Direto, com uma remuneração de inflação mais 7,84%. O mesmo papel tinha preço de compra de IPCA mais 7,77% na sexta-feira (26).
Já o Tesouro IPCA+ 2040 rendia a variação da inflação acrescida de um juro real de 7,13% na terça-feira. Trata-se de uma pequena elevação ante os 7,06% vistos na sexta-feira.
Entre os títulos com retornos já predefinidos na largada, o Tesouro Prefixado 2028 tinha taxa nominal de 13,31% ao ano também nesta terça-feira. Na sessão anterior, o papel tinha rendimento de 13,23%. O Tesouro Prefixado 2032, por sua vez, apresenta no início desta semana um ganho de 13,66% ante 13,51% no fechamento anterior.
O efeito dos juros compostos no longo prazo nos níveis que podem ser travados atualmente faz o capital triplicar e até quintuplicar. Veja a simulação abaixo referente a uma aplicação de R$ 10 mil em títulos IPCA+. O valor no vencimento é o valor equivalente ao “dinheiro de hoje”, sem considerar a inflação. É claro que o valor nominal, aquele que vai aparecer no seu saldo no fim do prazo, será bem maior, porque vai carregar vários anos de IPCA.
Com a inflação atualmente em queda, os prefixados também se mostram bem vantajosos. O Tesouro Prefixado 2028, por exemplo, equivaleria a um rendimento de IPCA+ 8,5% neste ano. Isso se for considerada a projeção para o IPCA no fim de 2025 de 4,81%, segundo o boletim Focus.
O que explica esse juro ainda tão alto dos títulos públicos é que a última ata do Copom mostrou que o BC vai ser muito cauteloso para começar a reduzir os juros. E mesmo quando fizer isso, vai demorar muito tempo para que a Selic volte para um nível de um dígito – condição considerada fundamental para que a renda fixa de fato deixe de ser competitiva em relação à bolsa.
Retornos de dois dígitos a perder de vista
Para quem olha o médio e o longo prazos e consegue manter os recursos nos papéis até o vencimento, há uma oportunidade para travar taxas historicamente elevadas. Garantir uma taxa de juro real acima de 7% por 5 ou 10 anos, por exemplo, significa manter um retorno médio de dois dígitos durante todo esse tempo.
Essa conta leva em consideração que, mesmo se o BC conseguir alcançar a meta de 3% de inflação anual, o título rende, ao menos, 10% ao ano (IPCA de 3% + juro de 7%, numa conta simples). Se o IPCA médio no período estiver mais perto de 4%, o retorno nominal subiria para 11% ao ano. Se for um prefixado, o ganho será ainda maior, acima de 13% ao ano, de acordo com os retornos atuais.
Mas existem riscos. Se você precisar tirar o dinheiro da aplicação antes do tempo, vai ter de vender o papel nas condições de mercado. Isso significa que pode perder dinheiro se o momento estiver desfavorável.
Por exemplo, se você contratar um título público prefixado ou indexado à inflação de prazos mais longos, por exemplo, 10 anos, vai receber exatamente o que comprou quando a aplicação acabar. Mas até lá não pode vender. A questão é que esses papéis, embora sejam um produto de renda fixa, exibem um comportamento variável no dia a dia.
Funciona da seguinte maneira: pelos próximos 10 anos, dia após dia, os preços do título vão subir e descer de acordo com as expectativas sobre a Selic, a inflação, a situação fiscal do país e um outro tanto de variáveis. Essa atualização diária se chama marcação a mercado.
Se, hipoteticamente, ocorrer um cenário no qual as taxas reais subam ainda mais ,quem vender vai amargar um prejuízo. Na situação oposta, se os juros caírem, o título vai valorizar.
No curto prazo, Tesouro Selic segue imbatível
Quem não tem certeza de que consegue segurar os recursos até o vencimento, a melhor opção está no Tesouro Selic. Esse título traz um retorno atrelado à taxa básica de juros.
Em 2025, com a Selic em 15% ao ano e a inflação projetada para o fim do ano de 4,81%, o retorno desse papel equivale a IPCA+ 10,19%. “A melhor opção para este ano e, provavelmente, ao longo do próximo ainda é o Tesouro Selic”, afirma o fundador e estrategista-chefe da Casa do Investidor, Michael Viriato.
Segundo o Focus, o mercado estima que a Selic vai terminar 2026 na casa de 12%, ou seja, com um corte de 3 pontos percentuais, enquanto o IPCA ficará em 4,28%. Isso significa que, potencialmente, o Tesouro Selic pode terminar 2026 com uma taxa ainda muito atrativa, equivalente a IPCA+ 7,71%.
Para o curto prazo, o título pós-fixado, o chamado Tesouro Selic, continua sendo uma excelente opção. É que seu retorno acompanha o nível do juro básico definido pelo BC – que deve permanecer em 15% até o fim do ano, segundo estimativas do mercado. Ao longo de uma década, por exemplo, espera-se que a taxa recue, em algum momento, para patamares mais civilizados, em geral de um dígito.
No longo prazo, se a Selic cair para a casa de 9% ao ano e a inflação estiver em torno de 3%, que é a meta do BC, o retorno vai equivaler a IPCA+ 6%. A vantagem do Tesouro Selic é que você pode vender o papel com riscos muito menores, porque o papel vai trazer o retorno do juro pós-fixado acumulado até o dia do resgate.