O Fed fez uma segunda redução consecutiva em outubro, motivado pela deterioração repentina do mercado de trabalho americano durante o verão – há espaço para corte de juros quando o mercado de trabalha esfria porque isso, em tese, reduz o consumo e, consequentemente, os preços na economia.
Apesar disso, na sequência, veio uma onda de preocupações e declarações com tom mais duro (hawkish, no jargão do mercado) entre alguns dirigentes, incluindo cinco com direito a voto neste ano, sinalizando hesitação ou até resistência em apoiar um terceiro corte em dezembro.
A divisão crescente foi agravada pela falta de dados econômicos recentes devido ao “shutdown” do governo – um apagão administrativo temporário por falta de verba autorizada – que durou boa parte de outubro e novembro e prejudicou a coleta de dados para os principais indicadores da economia.
O dado de inflação mais recente disponível aos dirigentes, divulgado em 5 de dezembro, ainda se refere a setembro, um número pouco provável de alterar o debate.
Diante desse cenário, investidores chegaram a demonstrar, por cerca de uma semana em meados de novembro, sérias dúvidas sobre a possibilidade de um novo corte. Mas o episódio foi contornado em 21 de novembro, quando o presidente do Fed de Nova York, John Williams, visto como um dos mais alinhados a Powell, afirmou enxergar espaço para uma redução “no curto prazo”. O mercado captou o recado e agora atribui mais de 90% de probabilidade a um corte na próxima semana.
Economistas consultados pela Bloomberg esperam que, após este movimento, o Fed faça uma pausa antes de realizar mais dois cortes em 2026, um em março e outro em setembro. Há expectativa de que a enxurrada de novos dados, conforme os órgãos estatísticos recuperam o atraso causado pelo “shutdown”, ajude a esclarecer a tensão atual entre as duas metas do Fed: controlar a inflação e maximizar o emprego.
Mas o cenário de drama não deve cessar. O presidente Donald Trump deve indicar em breve um sucessor para Powell, cujo mandato termina em maio. Kevin Hassett, aliado de Trump e ex-assessor econômico sênior, é o favorito. E isso provoca apreensão entre alguns investidores de que o próximo presidente do Fed possa reduzir juros seguindo orientações políticas, aumentando o risco de reacelerar a inflação.
Entre diversos dados e decisões de política monetária no mundo, o Brasil também anuncia a meta para a Selic na quarta-feira (10), mesmo dia em que a decisão do Fed será divulgada, e a expectativa é de que a taxa básica de juros seja mantida em 15% pela quarta vez seguida. Mas o mercado ficará mesmo de olho em sinais para os próximos passos sob a liderança de Gabriel Galípolo.