A Tesla passará por um período de transição pelo próximo ano ou mais. A empresa vai perder os incentivos para veículos elétricos nos Estados Unidos e precisará de tempo para lançar veículos autônomos, informou Musk.
“Provavelmente poderemos ter alguns trimestres difíceis”, disse Elon Musk. “Mas assim que atingirmos a autonomia em escala no segundo semestre do ano que vem, eu ficaria surpreso se a situação financeira da Tesla não for muito atrativa.”
As ações da Tesla caíram enquanto Musk falava após o fechamento do pregão nos EUA.
Tarifas de Trump atingem a Tesla
Os comentários de Musk foram os mais contundentes até agora sobre as consequências para a Tesla do pacote fiscal que o presidente Donald Trump assinou este mês.
Além de eliminar gradualmente os créditos fiscais de US$ 7.500 para a compra de veículos elétricos, a lei tirou os padrões federais de economia de combustível que geraram receita significativa para a Tesla ao longo dos anos.
A crítica do CEO da Tesla ao projeto de lei — que ele chamou de “abominação repugnante” — solidificou o rompimento de Musk com Trump dias após ele deixar um cargo de destaque no governo.
A Tesla reportou lucro ajustado de US$ 0,40 por ação, abaixo das estimativas já reduzidas de Wall Street. A receita caiu 12%, indo para US$ 22,5 bilhões, a maior queda em pelo menos uma década. As entregas de veículos recuaram e o preço médio de venda dos carros também caiu.
A empresa também registrou queda nas vendas de geração e armazenamento de energia e informou que os custos com tarifas aumentaram cerca de US$ 300 milhões. O impacto das taxas deve aumentar nos próximos trimestres.
A tradicional unidade de fabricação de automóveis da Tesla enfrenta dificuldades diante da crescente concorrência e das contínuas consequências das atividades políticas de Musk. Os investidores têm se mostrado, em grande parte, dispostos a ignorar a queda nas vendas e a se concentrar nas promessas do CEO relacionadas à inteligência artificial, robôs e tecnologia de direção autônoma.
Neste trimestre, no entanto, Musk deu mais ênfase à turbulência que impede a Tesla de começar a ver os resultados desses investimentos.
“Há algumas dificuldades iniciais na transição de um mundo pré-autonomia para um mundo pós-autonomia”, declarou Musk.
Na teleconferência, os executivos passaram relativamente pouco tempo na discussão sobre o negócio de veículos elétricos, e dedicaram boa parte do tempo para discutir sobre a expansão planejada do serviço de robotáxi recém-lançado pela Tesla, um novo restaurante inaugurado em Los Angeles e se a empresa poderia investir na startup de IA do CEO.
Controle de Musk
Musk também reiterou o desejo por uma participação acionária maior na Tesla, que sugeriu que ela deveria ser maior para evitar a saída dele por qualquer investidor ativista. O pagamento multibilionário de Musk à Tesla foi anulado por um juiz de Delaware no final do ano passado, mas a empresa recorreu da decisão. A Tesla também transferiu a sede para o Texas.
“Acredito que meu controle sobre a Tesla deve ser suficiente para garantir que ela siga em uma boa direção, mas não tanto que eu não possa ser expulso caso enlouqueça, disse Musk.
A marca Tesla tornou-se cada vez mais polarizada após o apoio de Musk a Trump. Durante o breve mandato de Musk como assessor do governo, as tentativas de Musk de cortar gastos governamentais geraram críticas de muitos consumidores da Tesla, tradicionalmente de esquerda, enquanto alguns investidores temiam que o projeto fosse uma distração.
Vários analistas reduziram as projeções para a empresa nas últimas semanas.
O diretor financeiro, Vaibhav Taneja, alertou que o projeto de lei de impostos e gastos recentemente aprovado nos EUA prejudicará a demanda.
A receita com créditos regulatórios — uma área que se tornou uma fonte significativa de receita para a empresa — caiu para US$ 439 milhões no segundo trimestre. Isso representa uma queda de 26% em relação ao primeiro trimestre e de 51% em relação ao ano anterior.
Espera-se que essa receita caia drasticamente conforme o governo Trump elimina as penalidades para montadoras que não atendem aos padrões federais de economia de combustível. O governo também tomou medidas para terminar o mandato de vendas de veículos elétricos da Califórnia e acabar com limites federais para emissões de escapamento.
