“Nossa expectativa de crescimento sólido e políticas monetária e fiscal mais fáceis sustentam uma inclinação ‘risk-on’ [busca por ativos de maior risco] em nossos portfólios multiclasse [de vários tipos de ativos]. Continuamos com exposição acima da média em ações e crédito”, disse Sylvia Sheng, estrategista global de multiclasse da JPMorgan Asset Management.
“Estamos apostando em tendências poderosas e seguimos otimistas até o fim do próximo ano”, afirmou David Bianco, diretor de investimentos das Américas na DWS. “Por ora, não estamos em posição contrária.”
“Comece o ano com exposição, ou até mesmo ‘superexposição’, em ações, principalmente de mercados emergentes”, disse Nannette Hechler-Fayd’herbe, diretora de investimentos na Lombard Odier. “Não esperamos que uma recessão se materialize em 2026.”
Essas avaliações vieram de entrevistas da Bloomberg News com 39 gestores de investimentos nos EUA, Ásia e Europa, incluindo BlackRock, Allianz Global Investors, Goldman Sachs e Franklin Templeton.
Mais de três quartos dos alocadores estão posicionando portfólios para um ambiente de maior exposição ao risco até 2026. A lógica dessa aposta é que o crescimento global resiliente, os novos avanços em inteligência artificial, a política monetária menos dura e os estímulos fiscais proporcionarão retornos robustos em ações de mercados globais de diversas naturezas.
Se o otimismo se confirmar, isso resultaria em um impressionante quarto ano seguido de retornos excepcionais para o índice MSCI All-Country World, o índice que mede o retorno das principais ações globais. Isso prolongaria uma série de ganhos que já adicionou US$ 42 trilhões em valor de mercado desde o fim de 2022 – o maior valor já criado para investidores de ações na história.
A onda da inteligência artificial adicionou trilhões em valor de mercado para dezenas de empresas que atuam no setor. Mas, apenas três anos após o ChatGPT entrar no radar do mercado, a IA ainda está nos estágios iniciais de desenvolvimento.
Sem pânico no setor de tecnologia
Os gestores, em sua maioria, rejeitam a ideia de que o setor de tecnologia criou uma bolha no mercado acionário. Embora reconheçam excessos em algumas empresas de tecnologia não lucrativas, 85% disseram que as avaliações das “Sete Magníficas” – Alphabet (Google), Amazon, Apple, Meta (Facebook), Microsoft, Nvidia e Tesla – e de outras gigantes de IA não estão excessivamente infladas. Os fundamentos sustentam o movimento, marcando o início de um novo ciclo industrial.
“Não é possível chamar de bolha quando as empresas de tecnologia apresentam lucros tão fortes. De fato, os lucros do setor superaram todas as outras ações dos EUA”, disse Anwiti Bahuguna, co-CIO global da Northern Trust Asset Management.
Ou seja: os investidores ainda esperam que os EUA continuem sendo o motor do rali. “O excepcionalismo americano está longe de morrer”, disse Jose Rasco, CIO das Américas no HSBC. “À medida que a inteligência artificial se espalha pelo mundo, os EUA continuarão sendo um participante central.”
A maioria dos investidores ecoou o sentimento de Helen Jewell, CIO internacional de ações fundamentais da BlackRock, que também sugere buscar oportunidades fora dos EUA. “Os EUA têm as empresas de maior retorno e maior crescimento, então precisamos ser realistas quanto a isso. Mas isso já está refletido nas avaliações e há provavelmente oportunidades mais atraentes fora do mercado americano.”
O “boom” internacional
Para investidores de ações, lucros são o que mais importa e aumentos expressivos nos gastos governamentais, da Europa à Ásia, elevaram estimativas de fortes crescimentos nos resultados corporativos.
