A BHP e a Vale estão enfrentando uma ação judicial em Londres, movida pelo escritório de advocacia que representa centenas de milhares de pessoas afetadas pelo pior desastre ambiental do Brasil. O escritório alega que as empresas tentaram “trapacear” a firma em relação aos honorários advocatícios, através de acordos.

A diretoria da BHP informou que rejeitou as alegações “em sua totalidade” e que as contestaria. A Vale não quis comentar.

A Pogust Goodhead, que representa os reclamantes em um processo em andamento contra a BHP sobre o colapso da barragem de Fundão em Mariana (MG), em 2015, disse que buscará 1,3 bilhão de libras (US$ 1,7 bilhão) por honorários não pagos.

A empresa estava representando mais de 600 mil brasileiros no caso no Tribunal Superior de Londres. Uma apresentação feita em junho pela Samarco, joint venture da BHP e Vale, que operava a barragem, indicou que cerca de 130 mil pessoas haviam feito acordos.

Em uma carta enviada em nome da Pogust Goodhead, os advogados que representam a empresa alegam que a BHP, a Vale e a Samarco pressionaram os reclamantes a “fazer acordos sobre suas reivindicações por um valor muito abaixo do seu valor real“.

A Pogust Goodhead também alega que um acordo de compensação de R$ 170 bilhões (US$ 30,3 bilhões) que o Brasil assinou com a BHP, a Vale e a Samarco em outubro de 2024 impediu que os reclamantes discutissem o acordo com a empresa ou pagassem seus honorários advocatícios.

A empresa diz que também incorreu em um custo extra de US$ 1 bilhão em empréstimos para financiar o processo inglês sobre o colapso da barragem.

BHP

“Rejeitamos as reivindicações e alegações de Pogust Goodhead em sua totalidade e contestamos sua base factual e legal”, informou um porta-voz da BHP em comunicado.

“Essas alegações e ameaças de alegações são totalmente sem mérito e a BHP as rejeita e as contestará vigorosamente.”

O porta-voz da BHP apontou para o acordo de indenização do ano passado, dizendo: “Continuamos a acreditar que o Brasil é o local mais apropriado, eficaz e eficiente para a entrega da indenização pela falha da barragem de Fundão da Samarco”.

A ameaça de ação legal de Pogust Goodhead – em uma chamada “carta antes da ação”, que é exigida como parte do processo – é o mais recente desenvolvimento no litígio, depois que o Tribunal Superior no mês passado determinou que a BHP deveria enfrentar uma audiência por desacato ao tribunal por financiar um litígio paralelo no Brasil.

Enquanto isso, a BHP ainda aguarda a sentença após o julgamento do processo subjacente sobre o colapso da barragem, no qual a Pogust Goodhead disse que estava buscando indenizações de até 36 bilhões de libras.

Quando a barragem se rompeu em 2015, ela liberou uma onda de lama que matou 19 pessoas, deixou milhares de desabrigados, inundou florestas e poluiu toda a extensão do rio Doce.

O julgamento começou em outubro e terminou em março. A BHP nega a responsabilidade e diz que o caso duplica os procedimentos legais e os programas de reparação e reparo no Brasil.