A WeWork entrou na noite desta segunda-feira (6) com um pedido no capítulo 11 da lei de falência dos Estados Unidos – equivalente no Brasil à recuperação judicial. A declaração põe fim à ascensão e queda meteórica da startup fundada por Adam Neumann, que consagrou o modelo de coworking no mundo e também inspirou a minissérie WeCrashed.
A negociação com as ações na Bolsa de Nova York já estavam suspensas, em meio a rumores da concordata. Nos últimos meses, os papéis da WeWork tiveram forte queda (veja gráfico abaixo), em meio às dificuldades da empresa de honrar os pagamentos de juros de títulos da dívida. Apenas no acumulado de 2023, as ações da empresa evaporaram quase 100%.
A falência da WeWork provoca um efeito negativo no mercado financeiro e no setor imobiliário. “Certamente tem impacto na capacidade de financiar os imóveis, mas esse sofrimento não será distribuído igualmente”, disse Jeffrey Havsy, líder comercial do setor imobiliário da Moody’s Analytics, em comentário por e-mail.
Segundo ele, os arrendamentos feitos em edifícios de alto padrão devem continuar a ter demanda elevada e podem acabar por ter consequências menos danosas aos proprietários. Ao mesmo tempo, tornou-se mais difícil financiar edifícios de escritórios meio vazios, flexibilizando a necessidade de aumentar o panorama dos imóveis disponíveis.
No comunicado que acompanhou o pedido, a WeWork, reconhece que sucumbiu diante do fracasso na aposta de aluguel de espaço compartilhado de escritórios que tanto cativou Wall Street e o Vale do Silício. Segundo a empresa, o uso de grande parte não estava em operação, anos depois de ter sido a maior locatária de escritórios em Manhattan.
A WeWork reportou quase US$ 20 bilhões de endividamento, mas afirmou que celebrou um acordo de reestruturação com credores que detêm mais de 90% da dívida. No pedido, a empresa listou ativos da ordem de US$ 15 bilhões. Em 2019, a empresa esteve entre as startup mais valiosas do mundo, com valor de mercado de US$ 47 bilhões.
Castelo de areia
A ruína da WeWork começou ainda antes da pandemia. A empresa deixou de lado o plano de uma oferta pública inicial de ações (IPO) bilionária após a descoberta de fragilidades operacionais e, principalmente, de governança. Na sequência, houve uma demissão em massa e o resgate financeiro dos principais investidores, como o SoftBank e o JPMorgan.
O IPO ocorreu em 2021, dois anos depois do plano inicial, por meio de uma associação com uma empresa de aquisição de propósito específico (SPAC), tendo o empresário israelense como cofundador. A presença imobiliária somava quase 780 estabelecimentos em 39 países até junho deste ano, com ocupação próxima aos níveis de 2019.
No entanto, a WeWork continuava não sendo lucrativa. Aliás, os problemas das empresas de compartilhamento de espaço de escritório se aprofundaram depois que a pandemia alterou os modelos de trabalho, com avanço do home office. O trabalho remoto esvaziou os centros empresariais de muitas grandes cidades.
Até mesmo a retomada da atividade presencial alterou o número de pessoas que passam o dia no escritório. Em todo o mundo, muitas empresas adotaram o formato híbrido, com um ou mais dias de expediente longe do local de trabalho. Como resultado, outras empresas, como a Knotel e as subsidiárias da IWG, entraram com pedido de recuperação judicial – em 2021 e 2020, respectivamente.
Assim, apesar de a WeWork ter alcançado um acordo abrangente de reestruturação de dívidas no início deste ano, a empresa voltou rapidamente a ter problemas financeiros. O plano de negócios da empresa era simples: cobrar mais dos membros pelo espaço de escritório do que devia aos grandes proprietários. O que acabou não funcionando.
Ainda mais após o Federal Reserve iniciar o ciclo de aperto dos juros nos Estados Unidos, elevando a taxa para o maior nível em 22 anos. Cálculos recentes do Barclays mostram que quaisquer propriedades de escritórios em dificuldades passaram a valer provavelmente apenas o preço do terreno ou os custos para novos empréstimos imobiliários.
Confira os números que ajudam a contar a história da WeWork:
- US$ 47 bilhões: pico de valuation em 2019
- US$ 25 bilhões em dívida a proprietários em arrendamentos pendentes
- US$ 15 bilhões em perdas desde o fim de 2017
- US$ 9 bilhões no IPO em 2021
- US$ 6,8 bilhões em títulos hipotecários comerciais, sendo que
- US$ 3,3 bilhões estão na cidade de Nova York
- US$ 680 milhões em liquidez em junho de 2023
*Com agências internacionais
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