Em 2 de janeiro, o ano começou com alívio quando 379 pessoas escaparam com vida depois que uma aeronave pegou fogo no aeroporto Tokyo Haneda, no Japão. Mas, com duas quedas de avião na última semana, 2024 vai terminar como o ano mais mortal para a aviação comercial desde 2018. No domingo (29), o desastre da Jeju Air na Coreia do Sul, deixou 179 mortos. Na quarta passada (25), a derrubada de um avião Embraer da Azerbaijan Airlines provocou outras 38 mortes.
Com isso, o total saltou de 101 para 318 vítimas fatais de acidentes aéreos, segundo dados compilados pela Cirium. Esse é, de longe, o maior número de mortes em um ano desde que mais de 500 pessoas morreram em 2018.
Até este domingo, a queda do avião bimotor da VoePass em agosto, em Vinhedo, era o acidente mais mortal do ano — todas as 62 pessoas a bordo perderam a vida.
Imprevisibilidade
Acidentes fatais de aviação continuam sendo muito raros, e um incidente maior pode subitamente transformar um ano estatisticamente seguro em um dos piores.
“A recente escalada cai nas margens da imprevisibilidade”, disse Darren Straker, ex-chefe de unidades de investigação de acidentes aéreos nos Emirados Árabes Unidos e em Hong Kong. Ele sugeriu que as tripulações das companhias aéreas poderiam ser melhor treinadas para responder a eventos chamados de outliers — que fogem à regra.
Os investigadores ainda não determinaram por que um Boeing 737-800 da Jeju Air — um predecessor do MAX — desceu a pista no Aeroporto Internacional de Muan sem o trem de pouso baixado e colidiu com um muro de concreto. Todas, menos duas das 181 pessoas a bordo, morreram quando o avião destruído explodiu em uma bola de fogo.
O acidente fatal da Jeju Air foi o primeiro da companhia aérea e é considerado o pior acidente aéreo civil da história da Coreia do Sul.
Enquanto o avião se aproximava do aeroporto, um dos pilotos relatou uma colisão com um pássaro, declarou emergência e iniciou um procedimento de arremetida, segundo funcionários do ministério dos transportes da Coreia. O avião então voltou e tentou pousar na direção oposta, com a barreira em seu caminho naquela extremidade da pista.
Embora pareça cada vez mais evidente que a colisão com um pássaro foi “um iniciador dessa cadeia trágica de eventos”, o que aconteceu a seguir é menos claro, disse Jeff Guzzetti, ex-chefe de investigação de acidentes para a Administração Federal de Aviação dos EUA.
Perguntas-chave incluem por que os flaps não foram estendidos, o que poderia ter desacelerado o avião, e por que o trem de pouso não foi baixado, disse Guzzetti. Se pássaros danificaram os dois motores, isso poderia ter causado uma perda de potência afetando esses outros sistemas, ele disse.
“Se ambos os motores estão fora de operação — ou mesmo um motor — haverá muitos avisos e alertas, e sirenes tocando na cabine”, ele disse. “E isso pode realmente desafiar uma tripulação de voo.”
Embora a aeronave da Jeju Air tenha sido quase totalmente destruída, os investigadores terão dados valiosos para trabalhar conforme reconstruírem o evento. O dispositivo de dados de voo danificado pode levar mais tempo para ser analisado do que o gravador de voz da cabine.
Após outro avião da Jeju ter problemas com o trem de pouso, as autoridades coreanas ordenaram verificações dos registros de manutenção de outras 101 aeronaves 737-800 em operação entre as companhias aéreas locais. As ações da Boeing caíram 1,8% no início da tarde desta segunda (30) em Nova York, ampliando sua queda em 2024 para 32%.
As inspeções mais amplas vieram enquanto os investigadores começaram a analisar o gravador de voz da cabine e o dispositivo de dados de voo danificado, que contêm pistas cruciais sobre os movimentos do jato e as ações e estado dos pilotos.
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Acidentes em 2024
Em janeiro, um grande jato da Japan Airlines colidiu com um avião da guarda costeira (não comercial) no Aeroporto de Haneda, em Tóquio. Todos a bordo do jato comercial sobreviveram, mas cinco pessoas no avião menor morreram.
O ano também foi marcado por um caso fatal de turbulência severa em maio em um jato da Singapore Airlines sobrevoando Mianmar.
Em julho, a Saurya Airlines do Nepal caiu após decolar de Catmandu, matando 18. E em agosto, imagens dramáticas de um avião operado pela companhia aérea brasileira VoePass capturaram o turboprop caindo livremente do céu após encontrar condições climáticas geladas. Esse acidente matou 62.
Que Deus conforte as famílias das pessoas que estavam dentro desse avião que caiu em Vinhedo. pic.twitter.com/sPHY7HHERT
— Carlos Mamprin (@carlosmamprin) August 9, 2024
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Conflitos globais também podem ter contribuído para as fatalidades da aviação neste ano. O Embraer SA 190 da Azerbaijan Airlines havia quase completado um voo programado da capital Baku para Grozny, Rússia, na última quarta (25), quando foi repentinamente desviado através do Mar Cáspio.
O avião danificado caiu cerca de 3 quilômetros (1,9 milhas) de seu destino em Aktau, Cazaquistão. O presidente do Azerbaijão afirmou que o avião foi derrubado acidentalmente pela Rússia.
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2023: o ano mais seguro da história
O aumento nas fatalidades marca uma reversão em relação a 2023, que se tornou o ano mais seguro da história da aviação sem mortes entre os grandes jatos de passageiros — tipicamente aviões fabricados pela Airbus SE e Boeing.
A segurança das companhias aéreas tem melhorado há décadas, à medida que reguladores, fabricantes e companhias aéreas incorporam lições aprendidas para minimizar acidentes e melhorar as chances de sobrevivência quando as coisas dão errado. Designs resistentes ao fogo, com casco de carbono, como na aeronave Airbus A350 envolvida no acidente de janeiro em Tóquio, por exemplo, combinados com uma execução quase impecável pela tripulação da JAL e pela equipe de resgate, permitiram que todos os 379 passageiros a bordo sobrevivessem.
Por causa da imprevisibilidade, é melhor analisar a segurança da aviação em períodos de dez anos, disse Jan-Arwed Richter, consultor de segurança da aviação que administra o site de pesquisa Jacdec em Hamburgo, Alemanha.
“Estou bastante confiante de que 2024 pode ser considerado um outlier nos anos vindouros”, ele disse.
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