“Começamos a ver uma ampliação significativa do momento para mais lucros, tanto entre empresas de diferentes capitalizações de mercado, quanto entre regiões, incluindo Japão, Taiwan e Coreia do Sul”, disse Andrew Heiskell, estrategista de ações da Wellington Management. “Olhando para 2026, vemos claro potencial de retomada do crescimento de lucros na Europa e em uma gama mais ampla de mercados emergentes.”
A Índia é uma das oportunidades mais atraentes para 2026, segundo Alexandra Wilson-Elizondo, co-chefe global e co-CIO de soluções multiclasse da Goldman Sachs Asset Management. “Vemos potencial real para a Índia se tornar a história de reprecificação ‘à la Coreia’ de 2026, um mercado que passa de alocação tática a exposição estratégica nos portfólios globais.”
Nelson Yu, chefe de ações na AllianceBernstein, afirma ver melhorias fora dos EUA que exigirão realocações das carteiras, destacando a reforma de governança no Japão, a disciplina de capital na Europa e a recuperação de rentabilidade em alguns mercados emergentes.
Otimismo com small caps
Setorialmente, os investidores buscam “proxies” da IA, empresas que não são propriamente do setor, mas de algum modo se relacionam a ele, especialmente entre empresas de energia limpa capazes de atender à demanda voraz da tecnologia por eletricidade.
“A perspectiva de lucros melhorou para small caps, empresas industriais e financeiras”, disse Stephen Dover, estrategista-chefe e chefe da Franklin Templeton. “As small caps e as empresas industriais, geralmente mais alavancadas, verão a lucratividade subir à medida que o Fed [Federal Reserve, o banco central dos EUA] corte os juros e os custos da dívida caiam.”
Na Santander Asset Management, Francisco Simón prevê crescimento de lucros acima de 20% para small caps americanas após anos de desempenho fraco. O índice Russell 2000, que mede justamente o retorno das empresas menores da bolsa americana, recentemente atingiu um recorde.
Enquanto isso, a combinação de preços baixos e fundamentos sólidos faz do setor de saúde uma das oportunidades mais atraentes no atual ciclo de alta, segundo boa parte dos gestores.
“Setores ligados à saúde podem surpreender positivamente nos EUA”, disse Jim Caron, diretor de investimentos de soluções multiclasse no Morgan Stanley Investment Management. “É ano de eleição de meio de mandato e políticas podem apoiar várias empresas. As avaliações ainda são atraentes e têm muito a recuperar.”
Riscos no radar
Praticamente todos os alocadores destacaram ao menos uma preocupação sobre o que vem pela frente. A principal: a possibilidade de a inflação nos EUA reacelerar em 2026. Isso poderia forçar o Fed a interromper ou até encerrar seu ciclo de cortes de juros, criando alta turbulência.
“Um cenário, que não é o nosso cenário-base, em que a inflação dos EUA volte a subir em 2026 seria um duplo golpe para fundos multiclasse, penalizando ações e títulos. Seria muito pior do que um simples desaquecimento econômico”, disse Amélie Derambure, gestora sênior da Amundi SA.
“Da forma como os investidores estão posicionados para 2026, eles precisam que o Fed esteja do seu lado”, completou.
Outro risco é a imprevisibilidade do presidente Donald Trump, especialmente em temas comerciais. Qualquer escalada em disputas comerciais que impulsione tarifas – e, portanto, a inflação – pesaria sobre ativos de risco.
Vários entrevistados disseram evitar montadoras europeias, citando forte concorrência das chinesas, compressão de margens e desafios estruturais na transição para veículos elétricos. “Pessoalmente, não acredito que haverá uma recuperação no setor”, disse Isabelle de Gavoty, da Allianz GI.
Apesar desses riscos, quase todos acreditam que o rali deve continuar, embora reconheçam que a unanimidade em si é um sinal de alerta. “Todo mundo parece estar em modo de aumento de risco nas carteiras no momento e isso me preocupa um pouco, porque a concentração de posições reduz a tolerância a surpresas negativas”, disse Derambure, da Amundi.