Rubens Ometto jogou a toalha e encerrou seu investimento na Vale. A Cosan, grupo fundado pelo empresário, confirmou nesta quinta-feira (16) em fato relevante que vendeu toda a sua participação na mineradora, de 4,05% das ações, arrecadando R$ 9,1 bilhões. A operação sacramenta assim uma aposta frustrada de Ometto para ter influência numa das principais empresas do país.
Em nota, Ometto atribui a decisão de vender as ações da Vale ao “patamar atual da taxa de juros” que obriga a Cosan a reduzir a alavancagem. “Já passei por muito e aprendi que o foco deve ser na disciplina financeira para podermos continuar crescendo”, diz. Hoje, 24% da dívida do grupo Cosan está atrelada ao CDI, que sofre impacto direto da Selic.
De fato, o custo da compra da Vale acabou sendo muito alto para o grupo, que controla Rumo e Raízen e mais uma porção de empresas. A Cosan investiu em outubro de 2022 cerca de R$ 18,5 bilhões em uma operação estruturada no mercado de capitais para assumir 4,9% da Vale, com opção de chegar a 6,5%. Como o InvestNews mostrou recentemente, o negócio tinha um claro objetivo: participar das discussões sobre a sucessão no comando da empresa prevista para meados de 2024. E, dessa forma, influenciar decisões futuras da gigante da mineração.
A aposta de Ometto era emplacar o nome de Luís Henrique Guimarães, um de seus principais executivos, no comando da Vale. O plano esbarrou em outro nome: o ex-ministro da Fazenda Guido Mantega, indicado pelo presidente Lula. O governo federal não tem mais participação direta na mineradora, privatizada em 1997. Mas Lula tentou influenciar a decisão por meio da Previ, fundo de pensão dos funcionários do Banco do Brasil, que hoje é um dos principais acionistas da Vale.
Com diferentes interesses em jogo, o conselho da Vale se dividiu. Por fim, o jogo de forças acabou levando a uma solução interna: Gustavo Pimenta, então diretor financeiro, foi eleito CEO, numa decisão que buscou equilibrar as demandas do governo e dos acionistas independentes. O desfecho frustrou os planos de Ometto e mostrou que o cheque de R$ 18,5 bilhões saiu caro para Cosan.
O impacto financeiro é visível nos números mais recentes da companhia. No terceiro trimestre de 2024, a dívida líquida do grupo Cosan aumentou 59% em relação ao mesmo período de 2023, atingindo R$ 59,7 bilhões. A alavancagem – indicador que mede a relação entre dívida líquida e lucro operacional (Ebitda) – subiu de 1,7 para 2,9 vezes no período.
Sem alcançar seu objetivo na Vale e pressionada pelo endividamento crescente, a Cosan era alvo de especulações sobre a venda de sua participação na mineradora desde meados do ano passado. Com a venda, a dívida corporativa da Cosan, aquela que não considera suas subsidiárias, cairá de R$ 23 bilhões para R$ 14 bilhões.
O desfecho desta quinta-feira traz um alívio imediato para o balanço do grupo de Ometto, que ainda tenta vender outros ativos da Raízen, a empresa mais endividada do conglomerado.