A BYD adquiriu direitos de mineração sobre dois lotes em uma região rica em lítio no Brasil. Não foi agora, mas em 2023 – só que não tinham divulgado. A informação foi obtida pela Reuters, através da consulta de documentos públicos.
A maior montadora chinesa, e especialista em carros elétricos, tem um interesse óbvio no mineral. Ele é uma matéria-prima básica para a fabricação das baterias desses veículos.
A BYD já extrai lítio na China. Essa aquisição de direitos, até onde se sabe, é um de seus passos mais concretos até agora na direção de extrair lítio fora de sua terra natal.
A montadora criou uma subsidiária justamente para isso, a BYD Exploração Mineral do Brasil, registrada em maio de 2023, de acordo com os documentos públicos.
Os lotes de exploriação ficam em Coronel Murta (MG), a 800 km da fábrica da BYD em Camaçari (BA). Eles também são vizinhos de lotes de propriedade da mineradora americana Atlas Lithium.
A empresa “está em fase de pesquisa”, sem volume de movimentação financeira nem receitas operacionais.
A BYD não quis comentar o assunto.
A montadora já tinha comprado participações em grandes mineradoras chinesas. Fora de lá, foi uma das seis empresas autorizadas a dar lances em um projeto de lítio chileno, no ano passado, e delineou planos para uma fábrica de baterias de lítio no norte do Chile.
O Brasil evitou uma forte presença estatal em seu setor de lítio, ao contrário de outros países sul-americanos, até mesmo flexibilizando os controles de exportação do metal em 2022.
Suas melhores perspectivas de lítio são depósitos de rocha que se prestam à mineração tradicional, ao contrário da complicada extração em salinas na Argentina, na Bolívia e no Chile.
No ano passado, o Financial Times informou que a BYD teve negociações com a Sigma Lithium, maior produtora de lítio do Brasil, sobre um possível acordo de fornecimento, joint venture ou aquisição.
Vale do Lítio
Os direitos minerários da BYD cobrem 852 hectares (8,5 km²) no Vale do Jequitinhonha (MG), conhecido nos últimos tempos como Vale do Lítio.
O projeto vizinho da Atlas Lithium em Coronel Murta está em fase de pesquisa após um mapeamento geológico inicial da área, informou a empresa em seu site em junho.
O CEO da Atlas, Marc Fogassa, disse que soube da presença da BYD por meio de terceiros, mas nunca discutiu o assunto diretamente com a montadora. “Se eles investiram nessas duas áreas é porque viram o potencial e isso obviamente faz com que minhas áreas fiquem mais valiosas”, disse Fogassa à Reuters.
Coronel Murta fica a cerca de 825 km de distância, aproximadamente 12 horas de carro, do complexo no litoral da Bahia, onde a BYD está desenvolvendo a fábrica com capacidade para produzir 150 mil carros elétricos por ano.
Desde que adquiriu os direitos minerários, a BYD contratou a Minagem Geologia e Mineração, uma empresa brasileira de pesquisa mineral, mostram documentos públicos.
A Minagem disse que teria de pedir permissão à subsidiária da BYD para falar sobre o assunto.
De forma geral, pode levar de oito a 15 anos para que um projeto de mineração no Brasil inicie a produção se for considerado economicamente viável, de acordo com o advogado Luiz Fernando Visconti, do Visconti Law, escritório de advocacia especializado no setor de mineração.
(Reportagem de Fabio Teixeira no Rio de Janeiro, reportagem adicional de Luciana Novaes Magalhães em São Paulo)