As vendas de artigos de moda e couro da LVMH caíram no quarto trimestre, lançando dúvidas sobre as perspectivas de uma rápida recuperação da demanda de luxo.

As vendas da principal unidade, que inclui as marcas Louis Vuitton e Christian Dior, caíram 1%, uma vez que os compradores ricos das festas de fim de ano permaneceram cautelosos. A receita geral da LVMH aumentou apenas 1%.

Ambos os números foram ligeiramente melhores do que as estimativas, mas decepcionaram os investidores após um relatório otimista da rival Richemont no início deste mês. A empresa suíça relatou vendas trimestrais mais fortes do que o esperado com as compras de suas joias Cartier e Van Cleef & Arpels, gerando esperanças de que o mercado de luxo estivesse saindo da estagnação. O Burberry Group proporcionou outra surpresa positiva na semana passada, aumentando o otimismo.

As ações da LVMH caíram até 6,7% em Paris na quarta-feira (29), depois de terem se recuperado mais de 30% em relação à baixa registrada em novembro passado. Os resultados derrubaram as empresas de luxo rivais, incluindo a Kering, proprietária da Gucci, que teve a maior queda desde julho, e a Moncler.

A atualização da LVMH levantou preocupações de que a recuperação do setor em relação à queda do ano passado – causada, em parte, pelo fato de os compradores chineses terem restringido as compras de alto padrão – pode ser lenta e desigual.

Houve “uma melhora, mas não na magnitude esperada”, disse Chiara Battistini, analista do JPMorgan, em uma nota.

As vendas na região que inclui a China caíram 10% no quarto trimestre, a única área geográfica que não apresentou crescimento. As vendas aumentaram 3% nos EUA – abaixo das estimativas – e 4% na Europa.

‘Recuperação gradual’

Na China, “o que eu espero é ver uma recuperação gradual”, disse o CEO Bernard Arnault durante uma apresentação na terça-feira (28). “O ambiente foi severamente impactado pela Covid, depois houve uma forte recuperação, seguida por outra crise – a crise imobiliária – então vai levar algum tempo.”

De modo geral, a situação global foi melhor no período, mas a tendência de melhora ainda precisa ser confirmada, disse o diretor financeiro Jean-Jacques Guiony.

O lucro da LVMH caiu, mesmo que a empresa tenha reduzido seus custos gerais de marketing em 5% no ano passado. O lucro operacional recorrente caiu 14% em 2024, para € 19,6 bilhões (US$ 20,4 bilhões), perdendo as estimativas. Os custos únicos tiveram um impacto, incluindo encargos relacionados aos Jogos Olímpicos de Paris, disse Guiony.

Ainda assim, houve sinais de resistência. As vendas da unidade de relógios e joias, que inclui a Tiffany e a Bulgari, aumentaram inesperadamente no quarto trimestre, mais uma evidência de que os compradores ricos estão preferindo os chamados itens de luxo pesado, em vez do luxo suave de bolsas e roupas de noite. As vendas da Tiffany aumentaram 9%.

Arnault adotou um tom otimista na apresentação. Ele disse que 2025 começou relativamente bem, com a Louis Vuitton registrando um crescimento de dois dígitos até agora neste ano.

Thomas Chauvet, analista do Citigroup, disse que o forte desempenho no início de 2025 “deve ser visto com cautela”, já que a Louis Vuitton lançou recentemente uma campanha de alto nível com o artista japonês Takashi Murakami, apresentando a estrela de cinema Zendaya.

Arnault também disse que está confiante de que a marca Dior, que está enfrentando dificuldades, fará progressos este ano e previu um mercado “em expansão” nos EUA, país que ele visitou na semana passada para a posse do presidente Donald Trump.

O negócio de vinhos e bebidas destiladas, que está em queda após um aumento na era da pandemia, poderá se recuperar nos próximos dois anos, disse ele. A venda da unidade de bebidas Moet Hennessy não está em pauta, acrescentou Arnault. A divisão terá uma nova equipe de gestão a partir da próxima semana, liderada por Guiony e pelo filho de Arnault, Alexandre.