Quem vive ou visita municípios fora dos grandes centros já se acostumou com alguns provedores de internet banda larga que não sejam Vivo, Tim, Oi e Claro. Marcas como Giga+, Vero, Algar, Brisanet e Desktop são mais comuns em cidades com menor densidade populacional. E, claramente, isso não é por acaso.
Juntos, esses provedores independentes, chamados de ISPs no mercado, formam uma maioria silenciosa na oferta de internet banda larga no país. Atualmente, 65% da internet de fibra oferecida no Brasil vêm dessas empresas. Dados mais recentes da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) mostram que existem mais de 7500 provedores de fibra óptica no Brasil e, desse total, somente 298 empresas (3,9%) possuem mais de 10 mil clientes.
É um mercado que, cedo ou tarde, precisará ser consolidado por empresas maiores até que restem alguns grandes grupos. Essa é a aposta da Alloha Fibra, maior provedor de internet de fibra óptica independente do mercado, que está de volta às aquisições e com quase R$ 800 milhões em caixa para investir.
A empresa, dona da marca Giga+, encerrou recentemente uma grande reorganização societária que levou mais de um ano para ser concluída. Mas que havia se tornado inevitável para os planos futuros da empresa, afirma Lorival Luz, CEO da Alloha desde julho do ano passado.
Luz, executivo que comandou a BRF por mais de três anos, desembarcou no provedor de internet de fibra óptica em abril de 2023, então como presidente do conselho, com a missão de integrar as mais de 20 empresas adquiridas pela Alloha desde 2018. Um emaranhado de 21 CNPJs, 83 sistemas e 9 marcas se transformou em 3 CNPJs, 17 sistemas e aposta em apenas uma marca comercial, a Giga+.
“Esse foi o primeiro mandato dado pelo conselho: arrumar a casa para voltar a crescer”, diz Luz, em entrevista ao InvestNews.
Consolidação
A onda dos ISPs no Brasil foi deflagrada em 2018, quando a Anatel alterou as regras para as Prestadoras de Pequeno Porte (PPP), empresas com até 5% de participação no mercado nacional, como é o caso da Alloha. Esse segmento de companhias obteve algumas vantagens em relação às grandes operadoras – por exemplo, nos custos regulatórios e em uma maior flexibilidade nas obrigações com os serviços de atendimento ao cliente.
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Essa menor barreira de entrada permitiu que fundos de investimento começassem a olhar para o serviço, que alia duas fortalezas que brilham aos olhos dos investidores: receita recorrente e margens atrativas (em torno de 50%). Em outra frente, não havia interesse das grandes teles em investir em áreas com menor densidade populacional, deixando mercado livre para empresas com perfil mais regional.
Esse ambiente todo dá oportunidade para empresas endinheiradas seguirem investindo no segmento. A própria Alloha voltou às compras no fim de outubro, com a aquisição da maranhense Atex, por R$ 73 milhões. A aquisição colocou mais 63 mil clientes à carteira da Giga+ e com estrutura para atender até 393 mil domicílios no Estado.
“É um movimento natural em que o super pequeno é comprado pelo pequeno, que, por sua vez, será comprado pelo médio… Em todo o lugar do mundo foi assim”, lembra Luz. Com uma base de 1,6 milhão de clientes, colada no top-3 do mercado, a Alloha segue de olho em provedores que tenham pelo menos 25 mil usuários.
Para avaliar se vale a pena ou não comprar uma determinada empresa, a Alloha leva em consideração a complementaridade em termos de região de atuação e o nível de concorrência nessa área, além da qualidade da rede da empresa-alvo. “Vale mais a pena para nós fazer do zero do que comprar uma empresa que tenha uma tecnologia muito antiga”, explica o executivo.
Reestruturação
A mudança promovida recentemente por Lorival Luz envolveu a criação de uma holding para organizar a participação societária das gestoras eB Capital e Neo Investimentos, que formam o bloco de controle, com os minoritários que detinham fatias de empresas compradas pela Alloha.
A partir disso, eB Capital e Neo ficaram com 70,2% de participação na holding, com 29,8% restante para os outros acionistas. Com as mudanças, a empresa ficou mais leve e agora tem estrutura mais simples para integrar totalmente uma nova adquirida em até seis meses, acelerando o ganho financeiro com eficiência operacional, as chamadas “sinergias”.
“Foi um grande processo de simplificação da estrutura, o que nos permitiu ter uma governança mais estruturada e alinhada às práticas do Novo Mercado [da B3]”, acrescenta o CEO, lembrando ainda que, recentemente, a Alloha obteve registro “A” na Comissão de Valores Mobiliários (CVM), o que a permite a realizar uma oferta pública inicial de ações (IPO, em inglês), caso tenha interesse.
Entre janeiro e setembro deste ano, já sob a gestão de Luz, o lucro líquido da empresa cresceu 48,9%, de R$ 30,5 milhões para R$ 45,4 milhões. Nesse período, a dona da Giga+ teve faturamento de R$ 1,25 bilhão, crescimento de 62,1% em relação a igual período do ano anterior (R$ 774 milhões).
Mercado movimentado
Embora existam muitas oportunidades na base, é o topo da pirâmide do mercado dos ISPs que está mais aquecido. Em julho do ano passado, a Vero e a America.net, empresas controladas pelas gestoras Vinci Partners e Warburg Pincus, respectivamente, fizeram uma fusão que criou o sexto maior provedor de fibra do país.
Mais recentemente, a Vivo, líder do mercado de fibra, confirmou que está em conversas com a Desktop, número 7 do país, para uma possível aquisição.
A própria Alloha contratou recentemente o UBS BB para estudar oportunidades de mercado. Chegaram a surgir rumores de que essa contratação teria o objetivo de viabilizar a venda da empresa – da totalidade ou de uma participação. Mas Luz negou que a empresa está à venda.
“Contratamos o UBS como nosso advisor. O mercado está em transformação e os próprios bancos de investimento nos ajudam a estudar todos cenários”, diz Lorival Luz. “Nosso objetivo é crescer, e isso pode ser de diversas formas: por sociedade, fusão ou IPO – só que não há nada decidido. São as condições de mercado que vão nos dizer”, reforça.
A Alloha é controlada por fundos de private equity, e Lorival Luz lembra que é da natureza desse tipo de investimento que as gestoras, neste caso eB Capital e Neo, venham a vender suas participações no negócio em algum momento. “Só que essa não é uma decisão nossa. O nosso papel é entregar resultados para, quando isso ocorrer, a gente tenha uma empresa ainda melhor.”
Lorival Luz chegou na Alloha a convite do ex-ministro Pedro Parente, um dos sócios da eB Capital, casa que ainda conta com o megainvestidor Marcelo Claure, Eduardo Sirotsky Melzer e Luciana Antonini Ribeiro. Luz e Parente repetem a dobradinha que fizeram na BRF entre 2019 e 2022, em que Lorival foi o CEO e Pedro, o presidente do conselho de administração. “A experiência do Pedro ajuda muito. A posição do CEO é solitária – e ele já viveu isso muitas vezes –, então nos passa tranquilidade para tomar a melhor decisão.”
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