Listada na bolsa desde fevereiro, a empresa de valorização de resíduos Orizon (ORVR3) já possui planos ambiciosos de triplicar seu tamanho até o primeiro semestre de 2022. Em entrevista ao InvestNews, seu CEO, Milton Pilão, explica que o volume de aquisições em aberto representa cerca de duas Orizon — considerando os 7 aterros recém-adquiridos da Estre Ambiental e mais 20 no radar de negócios (pipeline) que devem se consolidar até o segundo trimestre de 2022.
Além destas aquisições, há ainda oportunidades com a geração de biogás e venda de créditos de carbono, projetos que fazem parte do que Pilão define como a “segunda onda de crescimento da Orizon”, etapa que promete levar a companhia do “lixo ao luxo”.
Embora seja um setor sem muito charme, focado na destinação e valorização dos resíduos, o CEO da Orizon diz que encontrou no lixo uma certa beleza que, segundo ele, torna este segmento um dos vencedores para o investidor de médio e longo prazo.
Pilão afirma, por exemplo, que a principal beleza do setor é a barreira de entrada. Para transformar um aterro sanitário em um ecoparque, são necessários oito anos para obter licenciamento. Após este processo, pode ter uma vida útil de até 40 anos. “Ecoparques são geradores de receita de longo prazo”, explica.
Já o aterro sanitário é utilizado apenas para a destinação final do lixo, onde as empresas responsáveis são remuneradas por tonelada. No ecoparque, são utilizadas diversas tecnologias e processos para valorizar os resíduos que chegam até os aterros. É possível, por exemplo, gerar biogás a partir da decomposição do lixo, e vendê-lo no mercado, para ser transformado em energia elétrica ou gás natural.
A partir destes processos, é possível implantar também um sistema de geração de créditos de carbono, que também geram receita para a Orizon, evitando que o metano gerado pela decomposição do lixo vai para a atmosfera.
Pilão explica que em média 30% dos resíduos que chegam aos aterros são reciclados, e por meio de Unidades de Triagem Mecanizadas, podem servir de insumo para produzir plástico, papel, vidro e revendidos para a indústria.
O CEO da Orizon destaca também na entrevista a perenidade do negócio, uma vez que sempre existirá lixo gerado independentemente da situação política, fiscal, econômica e até sanitária do Brasil. “É por isso que nossas ações performam bem mesmo em um cenário catastrófico como o atual”.
Segundo dados da Economatica Brasil, desde seu IPO até o fechamento de 2 de dezembro, as ações da Orizon (ORVR3) valorizaram 1,36%. No mesmo período, o Ibovespa acumulou queda de 12,53%.
Em entrevista ao InvestNews, o CEO da Orizon revela os próximos passos da nova onda de crescimento da companhia e quando as aquisições devem fazer parte da receita desta. Confira:
Esta entrevista faz parte do quadro do InvestNews CEO Responde, que traz cinco perguntas sobre as principais dúvidas do mercado sobre negócios de capital aberto. Confira o que já foi publicado:
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InvestNews – Quantos aterros e ecoparques a Orizon tem hoje? Eles são responsáveis por quantas toneladas de lixo?
Milton Pilão – Hoje a Orizon não possui mais aterros sanitários, atualmente temos 5 ecoparques. Embora não sejam muitos, são de grande porte, e com eles gerimos o lixo de quase 20 milhões de habitantes no Brasil. Todos os nossos ecoparques se encontram em áreas extremamente populosas.
O primeiro é o ecoparque de Nova Iguaçu, que fica instalado na cidade de Nova Iguaçu na baixada fluminense. Este ecoparque recebe aproximadamente 1,5 milhão a 1,8 milhão de toneladas de lixo ao ano da população que fica no entorno. Por exemplo, as cidades de Duque de Caxias, Nova Iguaçu, além de diversas indústrias e geradores de lixo na região.
Ainda na região do Rio de Janeiro, temos o ecoparque de São Gonçalo, que atende toda a população de Niterói, São Gonçalo, Maricá, Guapimirim. Ele recebe algo em torno a 800 mil toneladas de lixo por ano.
Temos também o aterro de Barra Mansa, também no Rio de Janeiro, que atende principalmente a indústria automobilística e siderúrgica da região, altamente geradora de resíduos. O ecoparque recebe cerca de 409 mil toneladas por ano de resíduos.
Além destes, temos o ecoparque de Jaboatão dos Guararapes que atende Recife e a região metropolitana, incluindo Jaboatão dos Guararapes, Recife, Cabo e as indústrias geradoras de resíduos da região. Este ecoparque recebe 1,7 milhão de toneladas de lixo ao ano.
E o nosso quinto ecoparque é o de João Pessoa, no estado de Paraíba, que atende João Pessoa e a região metropolitana. O ecoparque recebe 800 mil toneladas de lixo ao ano, das cidades ao redor e das indústrias. Estes ecoparques são os principais ativos da Orizon e representam a maior parte da nossa receita.
