A rede de farmácias Raia Drogasil (RADL3), dona da Raia tem intensificado sua atuação nos canais online com objetivo de criar um ecossistema voltado para a saúde e bem-estar dos clientes. A companhia atingiu R$ 656,1 milhões de receita em canais digitais no primeiro trimestre, segundo seu último balanço financeiro, o que representa crescimento de 51,2% sobre o mesmo período do ano anterior.
Mas o que tem saltado os olhos da companhia é o aplicativo de compras lançado no fim de 2018. Desde o primeiro trimestre de 2019, a empresa registra um total de 18,3 milhões de downloads – e mais da metade das vendas feitas pelo e-commerce vem do aplicativo. O propósito agora é aumentar essa fatia, embora a companhia não tenha detalhado quais são as metas que quer atingir.
“O cliente de aplicativo é diferente, ele tem um relacionamento diferente, ele compra mais, é mais fiel. É esse cliente que nós estamos atrás de aumentar a base”, disse Marcílio Pousada, presidente da companhia, em entrevista ao Investnews durante o CEO Circle: A Transformação de Empresas em Ecossistemas, promovido pelo Experience Club na capital paulista nesta semana.
O desafio, entretanto, passa por um enfrentar um cenário no qual os aparelhos celulares suportam poucos aplicativos. “A estratégia é trabalhar para reduzir o peso do aplicativo, ao mesmo tempo que a gente coloca mais funcionalidades (para torná-lo ainda mais atrativo). Mas, por isso, também temos nossos websites e o contato via WhatsApp entre clientes e lojas. Desta forma continuarmos no celular dos clientes, mas sem necessidade de baixar o aplicativo”, complementou Flavio Correia, diretor de relações institucionais e com investidores da empresa.
Digitalização
Pousada comentou ainda que a estratégia digital da companhia está baseada em três pilares: o primeiro é transformar a farmácia num health center, ou seja um centro de saúde, que vai além de um espaço para compra de produtos, e o segundo passa por ampliar o sortimento de produtos do marketplace (shopping virtual) e o número de vendedores conectados a esse ecossistema.
O terceiro pilar está associado à criação de uma plataforma de serviços de saúde, a Vitat, considerada como “ponto final da estratégia” pelo executivo e que inclui produtos, serviços e conteúdo para ajudar a promover a saúde e do bem-estar das pessoas. “Nossa busca é pelo cliente saudável”, disse.
Pousada mencionou ainda o RD Venture, fundo criado há uma ano e meio para investimentos em startups que atuam em diferentes setores da saúde. “Já compramos oito empresas. Isso que a gente entende que é o ecossistema: poder oferecer vários produtos e serviços para cuidar da vida do cliente”.
Entre as últimas aquisições feitas pela Raia Drogasil, estiveram a Amplimed, empresa de software de prontuário médico, a Labi Exames, voltada para exames laboratoriais, e a Conecta Lá, integrador de pequenos vendedores aos grandes marketplaces. Confira abaixo a entrevista com o executivo:
InvestNews – No último balanço trimestral, vocês comentaram que aprofundaram a diversificação de farmácias. Quais os próximos passos?
Marcílio Pousada – A empresa está em todos os estados do Brasil, tem 2.600 lojas e chegamos nesse feito em novembro do ano passado. Apesar de ser o maior negócio de varejo farmacêutico do país, temos só 15% de share (participação), tem muita coisa para crescer […] Há 80 mil farmácias no Brasil e temos 2.600. Então tem muito lugar para entrar, estamos cada vez mais no interior, cada vez mais adensando todas as capitais.
InvestNews – De que forma a inflação está impactando os negócios e de que forma impacta no futuro?
Marcílio Pousada – O preço de medicamento é regulado pelo governo todo o dia 1º de abril. Esse é um ciclo natural. Esse aumento acontecendo regularmente é repassado ao consumidor, não de maneira mais abrupta, já que a gente tenta não perder essa relação com o consumidor, mas vai repassando com calma. Mas acho que a inflação atrapalha no aumento de custos, de pessoas, aluguel, combustível, um ciclo natural que o país vive.
InvestNews – E a recomposição inflacionária dos preços dos medicamentos para o segundo trimestre?
Marcílio Pousada – No varejo normal, em que o preço não é regulado, essa reposição inflacionária acontece automaticamente, no nosso que é regulado o resultado do primeiro trimestre sofre um impacto de uma inflação alta com preço reprimido, o resultado do segundo trimestre sofre o impacto de inflação alta, mas com o preço já ajustado.
InvestNews – Aonde vocês querem chegar do ponto de vista de digitalização?
Marcílio Pousada – A gente começou o processo de digitalização forte na companhia desde 2018. Já tinha o site, mas não tinha o aplicativo. Temos 18 milhões de clientes com o aplicativo na mão, o cliente de aplicativo é diferente, ele tem um relacionamento diferente, ele compra mais, é mais fiel, ele não quer só a compra.
Ele quer uma transação em que ele sabe onde estão os pedidos dele, está na mão. É esse cliente que nós estamos atrás de aumentar a base. Hoje 10% do nosso negócio já é digitalizado, e 60% da venda é pelo celular .
Além disso, 91% das entregas são feitas pelas farmácias, nosso negócio é o mais multicanal do Brasil. Todo mundo faz uma parte das entregas pelas lojas e outra boa parte pelos CDs (centro de distribuição). O nosso é ao contrário, a maior parte é pelas lojas, por uma característica do nosso negócio e pela estratégia que a gente montou.
InvestNews – Não só a RD, mas outras empresas do setor registram queda no acumulado do ano na bolsa. A quais fatores você atribui essa desvalorização?
Marcílio Pousada – A nossa ação é bem defensiva, é um setor resiliente, nosso foco de crescimento está no envelhecimento da população. A população brasileira com mais de 60 anos vai dobrar em 15 anos, então vamos ter esse mercado de crescimento, é natural. O ciclo do preço de ação não depende de mim, é do mercado. O país é um país com ciclos pesados. Nossa ação até que sofreu menos que as outras, mas é normal, a gente olha como um ciclo natural […] Sempre uma inflação alta, sofrem as empresas de consumo, isso é natural, a gente sofreu pouco.
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