Foi nesse cenário que começou a circular no mercado uma informação capaz de devolver algum fôlego às expectativas: a possível venda das operações nos Estados Unidos, negócio estimado em cerca de US$ 1 bilhão.
Ao longo do dia, reduziram parte das perdas e eram negociados a R$ 8,32 no início da tarde, alta de 2,0% sobre o piso intradiário — um alívio parcial, mas insuficiente para mudar o tom negativo.
O balanço
No segundo trimestre de 2025, a Braskem registrou prejuízo líquido de R$ 267 milhões. A receita líquida foi de R$ 17,86 bilhões, pressionada por queda de volumes no México e pela redução de preços no mercado internacional.
O lucro operacional (Ebitda) recorrente despencou 77% em dólares na comparação anual, para US$ 74 milhões, com a margem Ebitda recuando para 2%, afetada pelo custo mais alto de matérias-primas em estoque. No período, a empresa consumiu R$ 1,45 bilhão de caixa.
A dívida líquida ajustada encerrou o trimestre em US$ 6,8 bilhões (R$ 37,1 milhões), e a alavancagem (dívida líquida ajustada pelo Ebitda dos últimos 12 meses) saltou de 6,79 para 10,59 vezes em um ano — patamar considerado insustentável para qualquer empresa.
A piora foi tamanha que justificou um rebaixamento pela agência Fitch do rating de crédito global da Braskem de “BB+” para “BB”, com perspectiva estável — sinal de que o mercado enxerga o endividamento elevado e a fraca geração de caixa como risco crescente.
Justamente no dia em que essa fotografia negativa foi apresentada, surgiu a informação – confirmada por fontes ouvidas pelo InvestNews – de que a Unipar fez um pedido formal para acessar as informações financeiras dos ativos da Braskem em solo americano.
Embora inicial, essa negociação pode representar uma alternativa para levantar capital em um momento em que a Braskem é cobrada por medidas mais contundentes para reequilibrar sua estrutura financeira.
Nos bastidores, integrantes da gestão reconhecem que o setor vive uma das fases mais desafiadoras das últimas décadas, com margens comprimidas, demanda fraca e excesso de oferta global. A leitura interna é de que o ciclo ainda deve demorar a virar, mantendo a pressão sobre caixa e estratégia.
Controle em disputa
A indefinição sobre o controle da Braskem segue no pano de fundo. A Novonor (ex-Odebrecht) ainda busca um comprador, com Nelson Tanure e a gestora IG4 na disputa, sob o olhar da Petrobras — que deverá ter a palavra final sobre qualquer acordo.
Fontes próximas à administração reconhecem que o impasse gera ruído e dificulta decisões de longo prazo na petroquímica, consumindo energia e foco da companhia.
Unipar tenta de novo
Com o interesse nas operações da Braskem nos EUA, a Unipar volta ao centro das atenções do setor químico. Não é a primeira vez. A empresa já tentou comprar o controle da própria Braskem e, mais recentemente, negociou um ativo industrial americano — sem sucesso.
Fontes de mercado dizem que a companhia tem apetite por ativos em terreno americano, mas avança com parcimônia. Desta vez, porém, o cenário mostra a empresa bem posicionada: a Unipar encerrou o primeiro trimestre de 2025 com R$ 1,48 bilhão em caixa e uma dívida líquida de R$ 959 milhões, resultando em uma alavancagem de 0,88x – estrutura de capital lhe dá fôlego para aquisições
Resta saber se o movimento vai além das sondagens — ou se será mais uma aproximação que não se concretiza.