No acumulado de 2021 (até setembro), estes cinco ecoparques foram responsáveis por uma receita operacional líquida de R$ 280,1 milhões.
IN$ – Recentemente, a Orizon adquiriu 7 aterros sanitários da Estre Ambiental, por R$ 840 milhões. Onde se encontram e quando vão contribuir com a receita da companhia?
Milton Pilão – Os sete aterros sanitários se encontram bem-posicionados. Três estão no estado de São Paulo, nas cidades de Paulínia, Tremembé e Itapevi.
O aterro de Paulínia recebe em média 1,8 milhão de toneladas de lixo ao ano, o de Tremembé na faixa entre 700 mil e 800 mil toneladas e o aterro de Itapevi é pequeno, recebe cerca de 200 mil toneladas por ano.
Fora São Paulo temos o aterro de Aracajú, que recebe cerca de 850 mil toneladas e o aterro de Maceió com 800 mil toneladas/ano.
Além destes, tem o aterro de Itaboraí no Rio de Janeiro- um aterro pequeno focado em resíduo hospitalar e industrial – e o aterro em Aparecida de Goiânia, no estado de Goiás, que está no começo da sua operação.
Somado a estes 7 aterros, adquirimos também uma planta de coprocessamento industrial chamada Resicontrol, que fica na região de Sorocaba (SP), que só recebe resíduos industriais.
A Orizon está aguardando o processo judicial para homologar estas aquisições, que deve finalizar na segunda quinzena de fevereiro. Então, a expectativa de que estes 7 aterros entrem nas nossas operações é entre fevereiro e março de 2022.
Em relação a receita, a partir de 1º de março de 2022 os aterros já começam a integrar o nosso balanço, porque são operações que já geram receita, ebitda.
Pelas projeções da Orizon, estes 7 novos aterros vão agregar R$ 120 milhões de reais ao ebitda da companhia. Lembrando que este valor representa os aterros, se a gente transformar em ecoparques a valorização é muito maior.
Se convertidos em ecoparques, minimamente dobraríamos essa geração de ebitda, além do valor agregado com créditos de carbono, reciclagem e biogás.
Então o investidor só vai conseguir enxergar a receita em cheio destes 7 novos aterros no balanço da Orizon do segundo trimestre de 2022, com impacto leve ainda em março, no primeiro trimestre.
IN$ – Em relação às aquisições, dos R$ 554 milhões levantados no IPO, vocês destinaram R$ 381,3 milhões para este fim. Como foi utilizado este recurso e quantas aquisições a Orizon tem no radar?
Milton Pilão – Esse montante de R$ 381 milhões vai ser desembolsado para pagar os 7 aterros da Estre, a Orizon ainda não pagou porque esse recurso é desembolsado apenas na emissão da posse dos ativos.
Além desses recursos, estamos fazendo a emissão de uma debênture de infraestrutura incentivada de R$ 500 milhões, que também serão adicionados ao caixa junto com os recursos do IPO.
Se você enxergar esses números pode dar a impressão de que a Orizon vai zerar todo o caixa na compra dos 7 aterros, no valor de R$ 840 milhões, mas a realidade é diferente por alguns fatores: um terço dessa compra será feito com recursos do caixa da companhia, outro terço ocorre via financiamento que por sua vez será pago com a receita que estes ativos vão gerar, e por último tem uma parte que será paga com ações da Orizon.
O uso de ações nesta operação vai diminuir a nossa alavancagem (endividamento) para que continuem sobrando recursos para manter o caixa da Orizon robusto e focar em outras aquisições.
No nosso radar temos 20 novos ativos, fora os 7 aterros da Estre. Temos a compra de 4 ativos – que podem ter mais de 1 aterro dentro deles- e outros 13 aterros. Somados os novos aterros devem agregar mais R$ 120 milhões de ebitda para a Orizon. Estes 20 novos aterros estão presentes nas regiões Sul, Nordeste, Centro-Oeste, e Norte, em localidades ainda não contempladas pela Orizon.
Em relação aos 4 ativos, que incluem alguns aterros junto, nossa projeção é conseguir executar essa compra até o final de 2021. Depois desta aquisição, esperamos ter mais duas ao longo de janeiro e consolidar a quarta em fevereiro.
Já os 13 aterros restantes também seguem esta programação de até fevereiro de 2022, esperamos consolidar todas essas aquisições no balanço do segundo trimestre do próximo ano.
O nosso volume de aquisições é de quase duas Orizon, considerando apenas os 7 aterros da Estre já dobraríamos de tamanho, fora os 4 ativos no pipeline.
IN$ – Pode explicar como a Orizon pretende produzir energia renovável do lixo e como vão ganhar dinheiro com isso?
Milton Pilão – A energia do lixo é considerada a mais limpa por diversas razões. Primeiro porque ela tem o cunho da economia circular, está transformando algo que virou lixo em energia que vai voltar e circular no mercado e é considerada renovável, como a solar, eólica e hidroelétrica.
