A CVC (CVCB3) deve lançar este ano novos braços para ampliar receitas e ganhar eficiência, na expectativa de estar pronta para uma possível retomada vigorosa do mercado de turismo no Brasil a partir do segundo semestre, afirmaram executivos da maior empresa de turismo do país nesta quarta-feira (10).
A empresa vai focar investimentos na subsidiária VHC, comprada pela CVC nos Estados Unidos em 2017 e que trabalha em um modelo semelhante ao Airbnb, de aluguel de casas para temporada. A estratégia inclui elevar a base de imóveis disponíveis de cerca de 225 para 8 mil “em poucos anos” e também lançamento de operações da unidade no Brasil e península Ibérica neste ano, disse o presidente-executivo, Leonel Andrade Neto, a analistas e investidores.
“A VHC é uma joia para nosso negócio”, disse o executivo, um dos responsáveis pela criação da empresa de fidelidade de clientes Smiles. “Vamos investir muito forte na VHC…Foi o único setor beneficiado pela pandemia e será nosso foco maior de expansão”, acrescentou o presidente da CVC.
O negócio de aluguel de casas para turistas foi o único a crescer globalmente dentro do setor de turismo, afirmou Andrade.
O presidente da CVC disse numa entrevista à Reuters depois das apresentações aos investidores que a empresa decidirá até meados de maio como será feita a captação de R$ 435 milhões que esta faltando para completar o total previsto de R$ 1,1 bilhão de reais até setembro.
“Vamos decidir se será uma oferta secundária de ações (follow on), capitalização privada dos atuais acionistas ou private placement”, disse Andrade.
A companhia, que tem a maior rede de lojas franqueadas do setor de turismo do país, também pretende lançar, mais para o final deste ano, um programa de vendedores autônomos, num formato semelhante ao já usado por empresas de cosméticos como Natura, para ampliar as vendas junto aos clientes.
O programa será complementar às lojas físicas, não usará a marca CVC e pagará uma remuneração “bem menor” que a recebida pelos franqueados, disse Andrade Neto. “Se não fizermos, alguém vai fazer e nós temos a melhor condição de fazer porque temos escala e conhecimento”, disse o executivo.
As ações da CVC subiam caíram 2,24% nesta quarta. Em 2021, as ações acumulam perdas de mais de 6%.
Na apresentação, realizada um dia depois do anúncio da renúncia de quatro membros do conselho de administração, entre eles o presidente Silvio José Genesini Junior, Andrade Neto afirmou ainda que a CVC vai criar também em 2021 um “marketplace temático” de produtos de viagem, incluindo ofertas voltadas a públicos específicos como idosos, religiosos e LGBT.
Segundo o executivo, a recuperação do mercado nacional de turismo, que vinha engrenando no segundo semestre do ano passado, desacelerou no final do ano em meio à segunda onda da Covid-19. Mas a expectativa dele é de uma recuperação “muito forte” a partir de segundo semestre, em meio ao andamento dos programas de vacinação.
Hoje a CVC está vendendo cerca de 40% do volume anterior à pandemia, por conta da segunda onda de infecções por coronavírus no Brasil. Em dezembro, a empresa chegou a vender até 70%.
“Estou mais confortável hoje que no início de dezembro, porque a solução está dada. Apesar de todos os atrasos no Brasil, vamos ter vacinação, sim, e vamos encerrar o ano com toda a população imunizada”, disse o executivo. Ele comentou que a empresa está com cerca de 1.250 lojas abertas no país, 90% da base da empresa antes da pandemia.
Mas no mercado de viagens internacionais, uma recuperação mais consistente deve ocorrer apenas a partir de 2022, afirmou. Ele acrescentou que a CVC voltará a ter o tamanho que tinha em 2019 no final de 2022.
Sobre a Argentina, o executivo afirmou que é um mercado importante para a CVC, mas que está sofrendo muito com os efeitos da pandemia. Segundo ele, a CVC terá que reduzir escala no país para atravessar a crise. “No pior cenário possível vamos precisar de US$ 8 milhões na Argentina este ano… Estar na Argentina é muito importante, mas precisamos revisitar a operação.”
Ao longo da apresentação, Andrade Neto, que foi eleito para a presidência da CVC em abril do ano passado, fez algumas críticas ao legado deixado pela administração anterior da companhia com relação à falta de investimentos em tecnologia e melhoria de processos.
Segundo ele, a CVC tem 10 departamentos internos, “backoffices”, “que mal falam entre si e que estão trabalhando manualmente”. Para resolver isso, o executivo está promovendo um grande programa de digitalização para integrar as áreas e simplificar processos de modo a suportar o lançamento dos novos produtos, que incluem um novo aplicativo da empresa para os clientes que deve ser disponibilizado em abril.
“A empresa fez aquisições muito fortes, mas sem nenhum investimento em sinergia, ou relevante em tecnologia, sem planejamento adequado”, disse o executivo.
“É estranho que uma empresa desse tamanho, com milhares de funcionários, bilhões passando aqui dentro não tenha área de compliance efetiva… e opere com muito trabalho manual. Isso é resultado de tecnologia obsoleta com legado muito confuso, mas todos os problemas estão endereçados e vão melhorar”, afirmou sem precisar os ganhos de eficiência a partir dos esforços de digitalização.