O Cubo, hub de inovação do Itaú Unibanco (ITUB4), mais do que dobrou sua base de startups nos cerca de dois anos de pandemia, ilustrando como a onda de novos negócios baseados em tecnologia segue forte no país, mesmo com o ceticismo de investidores de risco, dado o cenário recente de taxas de juros mais altas.
“Tínhamos cerca de 150 startups antes da pandemia, agora estamos com 390”, disse à Reuters o presidente do Cubo, Paulo Costa, que assumiu em maio.
O Cubo, criado em 2015, é um centro de negócios onde empresas iniciantes recebem consultoria para desenvolver seus planos. Atualmente possui 25 empresas mantenedoras além do próprio Itaú Unibanco, incluindo Dasa, Suzano e Stellantis.
Segundo o executivo, esse movimento reflete a percepção de oportunidades de negócios baseados em tecnologia para um espectro mais amplo da economia, após uma primeira fase mais concentrada em setores como finanças e comércio eletrônico.
Uma mostra dessa tendência são os nichos que surgiram no Cubo neste ano, como os de mobilidade urbana, de operações marítima e portuária e de ESG, além da divisão de agronegócio, de 2021, que se somaram às unidades de varejo e de logística (2019) e de saúde, fintech e educação, inauguradas em 2018.
Para Costa, a diferença agora em relação ao boom durante o período mais agudo da pandemia é que os investidores de capital de risco estão mais seletivos, preferindo startups que já tenham dado mostras de viabilidade de mercado. Criado há sete anos, o Cubo recebe todo mês de 60 a 80 inscrições de startups se candidatando a entrar no hub.
“O capital de risco continuará vindo, porém não aceitará mais desaforo”, afirmou o executivo explicando que a aposta em crescimento da base de clientes sem um horizonte para o negócio ser rentável deixou de ser a tendência.
Seus comentários vêm na esteira de um freio de arrumação na indústria conhecida como venture capital no mundo todo, depois que bancos centrais começaram a elevar taxas de juros para tentar controlar a inflação.
No Brasil, onde investimentos em startups cresceram mais de 60 vezes na última década, chegando ao recorde de US$ 9,4 bilhões em 2021, segundo a plataforma de análise Distrito, a nova realidade levou startups a refazerem planos de crescimento e a demitirem milhares de pessoas.
Para Costa, ainda há grande volume de recursos disponíveis para investimento em projetos inovadores, mas agora a maioria dos recursos tende a fluir para empresas em fase inicial, e mais escasso para as que estão em etapas mais avançadas.
“Nós selecionamos startups que já tenham alguma tração, com clientes e receitas, que consigam mostrar que podem ser escaláveis”, disse ele. “Também levamos em conta a composição dos sócios e se já têm, e quais são, os investidores.”
Por setores da economia, o executivo citou como preferências de investidores negócios voltados para telemedicina, mobilidade urbana, agronegócio e redução de emissões de carbono.
Dada a dimensão do mercado e o intenso uso de comunicação via telefonia móvel no país, o Brasil também tem sido um destino cada vez mais cobiçado por startups de várias partes do mundo, disse Costa. Nesta frente os projetos incluem uma empresa de integração de dados para o agronegócio, a espanhola Auravant, e a plataforma israelense de monitoramento em tempo real de lavouras, Agroscout.
Além de Espanha e Israel, startups com origem em Argentina, Holanda, Senegal, México e Estados Unidos têm buscado o Cubo para acelerar projetos, afirmou Costa.
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