O presidente do BNDES, Aloizio Mercadante, afirmou no início da tarde desta sexta-feira (19), que o governo federal pretende criar novas medidas de auxílio às companhias aéreas, que ainda enfrentam os efeitos da pandemia na área, mas que existe a expectativa de que a contrapartida seja de que essas invistam na compra de aviões da Embraer.
“Precisamos apoiar essas empresas, mas elas precisam comprar aviões da Embraer. Essa é uma condição fundamental para todo o esforço que o governo está fazendo de repactuar o passivo fiscal, de financiar, mas nós precisamos trazer aviões da Embraer” disse o Mercadante, durante anúncio de investimentos na companhia brasileira nesta manhã, em São José dos Campos (SP).
O BNDES financiará R$ 4,5 bilhões em exportações da Embraer, através de 32 aeronaves que serão vendidas à American Airlines, dos Estados Unidos. Nos últimos 25 anos, o banco de fomento financiou a exportação de 1.300 aeronaves fabricadas pela empresa brasileira.
O ministro de Portos e Aeroportos, Silvio Costa Filho, reforçou a posição de Mercadante. De acordo com ele, a Embraer precisa ter no mercado brasileiro a presença que a Airbus tem no mercado francês, por exemplo. Hoje, segundo ele, 12% dos aviões em circulação no Brasil são fabricados pela Embraer. “No governo do presidente Lula, nós vamos mais que dobrar a participação dos aviões da Embraer voando pelo Brasil (sic)”, disse Costa Filho.
Tanto Costa Filho quanto Mercadante não detalharam como seria um possível estímulo à compra de aviões da Embraer por aéreas brasileiras. O ministro de Portos e Aeroportos disse que esse crescimento é um ponto a que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva pediu atenção no início de seu governo.
O vice-presidente da República e ministro da Indústria, Geraldo Alckmin, também exaltou a Embraer, e disse que a reforma tributária pode estimular as exportações brasileiras. “A reforma tributária retira cumulatividade, o que estimula exportação e investimento”, disse ele.
Boeing x Embraer
Aloizio Mercadante afirmou que, após desistir de comprar a divisão comercial da Embraer, a Boeing tem feito um “ataque” contra a companhia brasileira em busca de talentos da área. As reclamações ocorreram pouco após o anúncio do governo de novo financiamento para a companhia e foram ecoadas pelo CFO da empresa, Antônio Carlos Garcia.
As críticas não foram veladas, nem se limitaram à conversa com jornalistas. No púlpito, tanto Mercadante quanto o presidente Luiz Inácio Lula da Silva pontuaram o alívio de o negócio não ter se concretizado anos atrás.
“Graças a Deus, não foi praga minha nem nada, não deu certo. E a Embraer está aqui outra vez”, reiterou Lula. “Como é que pode alguém achar que é só vender?”
Mercadante e Garcia disseram que é normal existir concorrência, mas acrescentaram ser problemática a forma como a Boeing tem lidado com o tema – e defenderam, assim como o presidente Lula, o investimento no mercado nacional.
“Não temos nada contra mercado livre de empregos, mas é preciso investir no Brasil”, disse Garcia em coletiva de imprensa.
Latam e Gol
As companhias aéreas Latam e Gol estão “bem avançadas” em discussões para incorporarem aviões da Embraer às suas frotas, afirmou o presidente do BNDES.
“Já estão bem avançadas nesse diálogo. Evidente que nós temos sigilo comercial, não podemos entrar em detalhes, mas as empresas estão bem avançadas na perspectiva de voar Embraer”, disse Mercadante, citando os nomes de Gol e Latam.
“Algumas dependem da sua matriz, é o caso da Latam, contrapartidas, outras coisas que estão sendo discutidas, mas está bem avançado esse diálogo”, acrescentou.
A Gol historicamente é cliente apenas da norte-americana Boeing, que tem atrasado a entrega de aviões e enfrentado uma série de problemas de qualidade de produção, e a Latam possui jatos Boeing e da europeia Airbus em operação.
Latam e Gol não puderam comentar o assunto de imediato.
Em junho, o presidente da Embraer, Francisco Gomes Neto, afirmou à Reuters que a companhia mantinha negociações no Brasil com Gol e Latam.
Feira na Inglaterra
Gomes Neto informou no evento desta sexta-feira que espera trazer da feira de aviação de Farnborough, na Inglaterra, novidades relacionadas ao cargueiro C-390, ao veículo elétrico de pouso e decolagem vertical (eVTOL), da subsidiária Eve; aos jatos comerciais E2 e também à sua área de serviços.
A feira inglesa acontece entre os dias 22 e 26 de julho, quando os fabricantes de aviões costumam anunciar o recebimento de grandes encomendas por companhias aéreas e empresas de leasing.
Na quinta-feira, a Embraer anunciou entregas de 46 aeronaves nos segmentos comercial e executivo no segundo trimestre, uma unidade a menos que o despachado a clientes um ano antes. A carteira de pedidos da fabricante encerrou junho em 21,1 bilhões de dólares, 22% acima do registrado no final do primeiro semestre do ano passado.
“Mostra que a gente está no caminho de crescimento”, afirmou o diretor financeiro da Embraer, Antônio Carlos Garcia, durante o evento.
“Terceiro trimestre e o quarto (trimestres) vão ser muito fortes, alguns solavancos ainda na cadeia de suprimento, mas a gente está muito confiante que vai atender os nossos ‘guidances’ para o mercado”, acrescentou o executivo.
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