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Negócios

Novonor e Petrobras propõem que bancos façam parte do bloco de controle da Braskem

Estatal e ex-Odebrecht querem que bancos convertam dívida de R$ 15 bi

Três meses depois de a negociação da venda da petroquímica Braskem (BRKM5) para a petroleira dos Emirados Árabes Adnoc fracassar, uma nova proposta para solucionar o imbróglio envolvendo a petroquímica foi colocada à mesa. Desta vez, a negociação acontece entre Novonor (ex-Odebrecht), Petrobras (controladores da companhia) e os cinco bancos credores, sem a participação de um player externo.

Segundo fontes ouvidas pelo InvestNews, a ideia é transformar os bancos credores – Itaú, Bradesco, Santander, Banco do Brasil e BNDES – em co-controladores da Braskem. Ou seja, eles passariam a ser os donos das ações da Braskem que pertencem à Novonor e que foram dadas aos bancos como garantia de uma dívida de R$ 15 bilhões contraída entre 2014 e 2019. Caberia a essas instituições a escolha de quem faria a gestão da petroquímica.

A proposta feita por Novonor e Petrobras aos bancos prevê ainda que a Novonor permaneça como acionista, com uma fatia de 4% da Braskem. E esse é justamente o ponto de maior resistência por parte dos bancos. Segundo fontes que acompanham as negociações, as instituições financeiras estão dispostas a avançar nessa conversa, desde que a Novonor fique de fora da sociedade.

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Procurados, Novonor, Petrobras, Braskem, Itaú, Bradesco, Santander, Banco do Brasil e BNDES não quiserem comentar o assunto ou não responderam ao pedido de entrevista.

A Petrobras é dona de 36,1% do capital total da Braskem. Outros 25,6% estão pulverizados no mercado. Já a Novonor é a acionista majoritária, com uma fatia de 38,3% do capital total. Só que, em meio à crise  deflagrada pela Operação Lava Jato, a ex-Odebrecht deixou todas essas ações nas mãos dos cinco bancos, como garantia de sua dívida. É essa fatia que está, há anos, em discussão.

Disputa de longa data

Grandes companhias, tanto brasileiras como estrangeiras, já manifestaram interesse em comprar o controle da Braskem. Somente em 2023, a companhia recebeu ofertas da petroquímica Unipar, do grupo J&F e da Adnoc, estatal do setor de petróleo dos Emirados Árabes. O que inviabilizou o avanço das conversas foi, segundo fontes, uma certa intransigência por parte dos bancos em relação ao preço oferecido.

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A questão é que a dívida da Novonor com os bancos é de cerca de R$ 15 bilhões, mais do que o valor de mercado (número de ações da companhia multiplicado pelo valor negociado hoje na bolsa) da Braskem, de pouco mais de R$ 14,3 bilhões. Além da demora na venda, o que vem prejudicando a companhia é o momento negativo que o setor petroquímico enfrenta globalmente. Além disso, pesaram sobre a empresa o desembolso de R$ 4,4 bilhões em indenizações por causa do desastre ambiental em Maceió.

Fábrica da Braskem no Pólo Industrial da cidade de Camaçari
Fábrica da Braskem no Pólo Industrial da cidade de Camaçari. Foto: Adobe Stock Photo

Com essa perda de valor da companhia, os bancos receberiam menos do que o valor da dívida em qualquer uma das ofertas apresentadas. É o que se chama, no jargão de mercado, de haircut.

Na proposta que está sobre a mesa agora, o desconto para os bancos seria ainda maior. Se os bancos aceitarem as condições do acordo, eles receberiam um lote de ações que vale atualmente R$ 5,4 bilhões. Muito menos do que a dívida da Novonor. A questão é que, depois de tantos anos, e diante do risco da Braskem ter que pagar uma indenização adicional em Maceió, o espaço para os bancos reaverem o dinheiro integral da dívida vai ficando muito pequeno. 

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Há outro elemento que também tem atrasado uma solução para a Braskem: a disposição em se associar à Petrobras. No acordo proposto agora, essa é uma questão com bastante peso. Especialistas que acompanham o setor veem com preocupação o aumento da participação do governo e da Federação Única dos Petroleiros (FUP) na gestão da estatal. Segundo o jornal Folha de S.Paulo,  foram realizadas  trocas em 17 gerências-executivas, cargo que fica logo abaixo da diretoria e é o último degrau técnico na hierarquia da estatal. Desses, três profissionais são ligados à  FUP e uma ao PT. “A FUP está mandando na Petrobras e isso é preocupante”, afirma um executivo, sob condição de anonimato.

Nesse cenário, um acordo entre Novonor, Petrobras e bancos não é óbvio. De um lado, há pouco interesse dessas instituições estabelecerem uma sociedade com a estatal. De outro, é pouco promissora a chance de os bancos venderem essas ações no mercado a um valor interessante. O ponto é que, depois de tanto tempo, talvez esse seja o caminho mais plausível de encerrar o assunto com a Novonor.

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