Em seu plano de reorganização, a varejista tem dado prioridade em otimizar sua operação física, que cresceu 35,7% em volume de vendas (GMV, na sigla em inglês) no período. Ao fim de junho, a empresa tinha 1.521 unidades, 40 a menos que três meses antes.
Em entrevista ao InvestNews, Leonardo Coelho, CEO da Americanas, afirmou que a ideia é continuar se desfazendo de operações deficitárias, mas que a empresa está chegando em seu “ponto de equilíbrio” para, a partir daí, voltar ao plano de crescimento.
“O número ideal que temos em mente é em torno de 1.500 lojas. A gente ainda deve fechar outras ao longo dos próximos trimestres”, diz Coelho. A empresa previa abrir lojas este ano, mas diante do cenário macroeconômico, colocou o pé no freio. “Se acontecer, serão poucas; um volume [de aberturas] maior somente no ano que vem.”
Fundada em 1929 e mergulhada numa crise após a descoberta da infame fraude contábil com a manipulação de balanços para maquiar dívidas, em janeiro de 2023, a empresa partiu para uma recuperação judicial e tenta recuperar a credibilidade junto a investidores e consumidores.
Segundo Coelho, a empresa tem obtido um bom desempenho de vendas no Nordeste, mas ainda está patinando nas regiões Sul e Sudeste. “Neste momento, o Nordeste parece, para a gente, uma região mais resiliente, onde a marca penetra mais rapidamente. Ainda temos um trabalho a fazer no Sul, especialmente, e no Sudeste.”
Na busca por uma operação mais rentável, a direção da Americanas “não tem vergonha de pedir desconto e renegociar seus aluguéis”, segundo o executivo. Foi assim que obteve um desconto com o fundo imobiliário Max Retail de até 58% no valor a pagar por unidades no Nordeste. “Estamos fazendo o que é preciso para defender os interesses dos nossos acionistas, de uma forma geral, e da companhia, pensando no longo prazo.”
A lógica na renegociação dos contratos sãos as localização dos imóveis, menos atrativas em relação ao passado. Alguns pontos mais antigos estão localizados em praças que perderam potencial de vendas com o passar do tempo, como unidades nos centros de Vitória (ES), Recife (PE), Curitiba (PR) e Campo Grande (MS).”
Além da situação desafiadora da companhia, Coelho ressalta a dificuldade do varejo em prosperar frente a um cenário de juros altos e de novos “concorrentes”, como o mercado de apostas on-line. “Fatores como a taxa de juros alta há algum tempo, o endividamento das famílias e a pressão de gastos adicionais com bets e coisas do tipo acabaram drenando parte dos recursos que o cliente, especialmente das classes B e C, que é o nosso na loja física, tinha disponível para comprar.”
A volta dos cartões e um novo programa de fidelidade
Outrora relevante na emissão de cartões de crédito, a empresa voltou a investir em sua operação financeira. Antes isso ficava a cargo da Ame Digital, braço descontinuado com a recuperação judicial da companhia. A empresa não divulga o número de cartões emitidos nesta nova fase, mas está emitindo há três meses – em parceria com a administradora BrasilCard.
“A gente começou fazendo um teste para ver como isso impactava o nível de serviço em loja, para garantir que não tenha fila no caixa e tudo mais. Ficamos satisfeitos com esse primeiro piloto e começamos a ampliar agora”, afirma o CEO. “Estamos chamando essa área internamente de PCP. É a nossa maior área em termos de crescimento de resultados hoje.”
A empresa também deve lançar nos próximos meses um novo programa de fidelidade chamado “Cliente A”. Acoplado à plataforma de benefícios Dotz, a ideia é que os clientes possam amealhar pontos para obter descontos e comodidades nas lojas da empresa. “A gente quer premiar esse cliente recorrente que visita as nossas lojas todos os meses”, diz Coelho. “Com o lançamento do programa de fidelidade, provavelmente no terceiro trimestre, vamos acelerar o roll out de cartões de crédito também.”
Venda de ativos
A companhia ainda mantém alguns ativos à venda, o que faz parte do plano de recuperação judicial aprovado pelos credores. A empresa tem até fevereiro para conduzir o processo competitivo pelos ativos do hortifrúti Natural da Terra e pela Uni.co, dona das marcas Imaginarium e Puket.
Conforme antecipou o InvestNews, a empresa iniciou uma nova rodada de propostas pela rede de hortifrúti. O processo de coleta de ofertas não vinculantes, conduzido pelo BR Partners, deverá ser finalizado até o fim de agosto.
“O processo de M&A é um processo que demora alguns meses”, afirma a CFO, Camille Faria, sem dar detalhes sobre o processo de venda dos ativos. Ainda de acordo com a executiva, embora os ativos, em especial a Uni.co, operem de forma consistente, os negócios fogem da atividade dentral da Americanas. “Os esforços da companhia estão absolutamente focados para essa recuperação operacional.”