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Negócios

Remessa Online vê faturamento crescer com pequenos e médios exportadores

Fintech estima que, a partir de dezembro, metade do valor faturado venha de serviços para este público; fatia pode chegar a 70%.

Alexandre Liuzzi, co-fundador da Remessa Online

Foi durante a pandemia que Fernando Pavani e Alexandre Liuzzi, fundadores da plataforma de transferências internacionais Remessa Online viram o fluxo de clientes pessoas físicas diminuir. O aumento das barreiras sanitárias restringiu as atividades de brasileiros no exterior, como viagens e cursos, e, consequentemente, o envio de dinheiro para contas internacionais pela fintech desacelerou.   

Na ocasião, a dupla enxergou a oportunidade de intensificar a tímida atuação, até então, com pequenas e médias empresas brasileiras exportadoras de serviços e criou o Remessa Online for Business, plataforma para recebimento e transferência internacional especializada em pessoas jurídicas.

“Desde 2018 estudávamos esse segmento. Começamos com um teste em 2019, mas o lançamento oficial foi no início de 2020, o que coincidiu com a pandemia”, explicou Alexandre Liuzzi, co-fundador e diretor de estratégia e inovação da Remessa Online em entrevista ao Investnews.

De acordo com Liuzzi, grande parte dos pequenos e médios empreendedores estava acostumada a visitar pessoalmente o gerente do banco ou o corretor no momento de fazer alguma transferência internacional. O hábito, porém, começou a mudar com a necessidade de isolamento social trazido pela pandemia. “Essas empresas tiveram que buscar uma solução online. Na ocasião, éramos a única plataforma fazendo isso”, afirmou. 

Além disso, a própria pandemia acelerou a exportação de serviços por pequenos negócios como forma de buscar outras fontes de receita. Levantamento feito pelo Sebrae mostrou que mais de 1 milhão de pequenas e médias empresas (PMEs) foram abertas no Brasil entre janeiro e abril deste ano, o que corresponde a 25% do total de negócios abertos durante 2020 – público que passou a demandar transferências internacionais.

“O número de consultorias, empresas de design e geradoras de conteúdo que estão prestando serviços para fora aumentou muito. E, um grande percentual dos nossos clientes está fazendo esse processo de câmbio pela primeira vez”, explicou. 

A partir de dezembro deste ano, 50% do faturamento da Remessa Online já deve ser proveniente dos serviços voltados para os pequenos e médios negócios. Mas a empresa quer ir além com o público empreendedor. “Estamos arranhando a superfície em termos de potencial. Este é um mercado substancialmente maior do que o segmento de pessoas físicas. O segmento for business poderá chegar a 70% do nosso faturamento em alguns anos”, explicou.

Um dos passos para abocanhar mais uma fatia deste marcado é tornar o processo de transferência mais eficiente com o auxílio da tecnologia. Atualmente, a transferência feita por uma pessoa jurídica pode demorar até um dia para ser efetivada, enquanto o prazo para a pessoa física é de até 15 minutos.

“Queremos reduzir também o tempo da transação para as empresas para menos de duas horas. Nosso foco é no desenvolvimento tecnológico para poder melhorar a experiência do cliente e ofertar mais soluções de serviços internacionais, principalmente para o público de empresas”.

Startups

Em junho do ano passado, a Remessa recebeu um aporte de R$ 110 milhões em uma rodada liderada pela gestora de venture capital Kaszek Ventures, investidora de empresas como Nubank e Quinto Andar, e pelo investidor Kevin Efrusy, do fundo norte-americano Accel.

Com os recursos, a empresa deu mais um passo: lançou o Remessa Startups, que atua de forma consultiva ao ajudar startups no processo de internacionalização, além de oferecer mentorias com o objetivo de prepará-las para captarem recursos no exterior. “Conseguimos auxiliar essa empresa a fazer a estruturação necessária para abrir um offshore (conta no mercado internacional), já que hoje 80% do venture capital (investimentos em empresas com expectativa de crescimento rápido) vêm de fundos internacionais especializados”, esclareceu Alexandre Liuzzi.

