O valor dos títulos de dívida da Braskem despencaram nesta sexta-feira (26) no mercado secundário — onde investidores compram e vendem entre si títulos já emitidos por empresas. Esse mercado funciona como um termômetro da confiança: quanto mais barato o papel é negociado, maior o risco de calote que os investidores enxergam na companhia.

Os papéis da Braskem com vencimento em 2031 chegaram a ser negociados a apenas US$ 0,42 para cada US$ 1 de valor de face — uma queda de até 16 centavos no dia, segundo a plataforma Trace. Em outras palavras, um título que nasceu valendo 1 dólar hoje só encontra comprador por menos da metade desse valor. 

O rendimento desses papéis (yield) saltou para 28% ao ano. Esse indicador mostra o retorno que o investidor exige para comprar a dívida: quanto maior, maior a percepção de risco.

Na mesma toada ficaram as ações da empresa na B3, que lideraram as quedas entre as companhias que compõem o Ibovespa. O papel preferencial da empresa fechou em forte baixa de 14,8% no dia, cotado a R$ 7,02. Para fins de comparação, o principal índice da B3 subiu 0,10%, aos 145.446 pontos.

A reação veio após a empresa anunciar a contratação de assessores financeiros e jurídicos para avaliar alternativas de reestruturação. Segundo comunicado, o objetivo é preparar um “diagnóstico de alternativas econômicas e financeiras” para otimizar sua estrutura de capital. O documento não cita os nomes dos assessores, mas, segundo o jornal O Globo, os escolhidos foram os escritórios Cleary Gottlieb e E. Munhoz Advogados, além do banco Lazard.

Crise dupla

A Braskem enfrenta um cenário difícil. O setor petroquímico sofre com excesso de oferta global e demanda fraca, pressionando margens. Além disso, a companhia ainda lida com os efeitos do desastre ambiental em Alagoas, causado pelo colapso de minas de sal exploradas pela empresa em Maceió — episódio que levou ao rebaixamento de sua classificação de crédito e ainda gera custos bilionários.

Refinaria da Braskem nos Estados Unidos
Refinaria da Braskem nos Estados Unidos(Bloomberg/Luke Sharrett)

Nos últimos meses, rumores sobre uma possível compra pelo investidor Nelson Tanure — conhecido por apostar em empresas em dificuldade — aumentaram a percepção de que uma reestruturação financeira pode estar no horizonte.

Rebaixamentos

A agência S&P Global Ratings rebaixou a nota da Braskem de BB- para B+, com perspectiva negativa. Na prática, significa que a agência enxerga risco maior de calote. 

Segundo a S&P, as medidas tomadas pela empresa para melhorar a rentabilidade e preservar liquidez podem não ser suficientes para conter a queima de caixa nos próximos trimestres.

Antes disso, Moody’s e Fitch já haviam reduzido a nota da dívida, após o fraco resultado do segundo trimestre revelar aumento do endividamento e consumo acelerado de caixa.

Não à toa, os títulos da Braskem acumulam perdas de 33% em 2025, uma das piores performances entre empresas de países emergentes. Para efeito de comparação, um índice da Bloomberg que acompanha companhias semelhantes no mesmo período mostra ganho de 7%.

Busca por crédito

A Braskem também iniciou conversas com um sindicato de bancos para renovar uma linha de crédito de US$ 1 bilhão que vence no fim de 2026, segundo fontes ouvidas pela Bloomberg. Esse tipo de negociação é importante para garantir que a empresa mantenha acesso a recursos e não dependa apenas do mercado de capitais.

“A falta de clareza sobre o futuro e a incapacidade da gestão em mostrar um caminho sólido já prejudicaram os títulos, e a notícia de hoje nos leva ainda mais perto de valores de recuperação teórica”, disse Eduardo Ordonez, gestor de carteiras de dívida na BI Asset Management, em Copenhague. “A paciência do mercado acabou.”