Os bilionários acionistas majoritários da varejista brasileira Americanas (AMER3) estão argumentando durante negociações com credores que seus investimentos na empresa superaram as retiradas em cerca de R$ 1,6 bilhão nos últimos 10 anos, segundo pessoas familiarizadas com o assunto.
Jorge Paulo Lemann, Carlos Sicupira e Marcel Telles injetaram mais de R$ 2,4 bilhões por meio de aumentos de capital desde 2012, enquanto receberam R$ 785,1 milhões em dividendos e juros sobre capital próprio da empresa, disseram as pessoas, que pediram anonimato porque as negociações são privadas.
O trio alega que também perdeu seus investimentos de longa data na empresa depois que o valor de sua participação de 31% na Americanas afundou mais de 90% desde 11 de janeiro, segundo as pessoas.
Bilionários querem dividir perdas com credores
Os números fazem parte do argumento dos bilionários de que os credores devem dividir com eles a dor de resgatar a varejista, segundo as pessoas. Bancos como o BTG Pactual e o Bradesco sustentam que o trio é responsável pela queda da Americanas. Alguns argumentaram que sua forte ênfase no corte de custos pressionava os gestores a fazer com que as operações parecessem melhores do que eram.
Os maiores bancos do Brasil, que são os principais credores, estão exigindo que o trio invista pelo menos R$ 15 bilhões para salvar a empresa, argumentando que os bilionários são os responsáveis e até beneficiados pelo que chamam de fraude.
Os bilionários dizem não saber dos erros contábeis e até agora não ofereceram mais de R$ 6 bilhões, pedindo aos credores que também ajudem a Americanas a sobreviver, disseram pessoas a par das negociações. A empresa, com sede no Rio de Janeiro, disse no início deste mês que seus principais acionistas estão fornecendo R$ 1 bilhão.
Uma nova proposta era esperada em uma reunião com os bancos em São Paulo na manhã desta quinta-feira e organizada pelo sócio do Rothschild no Brasil, Luiz Muniz, que está trabalhando com a Americanas. Esperava-se a presença de representantes de bancos como Bradesco, Santander e BTG.
Telles, Sicupira e Lemann, que fundaram a empresa de aquisições 3G em 2004, têm uma fortuna total de US$ 39,2 bilhões, de acordo com o Bloomberg Billionaires Index.
As perdas dos bilionários na última década contrasta com os lucros acumulados pela equipe administrativa da Americanas desde 2013, disseram as pessoas. Altos executivos receberam R$ 690 milhões em remuneração desde 2013 e, no ano passado, venderam R$ 237,8 milhões em ações.
A Americanas entrou com pedido de recuperação judicial contra credores em 19 de janeiro, após mergulhar em uma crise no início do ano em meio a revelações de “inconsistências contábeis” de R$ 20 bilhões, que aumentaram artificialmente os lucros por um período de uma década e reduziram os passivos reportados em metade. A empresa deve R$ 42,5 bilhões a mais de 9 mil empresas e pessoas físicas, segundo sua lista de credores.
Veja também
- CVM acusa ex-CEO e outros sete ex-executivos da Americanas de uso de informações privilegiadas
- Sicupira e filho de Lemann deixam conselho da Americanas, diz fonte
- Em recuperação judicial, Americanas quer vender parte de ativos da fintech Ame
- Polícia Federal indica 41 ex-funcionários da Americanas em investigação sobre fraude
- Beto Sicupira lidera aporte do 3G para salvar a Americanas; desembolso foi de R$ 6,8 bilhões