A indústria farmacêutica dos EUA está usando cada vez mais a inteligência artificial (IA) para testar e descobrir novas drogas. O objetivo é ter resultados mais rápidos e mais baratos, em linha com a agência norte-americana que regula o setor (FDA) para reduzir os testes em animais.

Assim, as farmacêuticas americanas acreditam que em até cinco anos, o uso da IA e a redução de testes em animais poderão acelerar cronogramas e diminuir custos em pelo menos 50%. A previsão é resultado de um levantamento feito com 11 especialistas de empresas farmacêuticas e companhias de biotecnologia.

A produtora de software de desenvolvimento de medicamentos Certara e empresas de biotecnologia como a Schrodinger e a Recursion Pharmaceuticals já estão usando IA para prever como os drogas experimentais podem ser absorvidas, distribuídas ou desencadear efeitos colaterais.

“A indústria farmacêutica dos EUA vai chegar ao ponto em que não vai precisar fazer testes em animais”, disse Patrick Smith, presidente de soluções de desenvolvimento de medicamentos da Certara. A companhia trabalha com empresas que desenvolvem medicamentos para doenças infecciosas, como anticorpos monoclonais para hepatite B.

A diretoria da Recursion informou que sua plataforma de descoberta de medicamentos baseada em IA levou 18 meses para testar uma drogaa contra o câncer. A média do setor é de 42 meses.

Os analistas da TD Cowen e da Jefferies esperam que essas abordagens baseadas em IA reduzam custos e  acelerem prazos em mais da metade, em comparação com as estimativas atuais de até 15 anos e US$2 bilhões necessários para se colocar um medicamento no mercado.

A tendência também se alinha com a visão da FDA de abordagens como tecnologias orientadas por IA, modelos de células humanas e modelos computacionais se tornando o novo padrão, já que a agência planeja tornar os estudos em animais a exceção para testes pré-clínicos de segurança e toxicidade em três a cinco anos.

O mercado espera que as novas abordagens também levem a preços mais baixos para os medicamentos, disse a FDA em abril, quando delineou um roteiro para as empresas reduzirem a dependência de testes em animais, especialmente para medicamentos de anticorpos monoclonais.

Especialistas duvidam

Ainda assim, especialistas do setor acreditam que é improvável que os novos métodos substituam totalmente os testes em animais.

De acordo com os requisitos atuais da FDA para anticorpos monoclonais, as empresas realizam estudos em animais para testar os efeitos nocivos de um medicamento. Esses estudos normalmente levam de um a seis meses e requerem, em média, cerca de 144 primatas não humanos, a um custo de US$ 50 mil cada, de acordo com a agência.

Charles River, uma das maiores empresas contratadas de pesquisa do mundo, está entre os pilares do setor que investem em IA e nas chamadas “metodologias de nova abordagem” (NAM).

Essas NAMs usam IA, modelagem baseada em computador e aprendizado de máquina, bem como modelos baseados em humanos, como órgãos em chips, para prever como um medicamento pode funcionar no corpo de uma pessoa. Um órgão em um chip é um pequeno dispositivo revestido com células humanas vivas que replicam as principais funções de um órgão.

O portfólio de NAM da Charles River já gera cerca de US$ 200 milhões em receita anual.

Modelos 3D

A InSphero está testando a segurança e a eficácia em modelos de fígado em 3D – onde microtecidos de fígado cultivados em laboratório ajudam a replicar as funções do órgão.

A Schrodinger, sediada em Nova York, combina simulações baseadas em física com IA para prever a toxicologia de medicamentos.

Mas especialistas do setor dizem que, em um futuro próximo, as empresas usarão uma abordagem híbrida, reduzindo os testes em animais e complementando com dados desses novos métodos.

“Não acho que chegaremos a um ponto imediato, no curto prazo, em que, de repente, os testes em animais desapareçam totalmente”, disse Brendan Smith, analista de ciências da vida e biotecnologia da TD Cowen.