A geradora renovável Casa dos Ventos pretende aprovar até o fim deste ano a construção de mais 2 gigawatts (GW) em novos projetos de energia eólica e solar, com cerca de R$ 12 bilhões em investimentos estimados, e vai erguê-los em regiões que sejam menos sujeitas aos cortes de geração, disse à Reuters Lucas Araripe, diretor-executivo da companhia.

O novo plano de investimentos deve envolver 1,5 GW em eólicas no Nordeste, com foco em áreas menos afetadas por restrições impostas pelo Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS).

“Estamos indo em regiões um pouco menos congestionadas, para se blindar desse problema. Temos trabalhado em alguns Estados, provavelmente Ceará e Piauí, tem algumas regiões na Bahia e no Rio Grande do Norte também que podem ser opção. Estamos analisando”, disse.

A restrição à produção eólica e solar, seja por falta de demanda ou por gargalos na rede de transmissão, é um dos principais problemas do setor de renováveis no Brasil. Além do desperdício dos recursos energéticos, os cortes de geração impõem perdas financeiras milionárias para as empresas geradoras, que precisam comprar energia no mercado à vista para honrar seus contratos de venda de energia.

Cortes de energia

Os níveis de cortes, que antes de meados de 2023 eram mínimos, agora chegam a mais de 10% da geração total estimada. Em julho, as restrições para as renováveis alcançaram 20% da geração total, com 17,6% para a fonte eólica e 29,7% para a solar, segundo relatório do Itaú BBA com base em dados do ONS.

A companhia, que tem como sócia a francesa TotalEnergies, também planeja construir mais 0,5 GW em usinas solares, conforme anúncio feito previamente da capacidade dos projetos.

Os novos parques solares devem ficar no Sudeste, para balancear geograficamente o portfólio de venda de energia da companhia e minimizar impactos de descolamento de preços de submercado. Esse risco afeta as empresas que geram energia em uma região, como o Nordeste, e vendem em outra, como o Sudeste, principal centro de carga do país.

Com os 2 GW em novos projetos, a Casa dos Ventos deve atingir um portfólio total de 6,5 GW instalados até o fim de 2027, disse Araripe.

Demanda

Apesar do cenário desafiador para o segmento de renováveis, com as restrições e a sobreoferta de energia no país, o diretor da Casa dos Ventos diz enxergar demanda para nova contratação de energia, principalmente de grandes consumidores industriais que buscam eletrificar suas operações e também de novos segmentos intensivos em energia, como os data centers.

A busca por contratos de energia aumentou recentemente, com consumidores correndo para garantir acordos com as geradoras antes da medida provisória editada pelo governo que alterou as regras para a autoprodução de energia — modalidade que garante benefícios tarifários e reduz o custo final para o consumidor de energia.

Outro fator que influenciou foi a alta recente dos preços de energia no mercado de curto prazo, que incentivou os grandes consumidores a tentarem travar os preços do insumo em contratos com prazos mais longos.

“Esses 2 GW, boa parte já está contratado”, disse Araripe, lembrando que esse portfólio também poderá atender à demanda do grande data center que a companhia está desenvolvendo no Porto de Pecém, no Ceará.

A Reuters noticiou em abril negociação da Casa dos Ventos com a ByteDance, empresa detentora da plataforma de rede social TikTok, relativa à contratação da infraestrutura para data centers, segundo fontes.

A companhia também tem trabalhado em projetos para “eletrificar” grandes indústrias que querem descarbonizar suas operações, por exemplo substituindo caldeiras movidas a combustíveis fósseis por caldeiras elétricas.

“Tem algumas indústrias específicas que têm mais esse tipo de demanda, a gente tem avançado nessa frente com alguns centenas de megawatts.”