Gestores ouvidos pelo InvestNews afirmam que tentar reaver uma parte do prejuízo em situações de default é algo viável porque, em um processo de recuperação judicial – o destino mais próximo da Ambipar –, ainda há um portfólio de ativos e recebíveis que poderão ser convertidos para o acerto de contas.
É um tipo de estratégia, porém, que depende da capacidade do investidor de acompanhar a evolução do caso de perto. O próprio detentor dos papéis – entre debêntures e bonds (dívida emitida no exterior) – precisa identificar um momento mais propício para negociá-los no chamado mercado secundário, em que o título é colocado à venda a outro interessado por meio de uma corretora. Só que, para não perder ainda mais dinheiro, é preciso saber se as condições da empresa estão melhorando ou não.
As debêntures da Ambipar vêm oscilando bastante no mercado secundário enquanto os investidores aguardam os próximos passos. Os papéis estão sendo negociados a um valor de face de 11,4% – o mesmo que dizer que um título emitido a US$ 1 hoje vale de US$ 0,11 no mercado. É um avanço em relação ao nível de 8% a 9% registrados nos últimos dias, mas uma piora frente à semana anterior, quando estavam entre 12% e 15%.
A leitura dos especialistas é de que existe espaço para que o investidor recupere uma parte dessas perdas – mas que o processo deve ser “longo e dolorido”.
A possibilidade de “reduzir os danos” levou algumas casas a estudar a estruturação de fundos especificamente para isso. As iniciativas ainda estão em fase de análise porque a situação da empresa é sensível e não houve uma confirmação de qual o caminho será adotado para acertar as contas.
A prioridade seriam fundos de debêntures, porque há muitas pessoas físicas com esse papel em carteira.
No caso dos bonds, títulos de dívida emitidos no exterior, a parcela de detentores diretos é menor, mas o impacto também foi grande porque uma fatia significativa dos investidores comuns tinha exposição indireta à empresa, por meio de instrumentos que davam acesso aos papéis – é o caso dos Certificados de Operações Estruturadas (COEs), liquidados antecipadamente quando os problemas explodiram.
Na liquidação antecipada, o bond é vendido ao preço que o mercado está negociando no momento – com enorme desconto em relação ao valor de face, no caso – e o dinheiro é devolvido ao investidor, com prejuízo. O InvestNews antecipou esse risco e confirmou as perdas de até 93% dos investidores com o caso.
Os debenturistas e os detentores de bonds estão diretamente expostos ao risco da Ambipar não honrar os pagamentos acordados – é o chamado risco de crédito. No caso do COE, mesmo não tendo adquirido diretamente títulos de dívida, o risco é o mesmo, porque o chamado ativo subjacente que está dentro do produto eram justamente os bonds. Diante disso, todos esses grupos podem ser aglutinados em um mesmo fundo, que compraria os títulos no mercado secundário para tentar reaver as perdas.
Uma tentativa de recuperar o dinheiro perdido, porém, precisa de cuidados adicionais – algo ainda mais importante para um credor que queira carregar os títulos à espera de uma solução melhor para a situação da Ambipar. Seria uma estratégia semelhante ao que acontece em gestoras de ações ativistas, que são aquelas com participação vocal na companhia e representação no conselho para defender os interesses dos investidores.
É o tipo de operação que requer monitoramento diário e com uma atuação especializada e, inclusive, assistida por advogados. Um fundo com um papel ativo permitiria que um gestor qualificado participasse ativamente de assembleias de credores para tentar maximizar os retornos durante a reestruturação. Isso é especialmente importante porque acompanhar as informações sobre a evolução do caso e os preços dos títulos é um processo difícil para a pessoa física.
A Ambipar entrou em uma espiral negativa depois que obteve uma medida cautelar na Justiça para protegê-la da execução de dívida dos credores, um estágio anterior a um processo de RJ. O ponto de partida foi um empréstimo com o Deutsch Bank de US$ 35 bilhões contraído em setembro. A proteção contra credores termina no dia 25 de outubro e é renovável por mais 30 dias, mas a companhia pode protocolar um pedido de RJ antes do fim do prazo, a qualquer momento.