No quesito vantagens, a energia do lixo não depende de questões climáticas, nem de chuva, sol ou vento, esta é gerada 24horas por dia e 365 dias no ano, porque resíduos nunca deixam de ser produzidos, então é uma energia mais eficiente.
Se eu tenho 100 megawatts (MW) de energia do lixo significa que tenho 300 MW de energia elétrica, 400 MW de solar, etc.
Outro diferencial é a proximidade dos centros de utilização, sem depender muito de redes de distribuição. As geradoras de energia eólica, solar, hidroelétrica sempre ficam distantes dos centros de utilização, isso não ocorre com a energia dos resíduos, que está sempre perto de onde será utilizada. Você economiza redes de distribuição.
E como a Orizon ganha com isso? Essa energia do lixo vem do biogás, que é gerado pela decomposição do resíduo, por meio de sistemas de captação que transformam e purificam o biogás, para gerar energia ou até mesmo gás natural. Mas ambos os processos requerem muito investimento, que antes do IPO a Orizon não tinha.
Nós trabalhávamos com parceiros, que investiam nos motores necessários para a transformação enquanto a Orizon investia na captação do biogás, as receitas eram divididas pela atuação de cada um.
Quando falo da próxima onda de crescimento da Orizon, já que estamos comprando todo esse volume de aterros, existem dois caminhos: ou contratávamos parceiros para investir na transformação e vendíamos o biogás ou montávamos uma empresa para nós mesmos fazer essa transformação.
A Orizon escolheu a segunda opção, por isso teremos uma área conhecida como molécula renovável para captar investimentos e ter contratos de compra de biogás dos nossos aterros que serão transformados em energia ou gás renovável.
É aí que ocorre essa grande onda da Orizon, que vai agregar um ebitda muito relevante para a companhia. Eu brinco que seremos a Raízen da Cosan, mas adaptado ao setor de lixo.
Nossa empresa de gás e energia vai ter um banco de lixo da própria Orizon como garantia de fornecimento da matéria prima para gerar esses insumos. Essa nova onda deve ocorrer após a consolidação dos novos aterros adquiridos, a partir do segundo semestre de 2022.
IN$ – O crédito de carbono também é oportunidade para a Orizon? Quanto de receita pode agregar à companhia?
Milton Pilão – A Orizon é uma grande geradora de crédito de carbono, por causa das operações de decomposição de resíduos e transformação do biogás em energia renovável.
Todos os nossos projetos são homologados pela ONU. E por causa disso, os nossos ecoparques são auditados por organizações internacionais que por sua vez geram certificados de carbono por tonelada.
A Orizon gera em média 2,1 milhões de toneladas de carbono que são evitadas por ano. E o que fazemos com esse carbono evitado? Vendemos no mercado, que pode ser voluntário ou regulado.
No passado, as vendas ocorriam na sua maioria no mercado voluntário, que basicamente funciona da seguinte forma: as indústrias têm suas metas de emissão e vão voluntariamente a este mercado a comprar crédito de carbono de quem gera para conseguir pagar a pegada de carbono deles.
Nos últimos anos a Orizon vendeu créditos de carbono para o Banco Mundial, bancos de fomento, governos europeus, empresas de primeira linha, entre outros.
O preço de cada tonelada de carbono, em 2020, era de 2 dólares e 30 centavos. Fazendo uma conta rápida considerando nossos 2 milhões de toneladas, o lucro era de até R$ 25 milhões de receita anual apenas com a venda de crédito de carbono.
Mas qual é o potencial futuro? A COP26 em Glasgow trouxe ótimas novidades, com o acordo 6.4 que cria um novo mercado de carbono. Ou seja, a possibilidade de vender carbono entre países para que eles possam utilizar na contabilidade das suas metas de emissão de metano evitado e CO2.
Esse acordo permite que o mercado regulado volte a funcionar. E qual a diferença entre o mercado voluntário e o regulado? É que no regulado as empresas que estão comprando têm metas imputadas por leis nacionais, ou seja, são obrigadas para evitarem multas, ter incentivo fiscal entre outros.
Quando existe esta obrigação, o custo dos créditos de carbono é maior. Se no mercado voluntário a média por tonelada de carbono é 5 dólares, no mercado regulado este valor salta para 50 dólares por tonelada.
Em fevereiro de 2022, a ONU deve soltar uma normativa aprovando esse acordo e empresas como a Orizon vão poder pedir autorização para o governo brasileiro de vender estes créditos para a Europa, com um preço muito superior do que o atual.
Fazendo um cálculo, a Orizon tem 2 milhões de toneladas de carbono, com esses novos aterros adquiridos a nossa previsão é pular para 5 milhões de toneladas.
Nem precisa considerar os 50 dólares por tonelada, imagine apenas que o custo seja 10 dólares, considerando os 5 milhões de toneladas estaríamos falando de uma receita de 50 milhões de dólares ou 250 milhões de reais.
No melhor dos cenários, a receita da Orizon explode e no pior dos cenários teremos um grande salto na companhia a partir dos créditos de carbono. A nossa demanda vai aumentar brutalmente, seja no mercado voluntário ou no regulado.