Inflação mais comportada, dólar mais fraco e efeitos dos juros em níveis elevados finalmente aparecendo sobre a economia. Esses são os motivos que levarão o Brasil a liderar o ciclo global de cortes de juros em 2026. A avaliação é de Leonardo Porto, economista-chefe do Citi Brasil, que projeta o início das reduções já no primeiro trimestre.

O Banco Central divulgará a nova taxa Selic amanhã, e o Citi, assim como a maioria do mercado, espera uma manutenção em 15% ao ano. Mas o banco trabalha com um processo de flexibilização monetária já a partir de janeiro, com um corte de juros de 0,25 ponto percentual, acelerando posteriormente para ajustes de 0,50 pp até que a Selic alcance 12% no fim do ano.

A inflação no Brasil está “melhorando de forma inequívoca”, segundo o executivo, principalmente por três fatores: o primeiro é a “atuação tempestiva” do Banco Central, que elevou os juros a 15% e manteve comunicação firme em torno de controle inflacionário; o segundo é a apreciação do real, que ajuda a reduzir preços de commodities e alimentos; e o terceiro é a estabilização da inflação de serviços, que ainda está alta, mas já com sinais de desaceleração.

O juro extremamente contracionista tem esfriado a demanda e puxado a atividade para baixo. Não à toa, o PIB já mostra desaceleração, como se viu no fechamento do terceiro trimestre, e os indicadores de emprego sugerem crescimento abaixo do potencial.

“A credibilidade do BC é possível de se ver com reancoragem de expectativas [quando as estimativas do mercado se alinham às do BC] e qualquer horizonte que olhamos tem trajetória de declínio gradual da inflação”, afirmou.

Na bolsa, a procura dos investidores estrangeiros por ativos brasileiros tem tudo para continuar porque os preços dos ativos ainda continuam relativamente baratos, assim como outros emergentes, segundo Eduardo Miszputen, head de Markets do Citi.

“De maneira geral, o cenário global é positivo para o Brasil e deveríamos considerar que a chance de desvalorização dos ativos brasileiros é menor”, afirmou. “Hoje o ambiente parece mais benigno e estável e vemos um cenário internacional e emergentes com potenciais beneficiários dessa tendência.”

Eleições

As eleições de 2026 também entram no radar, sobretudo porque a trajetória da dívida pública permanece forte, com déficit primário estimado em 0,8% neste ano. Porto afirma que a avaliação dos investidores dependerá de como os candidatos serão percebidos em termos fiscais.

O grande ponto é que as promessas de gastos podem piorar as expectativas dos investidores e pressionar o câmbio, enquanto agendas mais responsáveis podem atrair fluxo e fortalecer o real.

A política fiscal é insustentável no longo prazo, o que significa dizer que gastos maiores aceleram a economia e, consequentemente, a inflação, dificultando a situação do BC. Mas o que ampara o cenário de corte de juros mesmo nessa situação são os três fatores – inflação menor, dólar mais fraco e economia arrefecida pelo juro elevado – e a leitura de que não haverá uma piora significativa nos gastos.

“A gente sabe que a dívida do Brasil está subindo, e isso eleva o risco de ter mudança na tolerância do investidor a ativos de risco, mas isso não faz parte do nosso cenário-base”, diz. “Se isso se reverter e o investidor ficar avesso ao risco, isso levaria o câmbio a se estabilizar em patamar mais desvalorizado.”

Do ponto de vista político, o Citi vê o presidente Lula como o candidato hoje melhor posicionado, dado seu nível de popularidade maior do que o de Bolsonaro em 2022 e um ciclo econômico que tende a ser mais benigno no ano que vem, com inflação perto de 3,8% e juros em queda.

A dificuldade da direita em apresentar um nome competitivo reforça essa leitura. Ainda assim, o executivo ressalta que a política econômica dependerá não só do presidente, mas também do desenho final da coalizão vencedora.