A corrida dos dividendos e dos juros sobre capital próprio (JCP) antes do fim da isenção atingiu a temperatura máxima. Mais e mais empresas anunciam a distribuição de proventos em dezembro para aproveitar a janela que acaba no fim do mês. Um levantamento do Itaú BBA mostra que o montante anunciado já atingiu R$ 124,1 bilhões desde outubro. E isso pode ser um combustível para o mercado de ações, ao menos no curto prazo, na visão de especialistas.

Trata-se de um crescimento de 126% comparado ao valor do terceiro trimestre de 2025, segundo levantamento feito pelo chefe de estratégias de renda variável do Itaú BBA, Daniel Gewehr. A distribuição anunciada também cresceu 34,6% ante os últimos três meses de 2024.

Do total de R$ 124 bilhões anunciados, R$ 52,9 bilhões serão pagos ainda em 2025, enquanto outros R$ 57,8 bilhões ficarão para 2026.

O ranking dos maiores pagadores

No topo da lista por valores nominais, destacam-se gigantes como a Vale, com R$ 15,3 bilhões, a Petrobras, com R$ 12,2 bilhões, e a Ambev, com R$ 11,5 bilhões. Já em termos de taxa de retorno por ação, conhecido como “dividend yield“, o pódio é formado por quatro incorporadoras: a LOG Commercial Properties, com 15,5%, seguido da Direcional, que apresenta um dividend yield de 9,2%, e empatadas em terceiro, Syne e Cyrela, ambas com 8,6%.

Conforme o Itaú, em termos setoriais, quem distribuiu mais proventos até agora foam as companhias financeiras, com um volume total de R$ 36,4 bilhões. Em seguida aparecem os grupos de materiais básicos, com R$ 18,4 bilhões, e consumo básico, com R$ 13 bilhões.

Vem muito mais por aí

Mas a casa de análise espera muito mais. Até o fim do ano, os especialistas veem possibilidade de, pelo menos, mais 20 empresas anunciarem novas distribuição de lucros. Conforme os analistas, diante das estimativas de reservas de lucros e as estratégias de alocação de capital, várias companhias listadas podem anunciar um volume de dividendos e JCP de “magnitude similar ao que já foi anunciado”.

O Itaú BBA afirma ainda que um grupo de 20 empresas – com destaques para os setores financeiro e imobiliário – podem anunciar proventos com retornos (dividend yields) acima de 5% ao ano.

Entre as empresas que anunciaram nesta semana a distribuição de dividendos e JCP, a LOG Comercial Properties, especializada em espaços logísticos, ultrapassou a meta de “payout” para o ano, ou seja, vai distribuir um percentual maior do lucro do que os 50% previstos inicialmente para 2025. O grupo aprovou na terça-feira (16) o pagamento de dividendos intermediários no valor total de R$ 278,6 milhões, correspondentes a R$ 3,1876 por ação ordinária.

A nova distribuição elevou o total distribuído em 2025 para R$ 346 milhões, com retorno por ação de 15,5% anual, ou seja, superando o CDI. O diretor financeiro (CFO) e de relações com investidores (RI) da companhia, Rafael Saliba, explica que a companhia ainda não “guidance”, ou seja, indicação de metas para 2026. Porém as perspectivas para os proventos são positivas, porque o próximo ano vai ter diversos fatores de impulso para o setor, como, por exemplo, a possibilidade de um ciclo de corte de juros.

Várias companhias se juntam à corrida

A Vivo foi outra companhia que aprovou nesta semana o pagamento de R$ 350 milhões em JCP. O valor por ação será de R$ 0,11. Terão direito ao provento os acionistas com posição acionária até 29 de dezembro de 2025. O pagamento será realizado até 30 de abril de 2026.

O conselho da administradora de shoppings Allos aprovou nesta quarta-feira o pagamento de R$ 438 milhões em dividendos intermediários, equivalentes a R$ 0,29 por ação. O valor será distribuído em três parcelas iguais de R$ 146 milhões cada, com base na reserva para investimentos do balanço de 2024.

A companhia aprovou R$ 255 milhões em juros sobre capital próprio, com valor bruto estimado de R$ 0,75 por ação. O pagamento ocorrerá até 31 de dezembro de 2026 e ações negociadas ex-JCP a partir de 22 de dezembro de 2025.

Nessa corrida dos dividendos, também entraram a Camil Alimentos, que distribuir R$ 420 milhões em dividendos, em 12 parcelas entre março de 2026 e dezembro de 2028; e a M. Dias Branco, que terá dividendos extraordinários de R$ 200 milhões, equivalentes a R$ 0,59 por ação, com data máxima para ter direito a receber quem tiver posição acionária até 21 de dezembro.