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Negócios

Com greve na Boeing, escassez global de aviões pode piorar

Trabalhadores entraram em greve à meia-noite de sexta (13), na primeira paralisação do tipo desde 2008

O problema da escassez global de aviões, que tem forçado as companhias aéreas a prolongarem o tempo de voo de aeronaves mais antigas, ganhou um novo obstáculo nesta sexta-feira (13), quando trabalhadores da Boeing na Costa Oeste dos Estados Unidos entraram em greve.

É a primeira greve na empresa em 16 anos e, segundo analistas do setor, pode agravar ainda mais a situação atual do mercado.

Os trabalhadores rejeitaram por maioria esmagadora um acordo com a empresa, interrompendo a produção do 737 MAX, o avião mais vendido da Boeing. A última vez em que isso aconteceu foi em 2008.

O diretor financeiro da companhia, Brian West, alertou que uma greve prolongada poderá prejudicar a produção e “colocar em risco nossa recuperação”.

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Trabalhadores da fábrica da Boeing discutem adesão à greve
Trabalhadores da fábrica da Boeing discutem adesão à greve (REUTERS/David Ryder)

Impacto no resto do mercado

De acordo com especialistas, os efeitos podem ir além da própria empresa e extrapolar para o sistema como um todo.

“A Boeing é uma empresa de importância sistêmica para a aviação global”, disse Ross O’Connor, diretor financeiro da empresa irlandesa de leasing Avolon, à Reuters nesta sexta-feira.

Uma greve “poderia ter um impacto sobre os níveis de produção, o que, com certeza, pode exacerbar a escassez de oferta que está ocorrendo no mercado no momento”, disse ele.

Dificuldade de expansão

As companhias aéreas têm enfrentado dificuldades para expandir capacidade para atender à crescente demanda, uma vez que o fornecimento de jatos é reduzido pela escassez de peças, problemas de recrutamento em todo o setor e oficinas de manutenção sobrecarregadas.

Analistas têm alertado que a parte mais promissora do importante ciclo de negócios do setor pode se esgotar antes que as companhias aéreas tenham a chance de aproveitar todos os benefícios da demanda elevada.

“Vai levar um tempo significativo até que vejamos esse equilíbrio. Estou começando a desenvolver a hipótese de que não será a oferta (extra) que corrigirá o problema, mas sim um abrandamento da demanda”, disse Rob Morris, diretor global de consultoria da Cirium Ascend.

Alguns dizem que as tarifas aéreas elevadas — embora sejam boas para as companhias aéreas no curto prazo — poderiam acelerar esse ponto de inflexão.

“Meu ponto de vista é que (as tarifas médias) aumentarão; e quando os preços dos bilhetes sobem, se todas as outras coisas forem iguais, os níveis de tráfego serão menores”, disse o economista de aviação Adam Pilarski, vice-presidente sênior da consultoria Avitas.

As metas da concorrência

Enquanto a Boeing interrompe a produção de seu jato mais vendido, a rival europeia Airbus também está enfrentando dificuldades. Nesse caso, para atingir suas próprias metas.

O presidente-executivo da Airbus, Guillaume Faury, expressou otimismo em uma conferência na Câmara de Comércio dos Estados Unidos nesta semana de que a fabricante de aviões europeia cumprirá uma meta recentemente reduzida de 770 entregas neste ano.

Porém, após um breve aumento nas entregas de aviões em julho, fontes do setor questionaram até que ponto a maior fabricante de aviões do mundo conseguirá ultrapassar as 735 aeronaves despachadas a clientes no ano passado.

O número cada vez menor de aviões armazenados e a utilização recorde dos aviões existentes confirmam o aperto no fornecimento.

Boeing 737-800 da Gol decola do Aeroporto Santos Dumont no Rio, em janeiro de 2024. Foto: Leonardo Carrato/Bloomberg

Aviões mais velhos

Por enquanto, os níveis de produção mais baixos da Boeing em comparação com os da Airbus podem limitar o efeito incremental da greve. No entanto, os analistas disseram que as companhias aéreas têm pouco espaço de manobra.

Com as empresas de leasing também ficando sem capacidade disponível, as companhias aéreas precisam manter os jatos existentes voando por mais tempo.

Durante a maior parte dos últimos 15 anos, a idade média da frota diminuiu, pois as companhias aéreas e as empresas de leasing aproveitaram baixas taxas de juros para investirem em novos jatos que economizam combustível.

Em 2010, a idade média da frota de jatos de corredor único, categoria mais utilizada, era de cerca de 10,2 anos, de acordo com dados da Cirium.

Depois de cair para 9,1 anos durante a pandemia, quando as companhias aéreas suspenderam os voos, a idade começou a crescer novamente. Agora, ela está em 11,3 anos “e continua subindo”, disse Morris.

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