As ações da Casas Bahia despencaram nesta quarta-feira (26), reagindo ao anúncio de que a empresa fará, mais uma vez, a conversão de dívida em ações. Por volta das 13 horas, o papel caía 16%. A reação, entretanto, parece refletir uma questão técnica: com a conversão, o acionista da Casas Bahia será diluído, ou seja, passará a deter uma fatia menor da companhia. Isso porque haverá mais papéis circulando no mercado.

Já do ponto de vista de fundamentos, o anúncio de hoje parece dar um fôlego para a empresa, na visão de analistas do Safra.

A opção de converter a dívida em ações era um pedido dos credores, segundo uma fonte próxima a empresa ouvida pelo InvestNews, desde o acordo que converteu toda a segunda série da emissão.

Em agosto, a Mapa Capital, uma gestora nascida de uma cisão da Mauá, passou a deter 85% do capital social da Casas Bahia, depois de comprar as debêntures conversíveis do Bradesco e do Banco do Brasil, assumindo o controle da varejista.

“Quando teve a conversão, os bancos achavam que iam perder dinheiro porque as ações iam se desvalorizar”, diz a fonte. Os papéis, no entanto, passaram de pouco mais de R$ 2 na época para os R$ 4,07 do fechamento de ontem, o que fez os credores passarem a olhar com bons olhos para uma conversão adicional.

Além do Bradesco e do BB, assets e outros bancos estariam interessados na conversão agora, como o Santander, apurou o InvestNews. E, na conversão de Bradesco e BB, a Mapa já teria sinalizado que repetiria o movimento da primeira conversão, o que manteria a gestora com mais de 70% das ações.

Pelas condições atuais, as debêntures da série 1, no valor de R$ 1,85 bilhão, têm vencimentos em novembro de 2027 – 55% dessa série está nas mãos do Bradesco e do Banco do Brasil. A série 2 foi toda convertida em ações, que foram para as mãos da Mapa. E a série 3, no valor de R$ 1,4 bilhão, e mais pulverizada, passou a ter um custo de CDI + 1,0% e vencimento em novembro de 2030.

A companhia convocou assembleia de acionistas para 17 de dezembro para aprovar um aumento do capital social de R$ 9 bilhões para R$ 13,25 bilhões, que seria capaz de acomodar as novas ações. No mesmo dia, uma reunião deve debater o tema com debenturistas da 10ª emissão.

Agora, com a convocação da assembleia aos debenturistas, a Casas Bahia está propondo o alongamento da dívida até 2050, eliminação de amortizações extraordinárias, retirada das garantias reais e transformação em dívida quirografária, o que coloca os credores em um dos tipos mais simples e menos protegidos de dívida.

As condições de conversão ainda não estejam definidas. Mas já é possível dizer que, caso todo o montante seja convertido, a companhia tenha um alívio financeiro relevante. Hoje, a dívida da companhia equivale a 1,9 vez seu Ebitda. Nessa conta, estão incluídas as debêntures e também linhas de crédito de risco sacado e fornecedores (0,5 vez sem essas linhas). Com uma conversão total, a empresa passa a ter caixa líquido.

Além disso, a expectativa é de que a melhora da estrutura financeira com a conversão ajude a diminuir, também, a necessidade da Casas Bahia de acessar as linhas de risco sacado nos bancos, o que é um dos tipos crédito com taxas mais altas no mercado.

O ponto central da operação é que, ao transformar debêntures em ações, a empresa diminui parte de sua dívida. E isso automaticamente melhora o “score” da empresa junto ao mercado e, portanto, abre caminho para que ela acesse linhas de crédito mais baratas para financiar as compras de mercadorias diretamente com fornecedores, sem que a varejista precise recorrer aos bancos.

Hoje, o risco sacado e crédito junto a fornecedores somam R$ 2,4 bilhões, de uma dívida total de R$ 7,5 bilhões.