Alguns dos maiores gestores de recursos do mundo estão receosos em seguir apostando na valorização das ações no segundo semestre de 2025, preparando-se para mais volatilidade e aumento dos riscos.

Os mercados encerram seis meses turbulentos em que o S&P 500 despencou 19% do pico ao fundo do poço, antes de recuperar essas perdas. O índice fechou em uma máxima recorde na última sexta-feira, após o cesso-fogo entre Israel e Irã reacender o rali de tomada de risco.

A recente recuperação não é suficiente para muitos investidores institucionais, que citam uma série de riscos que ameaçam as ações. O prazo final para acordos tarifários se aproximando rapidamente, uma perspectiva mista para os lucros e questões sobre a dívida dos Estados Unidos e a liderança do Federal Reserve foram temas recorrentes em entrevistas com gestoras.

Os investidores também estão atentos às tensões entre EUA e China, potencialmente amenizadas pelo recém-anunciado arcabouço comercial entre os dois países.

Estamos mais cautelosos do que construtivos”, disse Joe Gilbert, gestor na Integrity Asset Management. “A perspectiva para o segundo semestre do ano é sempre moldada por um ponto de partida, e esse ponto de partida, da perspectiva do valuation e do crescimento dos lucros, não é tão atrativo.”

A visão de Gilbert é típica do sentimento pessimista entre investidores institucionais de Singapura a Londres e Nova York no encerramento do mês de junho. Isso também se reflete no posicionamento em ações por parte de gestores globais de ativos, que permanece bem abaixo dos níveis históricos.

Veja abaixo cinco principais fatores de risco que investidores em ações estão monitorando de perto para o restante do ano:

1. Prazo para tarifas impostas por Trump está chegando ao fim

Uma ameaça imediata ao rali das ações está no prazo de 9 de julho estabelecido pelo presidente Donald Trump para firmar pactos comerciais com os principais parceiros dos EUA.

O Reino Unido é um caso à parte, tendo garantido um acordo. A União Europeia e os EUA acreditam que podem fechar algum tipo de acordo comercial a tempo, informou a Bloomberg News, enquanto as negociações com a Índia, o Japão e muitos outros países continuam. A Bloomberg News também informou que os EUA estão próximos de firmar acordos com México e Vietnã.

Os investidores geralmente concordam que um choque tarifário para os mercados na escala do “Dia da Libertação” do início de abril é improvável. Também há esperanças de que o prazo possa ser prorrogado.

Ainda assim, Anthi Tsouvali, estrategista na UBS Global Wealth Management, afirmou que, embora “os mercados não estejam mais complacentes, há riscos até que um acordo definitivo seja anunciado”.

Tsouvali afirmou ter uma postura neutra em relação às ações. “Haverá muita incerteza, muita volatilidade”, disse. “Não estamos assumindo riscos ativos.”

2. Balanços de empresas postos à prova

A resiliência corporativa tem sido um suporte fundamental para a recuperação das ações dos EUA desde abril. Analistas, em média, esperam que os lucros das empresas do S&P 500 subam 7,1% neste ano, antes de acelerarem em 2026, de acordo com dados compilados pela Bloomberg Intelligence.

Isso será posto à prova em algumas semanas, com a divulgação dos resultados do segundo trimestre.

“Nesse ambiente mais desafiador, é preciso pensar que essas expectativas de crescimento precisem ser revistas para baixo”, disse Louise Dudley, gestora na Federated Hermes. Para o mercado em geral, “talvez o máximo que possamos esperar seja um movimento lateral a partir daqui”, acrescentou ela.

3. Risco geopolítico

O fim das hostilidades entre Israel e o Irã reduziu os preços do petróleo, aliviando a preocupação dos investidores em ações sobre como isso repercutiria na inflação e complicaria o caminho do Fed para os cortes nas taxas de juros. Ainda assim, o impulso ao sentimento é frágil, à medida que a incerteza gira em torno do futuro do programa nuclear do Irã.

“Apesar desse alívio temporário, continuamos a ver o risco geopolítico como estruturalmente elevado”, disse Francisco Simón, chefe de estratégia para a Europa do Santander Asset Management.

A empresa mantém uma posição underweight em ações, favorecendo uma “abordagem cautelosa e seletiva”, observou ele.

4. Dívida dos EUA

Para Nicolas Wylenzek, estrategista macro da Wellington Management, a condução da sucessão do presidente do Fed também é uma questão importante para os investidores.

Um risco mencionado por alguns investidores é que os EUA vivenciem sua própria versão do “momento Liz Truss” do Reino Unido em 2022. Isso foi “em parte desencadeado por gastos descontrolados, combinado com alguns questionamentos sobre a independência do Banco da Inglaterra”, disse Wylenzek.

“Podemos ver algo semelhante? Há o risco de os mercados repentinamente começarem a se preocupar com a possibilidade de o próximo presidente do Fed não ser tão independente quanto talvez tenham sido no passado”, disse ele.

5. Valuations de ações

“Os valuations das ações dos EUA, particularmente em estratégias ponderadas por capitalização de mercado, como o índice S&P 500, podem ter de se ajustar, ainda mais se as condições econômicas dos EUA deteriorarem”, disse David Chao, estrategista de mercado global da Invesco Asset Management. “Os mercados fora dos EUA, em sua maioria, negociam com múltiplos mais baixos, e acreditamos que a diferença com os EUA continuará diminuindo”, acrescentou ele.