O empreendedorismo é uma alternativa muito comum para mulheres que perdem espaço no mercado de trabalho após a licença-maternidade. Em 2015, a farmacêutica Dani Junco tentou essa saída para conciliar carreira e maternidade, mas levou um balde de água fria de uma aceleradora de negócios. “Me disseram que entre ser mãe e CEO eu teria que escolher, pela tarefa ser ‘full time’.” Ela decidiu, então, criar a própria aceleradora, voltada para mães que enfrentavam o mesmo dilema, e fundou então a B2Mamy.

Metade das mulheres brasileiras deixam o emprego um ano após o fim da licença-maternidade. Das que voltam, muitas acabam sendo demitidas – após um ano, 48% dessas mulheres deixam o mercado de trabalho, sendo a maior parte desligada das empresas sem justa causa. Os dados são da Fundação Getúlio Vargas (FGV), que pesquisou, junto ao Ministério do Trabalho, mais de 247 mil mulheres entre 25 e 35 anos que tiraram licença-maternidade entre os anos de 2009 a 2012. 

Segundo a pesquisa comandada pela economista Cecília Machado, a queda no emprego se inicia imediatamente após o período de proteção ao emprego garantido pela licença (quatro meses). A maior parte das saídas do mercado de trabalho se dá sem justa causa e por iniciativa do empregador. No entanto, os efeitos são bastante heterogêneos e dependem da educação da mãe: trabalhadoras com maior escolaridade apresentam queda de emprego de 35% um ano após o início da licença, enquanto o recuo é de 51% para as mulheres com nível educacional mais baixo.

O estudo indica que, no Brasil, a licença-maternidade de quatro meses não é capaz de reter as mães no mercado de trabalho, mostrando que outras políticas (como expansão de creches e pré-escola) podem ser mais eficazes para atingir tal objetivo, especialmente para proteger as mulheres com menor nível educacional. 

Para reduzir essas estatísticas, foi criada a B2Mamy, uma aceleradora de negócios que capacita e conecta mães ao ecossistema de inovação e tecnologia. O objetivo é reunir mulheres empreendedoras e suas ideias/empresas, para assim criar oportunidades de negócio. 

Fundada em 2016 por Dani Junco, A B2Mamy foi eleita em 2021 pelo Startup Awards, principal premiação do ecossistema de inovação do Brasil, como hub de inovação do ano. O negócio já tem em seu portfólio mais de 200 startups e pelo menos 30 mil mulheres já passaram por alguns dos programas de capacitação. Além disso, já foram movimentados dentro da rede ao menos R$ 6 milhões. 

Em entrevista ao InvestNews, a fundadora Dani Junco contou que a aceleradora nasceu com um chamado quando ela ainda estava grávida de sete meses de seu filho. À época (2015), ela comandava uma agência de publicidade focada no mercado farmacêutico, sua área de formação. 

“A B2Mamy começou com um questionamento do filho que eu ainda estava gerando: ‘mãe, por que você trabalha?’. Para mim, eu estava na rodinha do sistema e foi nesse período que me deu um start de colocar numa rede social minha angústia em equilibrar carreira e maternidade“, conta. 

Segundo Junco, ela se surpreendeu ao receber centenas de mensagens de mulheres que contavam estar na mesma situação. “Ou essas mulheres eram demitidas pelo sistema não empático após a licença-maternidade, ou faltava uma rede de apoio. E para muitas, o custo para manter essa rede se sobrepõe ao salário recebido”. 

Sendo assim, muitas optam por empreender, sendo esta uma outra “dor” vista por Dani e acolhida na B2Mamy. Foi conversando com outras mães que percebeu que muitas mulheres tinham ideias inovadoras, tecnológicas e escaláveis e que poderiam competir muito bem com outras ideias no mercado. Porém, mesmo o ambiente tecnológico sendo inovador, ele ainda era falho em dar condições para que mães pudessem empreender ao lado dos filhos. 

“Em 2016 eu pedi a uma aceleradora que acelerasse minha ideia, porém, o que recebi foi um balde de água fria”, lembra, dizendo que a resposta que teve foi a de que era preciso escolher entre ser mãe e CEO. “Ou seja: desse jeito que estava desenhado vi que não ia dar certo”. 

Atualmente, a B2Mamy é um celeiro de startups de mulheres. Foi em 2019 que o negócio ganhou um espaço físico após um crowdfunding que levantou R$ 200 mil em 40 dias com as próprias mães. 

Sediada no bairro de Pinheiros, em São Paulo, a casa é o único hub de inovação ‘family friend’ do Brasil, segundo Junco. São recebidas 60 mulheres diariamente, sem qualquer custo para aquelas em situação de vulnerabilidade. Já para as mães que já empreendem ou executivas, o custo para usar as dependências (coworking) é de R$ 1.500 ao ano, ou R$ 150 mensais – o que é uma fonte de faturamento para a B2Mamy.