A recente corrida por debêntures incentivadas fez o preço delas disparar no mercado. Na renda fixa, a regra é simples: se o preço sobe, as taxas de remuneração caem.

E elas caíram muito, a ponto de ficarem abaixo dos títulos do Tesouro.

Aí você se pergunta: se eu corro mais risco em um papel privado, por que aceitaria ganhar menos do que num título público, intrinsecamente mais seguro? A resposta está no imposto: a isenção cria um abismo entre papéis tributados e os isentos no resultado líquido – o único resultado que importa.

A busca pelos isentos disparou quando a Medida Provisória 1.303, que alterava as regras de IR para várias aplicações financeiras, colocou a isenção em dúvida. Para não perder o benefício, que terminaria a partir de 2026, muita gente comprou debêntures incentivadas. Com a demanda lá em cima, deu-se o fenômeno que falamos aqui: preços lá em cima, e taxas lá embaixo.

Investidores exigem uma taxa extra para comprar títulos privados. É o chamado “prêmio” na comparação com os títulos públicos. E ele ficou negativo contra as NTN-Bs (popularmente conhecidas como Tesouro IPCA+). Em setembro, o Idex-Infra, indicador criado pela gestora JGP que acompanha os prêmios das debêntures incentivadas, fechou em -0,32 ponto percentual.

Ou seja: título privado pagando menos que título público.

Mas quando você coloca a isenção de imposto na mesa, essa realidade muda. As debêntures incentivadas, criadas para financiar projetos de infraestrutura, não pagam IR sobre o rendimento. Os títulos do Tesouro pagam. A alíquota que começa em 22,5% para aplicações até 180 dias e cai para 15% nos prazos mais longos, acima de 720 dias.

Para comparar de verdade, então, é preciso levar isso em conta. Vamos aos números.

Em março de 2025, a Ecovias Raposo Castello fez uma emissão de debênture incentivada a IPCA + 8,17% ao ano, isenta de IR. Para um Tesouro IPCA+ “empatar” com essa rentabilidade líquida, pensando em uma inflação de 5% como exemplo, ele precisaria pagar IPCA + 10,5%. Esse é o tamanho do imposto. Ele incide sobre o rendimento nominal do título: o que vem da inflação e o que vem do juro real (o “prêmio”).

Essa debênture da Ecovias que escolhemos para o exemplo tem vencimento em 2029. Um Tesouro IPCA+ de mesmo prazo está pagando, hoje, IPCA + 7,86%. Ou seja, substancialmente menos em termos líquidos – os únicos que importam, não custa repetir.

Em suma: num cenário em que as debêntures incentivadas estão pagando só um pouco abaixo das NTN-Bs, como o de hoje, o fato é que elas seguem pagando um bom prêmio de risco.

Não fazem mais do que a obrigação, afinal.