A relação do agronegócio brasileiro com a China iniciou 2025 com o pé esquerdo. O gigante asiático, maior comprador de soja do mundo, suspendeu desde o dia 8 de janeiro a importação do grão de pelo menos cinco empresas brasileiras. A informação é da agência Reuters, obtida com fontes ligadas ao governo chinês.
Embora criem ruídos, essas suspensões fazem parte da dinâmica comercial de Brasil e China. Não foi a primeira e está longe de ser a última vez. Existe uma parceria entre os governos para identificar eventuais problemas e resolvê-los o mais rápido possível. Por outro lado, o contexto em que esses embargos costumam ocorrer também não podem ser desprezados (trataremos disso mais adiante).
A soja é um dos produtos mais exportados do Brasil. O complexo soja, que inclui grãos, farelo e óleo, garantiu US$ 53,9 bilhões para o país em 2024. E a China é fundamental neste mercado, uma vez que compra mais de 60% da oferta mundial da oleaginosa.
Para os analistas Leonardo Alencar, Pedro Fonseca e Samuel Isaak, da XP, a suspensão não impacta os embarques totais de soja do Brasil. “Aparentemente, dois navios tiveram problemas de qualidade e a China suspendeu os embarcadores”, dizem. “A suspensão de fato aconteceu, mas somente para subsidiárias de ADM e Cargill, mas elas conseguem exportar soja normalmente via outras entidades.”
O InvestNews procurou os exportadores de soja e o Ministério da Agricultura do Brasil e aguarda retorno. Oficialmente, a Administração Geral de Alfândegas da China (GACC, em inglês) não se manifestou.
China de olho
A suspensão dos embarques de soja ocorre na esteira de um escrutínio da China sobre outro item que afeta (e muito) o agronegócio brasileiro: a carne bovina.
Autoridades chinesas abriram no fim do ano passado uma investigação sobre as importações de carne feitas entre 2019 e o primeiro semestre de 2024. A apuração envolve todos os países que exportaram a China, incluindo o Brasil.
Comerciantes experientes em lidar com o mercado chinês costumam dizer que faz parte da dinâmica do país mandar recados a seus parceiros por meio de investigações e ameaças de embargo. Seja para renegociar contrato, seja para conter a entrada de produtos que estão fartos nos estoques do país.
As medidas costumam ser interpretada como um freio de arrumação – e aí passa a ser um jogo de paciência para exportadores e governo brasileiro reabrirem o mercado, apresentando relatórios de conformidade e muita negociação.
Vale lembrar que o preço da carne bovina está em ascensão aqui no país há um bom tempo em função do ciclo pecuário (neste momento temos uma oferta menor de bois prontos para o abate) e, portanto, mais caro também para os compradores internacionais. No caso da soja, as cotações estão longe das máximas, mas estamos com a perspectiva de uma safra cheia, logo, com oferta farta de grãos pelo mundo.
O caso da soja
Como noticiado nesta quarta-feira (22), grandes empresas como as subsidiárias brasileiras de Cargill, ADM e Olam foram embargadas, além das paranaenses Terra Roxa Comércio de Cereais e a cooperativa C.Vale, uma das maiores do país.
Fontes ouvidas pela Reuters afirmam que foram encontradas nas cargas, que vieram em dois navios – um no dia 8 de janeiro e outro no dia 14 –, traços de contaminação química, pragas e insetos (o relato chinês é feito de maneira genérica).
Não há previsão de quanto tempo irá durar as suspensões. “Depende principalmente da rapidez com que as empresas brasileiras conseguirão fornecer provas de que descobriram o que estava errado que levou a essas inconformidades e fornecer um plano para corrigir isso”, disse uma das fontes ouvidas pela Reuters.