Não é de hoje que se vê comparações envolvendo a China e outros países asiáticos. Enquanto alguns dizem que a Índia é a Nova China, outros falam que um processo de “japanização” da economia chinesa está em curso. Ou seja, são recorrentes as previsões de que o “milagre chinês” já chegou ao fim.
Para o diretor Damien Ma, do MacroPolo, o que chama mesmo a atenção é que a China tem quase nenhuma influência nas práticas e no pensamento de gestão da indústria ocidental, apesar de ser a maior potência industrial no mundo. Afinal, em algum momento você já ouviu falar do ‘Toyotismo‘.
A ascensão da indústria japonesa no pós-Segunda Guerra Mundial foi acompanhada do conceito de gestão criado pela montadora Toyota. Grosso modo, refere-se ao sistema de produção enxuta feita just in time e on demand.
Segundo o diretor do think tank do Instituto Paulson, o toyotismo não foi simplesmente uma ideia, mas um princípio organizador com práticas concretas que levou a uma transformação do modelo de produção em massa no Ocidente.
“O que foi pioneiro em Nagoya, no Japão, foi entrelaçado na estrutura do pensamento corporativo americano e canonizado em clássicos, tornando a Toyota um estudo de caso que ainda hoje permanece popular”
Damien Ma, diretor do MacroPolo
Porém, não há sinais de que haverá um “BYDismo”, apesar da fabricante chinesa ter superado a Tesla, do bilionário Elon Musk, e se tornando a maior vendedora de veículos 100% elétricos no mundo em 2023. Talvez, isso aconteça porque a Toyota era a mais ocidental entre as empresas estrangeiras de sucesso, avalia o MacroPolo
“O sistema que a montadora desenvolveu era mais compatível com a cultura corporativa que existia nos Estados Unidos e na Europa”, afirma Damien Ma, em relatório que fala que o “Japão Inc.” é muito mais influente. Em contraste, a ascensão da “China Inc.” desde a década de 1990 não viu até então nenhuma filosofia ou prática de gestão equivalente ou que se aproximasse da influência que o Japão exerceu.
Nem Tencent, nem Alibaba
O próprio conselheiro especial da BYD, Alexandre Baldy, reconhece que existem obstáculos de diferentes complexidades. Entre elas, as mudanças de costumes e paradigmas, em torno da transição energética e ao fornecimento de soluções de tecnologia verde. “Ainda é um começo, mas o aumento nas vendas aponta que estamos no caminho certo”, afirmou.
Para Baldy, a indústria de veículos elétricos (EV’s) caminha em direção à produção de bens de consumo com emissão zero de carbono. Vale lembrar que a BYD foi a primeira empresa automotiva do mundo a interromper oficialmente, em março de 2022, a produção de veículos movidos apenas com motor a combustão.
Para o secretário Nacional do Meio Ambiente Urbano e Qualidade Ambiental do Ministério do Meio Ambiente, Adalberto Maluf Filho, a ligeira estagnação ou redução no crescimento das vendas de veículos elétricos em alguns mercados europeus e nos EUA dá indícios de uma “contra-ofensiva” de algumas marcas tradicionais do setor que vêm perdendo espaço para o protagonismo chinês e tentam manter a importância dos combustíveis fósseis.
Porém, não se trata de uma missão exclusiva da BYD. Afinal, a China possui outras empresas com presença global e já conhecidas fora do território continental. É o caso das gigantes de tecnologia Alibaba, do empresário Jack Ma, e da Tencent, dona do aplicativo WeChat, tido como uma espécie de “canivete suíço digital para a vida moderna”, conforme palavras do autor Kai-Fu Lee, no livro AI Superpowers.
A prática leva à perfeição
A resposta à lacuna notável e peculiar sobre a influência da China nas práticas organizacionais e nos conceitos de gestão não está totalmente clara, até o momento. Aos olhos de especialistas, pode-se dizer que a China é uma ameaça competitiva e, por isso, as empresas ocidentais deveriam se proteger ao invés de adotar as lições chinesas.
“Nada disso significa que as empresas chinesas não tenham nada a oferecer ou que estejam desprovidas de novas práticas de gestão”
Damien Ma, diretor do MacroPolo
Ao contrário, a velocidade, a escala e a flexibilidade são as principais vantagens, enumera o diretor do think tank. Afinal, o pressuposto operacional do gigante emergente é maximizar o crescimento rapidamente, a fim de afastar o impacto inevitável de novos participantes no mercado dentro de meses.
Tratam-se, portanto, de táticas de sobrevivência necessárias em um ambiente onde a configuração padrão é a escassez de oportunidades combinada com uma oferta excessiva de empreendedores que perseguem as mesmas oportunidades. Até mesmo Pony Ma, o fundador da Tencent, brinca que “na China, as ideias não são importantes – a execução é”.
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