Menos de um ano depois de ultrapassar a linha vermelha dos R$ 6,00, o dólar acumula uma queda de 11% em 2025 e já chegou a tocar o menor nível junho de 2024.

Se você vai viajar daqui a alguns meses, então, pode justamente surgir a dúvida: aproveito essa maré de baixa para comprar os dólares de uma vez só? Melhor não. A estratégia mais eficiente continua sendo a do “câmbio médio“. Ou seja: fazer compras regulares de moeda, de agora até pouco antes de o seu avião decolar – e obter aí a cotação média do período. Pode fazer uma bela diferença, como vamos ver mais adiante.

Mas vamos começar pelo básico: para fazer câmbio médio basta dividir o valor que você planeja levar pelo número de meses até a viagem. Por exemplo, se você vai para os EUA no começo do ano que vem e quer levar US$ 10 mil, pode adquirir US$ 833 a cada 15 dias ou US$ 1,67 mil a cada mês ao longo dos próximos seis meses.

Não é só isso. A estratégia do câmbio médio, hoje, recebe uma ajuda que não vemos há quase 20 anos: um juro no maior nível desde 2006. Combinar o retorno elevado de investimentos indexados à Selic com uma compra de dólares (ou de qualquer outra moeda) de maneira recorrente vai ajudar no orçamento da viagem.

Com a Selic em 15% ao ano, o retorno do CDI, que segue a taxa básica na alegria ou na tristeza, na saúde ou na doença, rende 1,17% ao mês. É basicamente isso que você vai conseguir em qualquer investimento que renda 100% do CDI – fundos DI, CDBs de liquidez diária, “Caixinhas”, “Cofrinhos”…

Para ficar mais claro, vamos usar aquele exemplo dos US$ 10 mil em seis parcelas de US$ 1,67 mil, assumindo uma cotação média da moeda americana em R$ 5,44 nos próximos seis meses.

E agora, para facilitar as contas, vamos dizer que você aplicou agora justamente R$ 54,4 mil – o necessário para adquirir US$ 10 mil sob o câmbio médio que assumimos aqui. Depois do primeiro mês, seus R$ 54,4 mil se transformam em R$ 55 mil (veja melhor na tabela abaixo).

A partir daí, basta comprar US$ 1,67 mil por mês durante os seis períodos seguintes para atingir a meta. No fim desse tempo, você vai verificar que a aplicação rendeu R$ 2,2 mil a mais, que equivalem a US$ 425 extras no orçamento da viagem. Ou seja, um “plus” de 4,25%.

Um ganho de 4,25% em seis meses é algo significativo. Para a variação cambial anular esse retorno, o dólar precisaria subir a ponto de o seu câmbio médio ficar em R$ 5,66. Ou seja: a moeda americana teria de estar próxima de R$ 6 até o final do ano.

Esse cenário, no entanto, parece menos provável em meio a expectativas de corte de juros nos EUA (que pressionam o dólar para baixo), e a alta do endividamento americano (que torna os títulos públlicos deles menos atraentes e, portantanto, também pesam contra o dólar).

Essa alta para além da Selic pode acontecer, claro. “Não é uma valorização impossível, mas, na verdade, o mercado alimenta a expectativa de o dólar se manter fraco nos próximos meses”, afirma Michael Viriato, estrategista-chefe e sócio da Casa do Investidor.

Mais importante: a estratégia do câmbio médio seguiria vencedora nessa situação. Ela existe justamente para proteger o seu bolso das altas da moeda americana.

Pela trajetória que o mercado imagina para a Selic, o câmbio médio tende a funcionar em modo turbo se a viagem for para daqui a um ano. O Banco Central já avisou que, na ausência de surpresas, deve manter a Selic em 15% “por um período bastante prolongado”.

A aposta do Boletim Focus, a pesquisa semanal do BC com agentes do mercado, é de que a taxa básica feche 2025 em 15% – e termine 2026 ainda em 12,5%. Vamos considerar, então, que a Selic média para os próximos 12 meses fique em 14%.

Para anulá-la, o câmbio médio desse período teria de saltar para R$ 6,20. Isso significaria um “câmbio final”, o do último mês, com o dólar R$ 6,84. É algo bem distante do que o Focus imagina. A projeção ali é de R$ 5,70 para o fim do ano que vem.

A proteção do câmbio médio

Mas por que fazer câmbio médio, alguém poderia perguntar. Não seria mais fácil deixar o dinheiro aplicado até a véspera da viagem e converter de uma vez o investimento em moeda estrangeira? Não, já que ninguém sabe como o câmbio vai se comportar no futuro. Aguardar até a véspera, no caso, equivale a fazer uma aposta. Pode dar certo se o dólar cair, e pode dar errado se ele subir – ou muito errado se a moeda americana disparar enlouquecidamente, como aconteceu no fim do ano passado.

Em 2024, por exemplo, o dólar começou o ano em R$ 4,84 e fechou dezembro cotado a R$ 6,18, com uma alta de 27%. Só na segunda metade do ano, a valorização da moeda americana atingiu 10,75%.

Quem fez compras de dólares mensais entre julho e dezembro de 2024 obteve um câmbio médio de R$ 5,78. Já aqueles que resolveram comprar a moeda americana no fim de dezembro amargaram os R$ 6,18, ou seja, 7% acima da cotação média.

Isso sem considerar você também poderia também ter aproveitado o juro elevado no período da mesma forma que agora. Nesse caso, ao combinar o dólar médio e a renda fixa atrelada ao CDI, você teria conseguido um ganho de 10,5% acima de quem converteu os reais só no fim do ano e não investiu nada previamente (usou o 13º salário, por exemplo).

Ou seja: pode parecer tentador torcer para o dólar baixar até chegar bem perto da sua viagem. Mas aí é só torcida mesmo. A única atitude 100% racional é mesmo fazer o câmbio médio. E melhor ainda quando você puder casar essa estratégia com a renda fixa.

Agradecimento: Patrícia Palomo, planejadora financeira CFP