O ouro e a prata despencaram com a realização de lucros por parte dos investidores após uma forte alta no final do ano que levou ambos os metais a máximas históricas, sendo a baixa liquidez do mercado um fator que exacerbou as oscilações de preço.

O ouro à vista caiu até 5%, registrando a maior queda intradia desde 21 de outubro. Foi a segunda vez neste ano que o metal precioso despencou tanto em um único dia. A prata, por sua vez, declinou 11%, sua maior queda intradiária desde setembro de 2020. Ambos os metais apresentaram uma forte retração após atingirem novas máximas históricas, o que sinalizou que suas altas foram rápidas demais e prematuras.

“Não interprete movimentos bruscos como uma grande oportunidade”, disse Michael Haigh, chefe de pesquisa de renda fixa, investimentos e commodities do banco europeu Societe Generale, acrescentando que o final de cada ano tende a ser “muito ilíquido”.

Segundo Haigh, a queda desta segunda-feira (29) deve-se principalmente à realização de lucros após uma forte alta sazonal tanto do ouro quanto da prata. Historicamente, os metais preciosos apresentam uma forte valorização no final do ano e no início do ano seguinte. O ouro registrou ganhos de cerca de 4% nesse período nos últimos 10 anos, enquanto a prata normalmente subiu quase 7%, afirmou ele.

Os indicadores técnicos para o ouro corroboraram a queda, com o índice de força relativa (RSI) de 14 dias — uma medida do ímpeto de compra e venda — em território de sobrecompra nas últimas duas semanas. Isso sinalizou que a alta do ouro estava prestes a sofrer uma correção.

A situação é semelhante na prata, embora mais dramática: o metal branco valorizou mais de 25% desde meados de dezembro, com seu RSI permanecendo bem acima de 70. Uma leitura acima de 70 indica que muitos investidores compraram em excesso em um curto período.

O iShares Silver Trust, o maior fundo negociado em bolsa lastreado fisicamente em prata do mundo, caiu até 10%, registrando sua maior queda desde 2020.

A forte queda da prata na segunda-feira ocorreu horas depois de ela ter ultrapassado os US$ 84 por onça, impulsionada pela crescente demanda de investimentos chineses. Os prêmios para a prata à vista em Xangai subiram para mais de US$ 8 por onça em relação aos preços de Londres, o maior spread já registrado.

“O clima de especulação está muito forte”, disse Wang Yanqing, analista da China Futures Ltd. “Há muita expectativa em torno da escassez de oferta no mercado à vista, e isso está um pouco extremo agora.”

Algumas bolsas estão tomando medidas para conter o risco. As margens para alguns contratos futuros de prata na Comex serão aumentadas a partir de segunda-feira, de acordo com um comunicado do CME Group Inc. — uma medida que, segundo Wang, ajudará a reduzir a especulação.

Quando uma bolsa aumenta os requisitos de margem, os investidores precisam depositar mais dinheiro para manter suas posições abertas. Alguns especuladores não têm esse dinheiro extra e, portanto, são forçados a reduzir ou fechar suas posições.

Abalo da prata: maior queda intradiária desde 2021

A mais recente valorização da prata ocorreu apenas dois meses depois de o mercado de prata de Londres ter sofrido uma forte pressão, com os fluxos para fundos negociados em bolsa e as exportações para a Índia corroendo os estoques que já estavam criticamente baixos. Os cofres de Londres têm recebido fluxos significativos desde então, mas grande parte da prata disponível no mundo permanece em Nova York, enquanto os investidores aguardam o resultado de uma investigação nos EUA que pode levar a tarifas ou outras restrições comerciais.

Às 15h05 em Nova York, o ouro caiu 4,2%, para US$ 4.343,38 a onça. As ações de empresas ligadas ao setor de mineração de ouro também despencaram, com a Newmont Corp., a Barrick Mining Corp. e a Agnico Eagle Mines Ltd. caindo mais de 6%.

A prata à vista caiu 8,5%, para US$ 72,58 a onça, após ter atingido um novo recorde de US$ 84,01 a onça. A platina despencou 14%, enquanto o paládio caiu quase 16%, após ter registrado sua maior queda intradiária desde 2020.