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China vai revidar: país estuda impor tarifas sobre veículos europeus e sobre conhaque

Medida seria retaliação depois que a União Europeia decidiu impor tarifas sobre veículos elétricos chineses

Novo SUV elétrico ID.4 da Volkswagen na entrega pela montadora alemã aos primeiros clientes na unidade Glaeserne Manufaktur, em Dresden, Alemanha, 26/03/2021. REUTERS/Matthias Rietschel

A China estuda um aumento das tarifas sobre veículos europeus com motores de grande porte e passará a recolher taxas sobre o conhaque, depois que a União Europeia decidiu impor tarifas sobre veículos elétricos chineses.

O Ministério do Comércio chinês informou que Pequim está analisando a possibilidade de aumentar os impostos sobre carros a gasolina com motores de grande porte. Pouco antes, o ministério anunciou que importadores de conhaque europeu vão pagar um depósito de até 39% válido desde 11 de outubro. As ações de empresas europeias caíram após o anúncio.

As medidas contra exportadores europeus de automóveis e conhaque ocorrem após a decisão da UE, na semana passada, de impor tarifas de até 45% sobre veículos elétricos chineses importados, com validade de cinco anos. As negociações entre as duas partes continuam, e os anúncios de Pequim podem ser uma tentativa de pressionar Bruxelas a buscar uma alternativa às tarifas.

As tensões comerciais têm pressionado as relações entre China e UE nos últimos anos. Uma guerra comercial poderia prejudicar ambas as partes, especialmente com a eleição dos Estados Unidos se aproximando, o que traz mais incertezas globais. A perspectiva de novas tarifas chinesas sobre automóveis e outros produtos afetaria ainda mais empresas europeias, já impactadas pela desaceleração da economia chinesa.

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A UE vai contestar as medidas chinesas sobre o conhaque na Organização Mundial do Comércio, segundo comunicado da Comissão Europeia. “Acreditamos que essas medidas são infundadas e estamos determinados a defender a indústria europeia contra o abuso de instrumentos de defesa comercial,” afirmou Olaf Gill, porta-voz da Comissão.

Os formuladores de políticas chineses também enfrentam pressões internas para atingir as metas de crescimento para 2024. No mês passado, Pequim anunciou cortes nas taxas de juros e prometeu até US$ 340 bilhões para apoiar o mercado de ações, mas se absteve de lançar novos estímulos na terça-feira.

As ações de fabricantes europeus de automóveis e bebidas despencaram, especialmente as mais expostas ao mercado chinês. As ações da BMW AG caíram mais de 3%, enquanto a Mercedes-Benz Group AG recuou cerca de 2%. O grupo francês Remy Cointreau SA teve queda de até 9,3%, enquanto o proprietário da Hennessy Cognac, LVMH Moët Hennessy Louis Vuitton SE, caiu 6,8%, e a Pernod Ricard SA recuou 4,6%.

A associação do setor de conhaque da França, BNIC, afirmou que “a França não pode nos abandonar e nos deixar enfrentar sozinhos as represálias chinesas, que não nos dizem respeito diretamente”. Segundo a BNIC, “o impacto dessas taxas seria catastrófico para nossas indústrias e regiões”.

A Comissão Europeia deve publicar os resultados finais de sua investigação sobre veículos elétricos até o final deste mês, momento em que as tarifas entrariam em vigor. A mídia estatal chinesa e associações comerciais já haviam sugerido que Pequim poderia elevar tarifas sobre importações de automóveis como resposta às medidas da UE, e este é o primeiro sinal oficial de confirmação do ministério.

Paolo Gentiloni, chefe de economia da UE, disse não estar preocupado com uma escalada de tarifas retaliatórias. “Fizemos uma investigação séria sobre os riscos de superprodução em alguns setores,” afirmou Gentiloni a repórteres em Luxemburgo. “Tomamos decisões adequadas e proporcionais, e não acho que haja motivo para reações retaliatórias.”

Alemanha e Eslováquia, que votaram contra as tarifas, seriam os países mais impactados caso a China imponha taxas sobre automóveis. O CEO da Volkswagen AG, Oliver Blume, alertou que tarifas chinesas poderiam ser particularmente prejudiciais para a indústria automobilística alemã, expondo a empresa a grandes desvantagens no mercado chinês.

No caso do conhaque, a maior parte das importações chinesas vem da França, que votou a favor das tarifas sobre carros chineses. O comunicado do ministério chinês mencionou especificamente fabricantes de bebidas europeias controladas por Remy Cointreau e Pernod Ricard, entre outras.

Em janeiro deste ano, a China iniciou uma investigação antidumping sobre o conhaque europeu, logo após a UE abrir uma investigação sobre subsídios aos veículos elétricos chineses. Em agosto, o governo chinês informou ter encontrado evidências preliminares de dumping por parte de produtores europeus de destilados, mas optou por não aplicar tarifas naquele momento.

A indústria de conhaque na China é relativamente pequena, com o país importando quase US$ 1,8 bilhão em destilados de uva no ano passado, sendo mais de 99% oriundos da França.

A UE criticou a investigação da China sobre o conhaque e outros produtos, com o chefe de comércio europeu Valdis Dombrovskis dizendo ao ministro do comércio chinês, Wang Wentao, no mês passado, que as investigações eram “infundadas, baseadas em alegações questionáveis e sem evidências suficientes”. Dombrovskis solicitou o encerramento dessas investigações e afirmou que a Europa “fará o possível para defender os interesses de suas indústrias.”

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