Ao longo dos últimos anos, Rubens Menin consolidou a imagem de um empresário capaz de multiplicar negócios em ritmo incomum. O fundador da MRV, criada em 1979, passou da construtora focada em habitação popular para negócios bem diversificados que incluem o banco Inter, a empresa de logística Log, a CNN Brasil, a rádio Itatiaia, a vinícola Menin Douro Estates e a SAF do Atlético Mineiro.

Hoje, sua fortuna é estimada em US$ 1,5 bilhão, colocando-o entre os 40 maiores bilionários do país. 

A expansão começou com um padrão: empresas nascidas dentro de casa que cresceram ao lado da família e se profissionalizaram com gente que Menin conhece há décadas. Mas, nos últimos anos, o investimento em negócios como a SAF do Atlético Mineiro adicionaram novas camadas de complexidade ao estilo do empresário.

As empresas de Menin na Bolsa

De todos os negócios de Menin, os três maiores estão listados em bolsa e vivem momentos bem distintos.

A MRV passou os últimos anos diversificando operações. Transformou-se em uma holding, criou uma subsidiária nos Estados Unidos, lançou uma marca de imóveis para locação, investiu no segmento de médio padrão e ampliou sua empresa de loteamentos. O movimento foi ambicioso e quase simultâneo, resultando em uma operação complexa e alavancada. Agora, a MRV vive um movimento de “retorno às origens”, com foco renovado em eficiência no segmento de baixa renda.

Já a Log avança em um plano de expansão para entregar 2 milhões de metros quadrados em galpões até 2028, após completar um ciclo de 1,5 milhão em 2024. O setor segue aquecido pela demanda logística de grandes varejistas, mas analistas apontam dois desafios: manter o ritmo de vendas de ativos com margens atrativas e administrar a alavancagem em um cenário de juros ainda elevados.

O banco Inter vive um de seus melhores momentos na bolsa americana Nasdaq, com suas ações próximas da máxima histórica. Com mais de 41 milhões de clientes, o banco registrou R$ 995 milhões de lucro nos nove primeiros meses de 2025.

O Inter executa seu plano “60-30-30”, que prevê 60 milhões de clientes, eficiência de 30% e retorno sobre patrimônio (ROE) de 30% até 2027. Embora os números recentes sejam fortes, analistas seguem cautelosos sobre a capacidade de manter o ritmo de crescimento e alcançar o ROE projetado.

O início e a chegada da segunda geração 

A trajetória de Menin começou em 1979, quando fundou a MRV com dois primos, apostando no “patinho feio” do mercado imobiliário: imóveis para as classes C e D. Com foco em padronização e escala, a empresa cresceu rapidamente, impulsionada nos anos 1990 pelo Plano Real e, depois, pelo Minha Casa, Minha Vida, lançado em 2009.

A sucessão veio em 2014, quando Rubens deixou a presidência da MRV e passou o cargo ao filho Rafael e ao sobrinho Eduardo Fischer. Tanto o banco Inter quando a Log Commercial Properties começaram como negócios dentro da própria construtora.  

Nascido em 1994 como Intermedium para financiar clientes da MRV, o banco ganhou tração em 2016 com a ideia do filho caçula de Rubens — e atual presidente do banco — João Vitor Menin, de lançar uma conta digital gratuita. Hoje, o Inter está avaliado em US$ 3,8 bilhões.

A Log, fundada em 2008, foi cindida da MRV em 2018, quando abriu capital na Bolsa. Sempre comandada por Sergio Fischer, sobrinho de Menin, cresceu beneficiada pela expansão do comércio eletrônico e da demanda logística.

Além de filhos e sobrinhos, há executivos vindos do chamado “grupo dos 40”, formado por amigos dos filhos Menin recrutados ainda jovens. A estratégia foi parte de um desafio que Rubens fez aos filhos para identificar talentos e integrá-los ao grupo.

A exceção no portfólio

Em um percurso de sucesso, a única operação atual de Menin que destoa é também a menos madura: a SAF do Atlético Mineiro.

Acionista majoritário do clube ao lado do filho Rafael Menin, Rubens encerra o ano de 2025 em uma temporada marcada por salários atrasados, saída do CEO, derrota em títulos, pressão da torcida e a prisão de Daniel Vorcaro — um dos principais sócios da SAF — sob acusação de fraude contra o sistema financeiro.

O Ministério Público de São Paulo também investiga se o dinheiro usado por Vorcaro para comprar sua fatia na operação teria origem em um esquema de lavagem ligado ao PCC. 

Advogados afirmam que o clube não deve ser responsabilizado financeiramente e, após a prisão, Vorcaro foi destituído do Conselho de Administração do time. Mas o episódio aumenta a incerteza no momento em que a SAF precisa atrair investidores para aliviar uma dívida estimada em R$ 2,3 bilhões.

Segundo apurou o InvestNews, para aliviar a pressão financeira atual, a SAF do Atlético estruturou um Fundo de Investimento em Direitos Creditórios (FIDC) para captar R$ 90 milhões. O objetivo é antecipar receitas sem comprometer sua estrutura de capital. 

A SAF do Atlético, implementada em 2023, nasceu com a promessa de profissionalização e de reequilíbrio financeiro. Mas a complexidade da dívida e o ambiente esportivo criaram uma operação bem mais desafiadora do que o previsto.

A terceira geração  

A entrada da segunda geração — e agora o início da preparação da terceira — é parte da estratégia de longevidade do grupo.

Segundo apurou o InvestNews, os nove netos já recebem orientação de um consultor de educação e de um psiquiatra para ajudar na definição de caminhos acadêmicos e profissionais. A expectativa é que, no futuro, esses herdeiros ocupem posições estratégicas nos muitos setores onde o império Menin se espalha.

O desafio, no entanto, será maior que o enfrentado pela geração atual. Eles herdam um conglomerado que virou banco, logística, mídia, construção e futebol. E terão de lidar com o julgamento constante do mercado e, em alguns casos, de milhões de torcedores.