A nova plataforma universal para veículos elétricos da montadora representa seus primeiros modelos movidos a bateria totalmente projetados do zero, após iniciativas iniciais como a picape plug-in F-150 Lightning não terem atendido às elevadas expectativas de vendas.
Esta nova plataforma dará origem a uma família de veículos elétricos, começando com uma picape média de US$ 30 mil (cerca de R$ 165 mil) em 2027, informou a liderança da empresa em comunicado nesta segunda-feira (11).
Em seguida, virão modelos movidos a bateria, que devem incluir um SUV crossover e um veículo para transporte por aplicativo, informou a Bloomberg, que custará menos de US$ 40 mil (R$ 220 mil), cerca de US$ 10 mil (R$ 55 mil) a menos que o preço médio de um carro novo nos EUA.
O CEO da Ford Jim Farley anunciou a nova linha de veículos elétricos como a grande aposta da Ford para assumir o crescente domínio global de fabricantes chineses de veículos elétricos, como a BYD e a Geely Automobile Holdings. É parte do que Farley chamou de “uma tremenda mudança” em relação à sua estratégia anterior de eletrificar seus maiores modelos, que foi amplamente abandonada há um ano, quando cancelou os planos para um SUV elétrico de três fileiras de assentos.
“Este é um momento Modelo T para a empresa”, disse Farley a analistas no mês passado, evocando o carro que colocou a Ford no mapa há um século. “Acreditamos que a única maneira de realmente competir efetivamente com os chineses em todo o mundo em veículos elétricos é nos esforçarmos para reprojetar e transformar radicalmente nossa cadeia de suprimentos de engenharia e processo de fabricação.”
Investimento da Ford
O esforço inclui um novo investimento de US$ 2 bilhões para converter a fábrica da Ford em Louisville, Kentucky, da produção de SUVs Escape a gasolina, um modelo que está sendo descontinuado, para a fabricação da nova linha de veículos elétricos.
Os modelos movidos a bateria levarão 40% menos tempo para serem construídos e exigirão 600 trabalhadores a menos que o Escape, graças a um design eficiente liderado pelo ex-executivo da Tesla Inc., Alan Clarke, no que a Ford chamou de “projeto skunk-works” na Califórnia. A fábrica de Louisville empregará 2.200 trabalhadores por hora para construir a linha de veículos elétricos, em comparação com os 2.800 anteriores, informou a empresa.
Os novos modelos terão mais espaço interno e recursos avançados, como direção sem as mãos. Eles serão alimentados por baterias de fosfato de ferro-lítio (LFP), de menor custo, que a Ford começará a fabricar no próximo ano em uma nova fábrica de baterias de US$ 3 bilhões em Marshall, Michigan, informou a empresa.
Sucessor para as picapes
Apesar da adoção de veículos elétricos menores e mais acessíveis pela Ford, a montadora ainda segue com os planos para um sucessor da picape grande F-150 Lightning. A montadora adiou repetidamente o lançamento de sua picape elétrica Série F de próxima geração e agora adiou seu lançamento para meados de 2028, ante o final de 2027, de acordo com uma pessoa familiarizada com a mudança.
A Ford afirmou em comunicado que comunicou o ajuste de cronograma a seus fornecedores e funcionários em junho.
A Ford planeja construí-la em um novo complexo fabril de US$ 5,6 bilhões em Stanton, Tennessee, em 2028. A fábrica, a primeira nova linha de montagem da Ford em meio século, tem capacidade para produzir mais de 300 mil picapes por ano, muito mais do que o mercado demanda atualmente.
Fazia parte do plano de US$ 50 bilhões de Farley, agora abandonado, de produzir 2 milhões de veículos elétricos por ano até 2026 e ultrapassar a Tesla como líder de mercado em modelos movidos a bateria.
Ainda não está claro como a Ford utilizará plenamente sua nova fábrica no Tennessee, embora Farley tenha sugerido que a fábrica também poderia produzir veículos elétricos de autonomia estendida, um novo tipo de híbrido plug-in.
Prejuízo
A Ford teve um prejuízo de US$ 5,1 bilhões em sua unidade de veículos elétricos no ano passado e afirmou que o déficit pode aumentar este ano, com o lançamento de sua nova linha de modelos movidos a bateria. Mas Farley afirmou que qualquer novo veículo elétrico da Ford deve ser acessível e lucrativo em seu primeiro ano no mercado. O consumidor comum tem se desanimado com o alto preço dos veículos elétricos.
“Todos nós já passamos por muitas tentativas de sucesso das montadoras de Detroit para fabricar veículos acessíveis, o que acaba em fábricas paralisadas, demissões e incertezas”, disse Farley em um comunicado.
A grande aposta da Ford em modelos movidos a bateria esbarra na cruzada do presidente Donald Trump contra o que ele chama de “mandato para veículos elétricos”. O pacote fiscal de US$ 3,4 trilhões de Trump está eliminando um crédito tributário de US$ 7.500 para consumidores em compras de veículos elétricos e quase descarrilou subsídios à produção que eram cruciais para o argumento de negócios da Ford para sua fábrica de baterias em Michigan.
A montadora pressionou intensamente para proteger esses créditos de produção, incluindo um recurso do presidente executivo Bill Ford, bisneto do fundador Henry Ford.
A Ford também afirmou que as tarifas de Trump custaram à empresa US$ 800 milhões no segundo trimestre e representam um obstáculo de US$ 2 bilhões para o ano. Isso apesar do fato de a empresa sediada em Dearborn, Michigan, produzir mais carros nos Estados Unidos do que qualquer outra montadora.