O executivo afirmou ainda que a plataforma propõe garantir maior agilidade no recebimento desses aportes e ajudar a diminuir as dificuldades com o enquadramento às regras fiscais brasileiras e no país onde ocorrerá o investimento.

A companhia informou que, no primeiro semestre, foram trazidos para o Brasil R$ 874,9 milhões destinados às startups em fase inicial de operação. O montante representa um crescimento de 151% em comparação com o mesmo período do ano passado. Sem dar detalhes, Luizze afirmou que a Remessa Online espera anunciar, ainda em 2021, mais um aporte de R$ 250 milhões, que deve ajudara alavancar os serviços voltados aos pequenos e médios negócios. “Devemos ter novidade no final do ano”, reiterou.

Fundação e planos para IPO

A Remessa Online foi fundada em 2016, quando Fernando Pavani convidou Alexandre Liuzzi (ambos vindos do mercado financeiro) para integrar a sociedade. O objetivo da dupla era atuar em uma grande dor do mercado: a transparência nas informações. “Como o dólar varia muito, os bancos nunca relevaram o quanto cobravam, as tarifas eram ocultas, e nós fomos os pioneiros a mostrá-las aos clientes”, disse Liuzzi.

Ao entrar na plataforma da Remessa, o cliente é informado sobre o valor do câmbio no momento da transferência; a taxa de administração cobrada (percentual que varia conforme o valor e a recorrência), além do IOF (imposto sobre operações financeiras) que será pago sobre a transação. “Foi aplicando tecnologia e ganhando mais escalas em volumes transacionados que conseguimos chegar à tarifa que temos hoje”, reiterou.

De acordo com o executivo, a taxa cobrada pela Remessa é 75% menor em relação ao valor cobrado pelos bancos tradicionais. “Sabíamos que, por conta do oligopólio bancário, o spread cobrado era muito maior do que o necessário. Além disso, havia muita ineficiência por conta do processo manual, falta de integração e custos com uma estrutura que não foi renovada. O nosso papel é usar a tecnologia para ser mais competitivo”, informou.

Desde a fundação da empresa, em 2016, até o ano passado, a empresa movimentou R$ 11 bilhões. Para este ano, a expectativa é atingir um montante de R$ 14 bilhões. Já para 2022, a projeção é dobrar de tamanho é alcançar um faturamento de R$ 30 bilhões, valor que deve ser apoiado fortemente pelo segmento de pessoas jurídicas.  

A companhia também tem a intenção de fazer uma oferta inicial de ações (IPO, na sigla em inglês), porém não é algo previsto para o curto prazo. “A partir do final deste ano e começo de 2022 já vamos ter faturamento e lucro para um IPO, porém não é algo para fazer no próximo ano”, esclareceu Liuzzi.

Competividade

Em setembro, o Banco Central alterou a Resolução nº 3.568, de 29 de maio de 2008, e a Resolução nº 4.033, de 30 de novembro de 2011, ao possibilitar que as instituições de pagamento autorizadas a funcionar pelo Banco Central possam também operar no mercado de câmbio, o que amplia o leque de empresas que podem oferecer serviços de transferências internacionais.

De acordo com o BC, a mudança contribui “para estimular maior competitividade no segmento de pagamentos e transferências internacionais ao aumentar as alternativas disponíveis ao público para a realização de operações de câmbio”. Segundo a autarquia, as mudanças consideram as “inovações tecnológicas e os novos modelos de negócio relacionados a pagamentos e transferências internacionais”.

Questionado se essas mudanças podem criar um ambiente mais competitivo e desafiador para a Remessa Online, Alexandre Liuzzi afirmou que o mercado de câmbio é menos competitivo do que o mercado de pagamentos e crédito composto por diversas fintechs.

“Entendo que com a modernização da regulamentação do Banco Central criou a possibilidade de novos entrantes, mas temos uma solução justamente para atender os novos playeres que queiram oferecer o serviço aos seus clientes”, concluiu o executivo ao fazer referência a parceria da Remessa que viabiliza transferências e pagamentos internacionais.

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