Anunciada em agosto de 2024, a fusão de Petz e Cobasi foi aprovada por maioria nesta quarta-feira (10) pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), mas com a imposição de remédios, como a venda de lojas e compromissos comportamentais. A aprovação cria a maior rede de petshops do Brasil, um grupo que tem hoje mais de 480 lojas em cerca de 20 estados e faturamento da ordem de R$ 7 bilhões.

Em fato relevante, a Petz informou que o Acordo em Controle de Concentrações (ACC) proposto pelo Cade prevê a venda de 26 lojas em São Paulo, o que representa 3,3% do faturamento da companhia combinada nos últimos 12 meses. O InvestNews apurou que o pacote de lojas a serem vendidas é dividido “praticamente de forma igualitária” por Petz e Cobasi.

O pacote de desinvestimentos não foi detalhado na sessão. O relator José Levi recomendou a aprovação da fusão com restrições e citou como referência recente a fusão do iFood e da Shopper, que recebeu o aval do órgão antitruste em fevereiro deste ano.

A conselheira Camila Cabral Pires Alves foi a única a divergir, afirmando que esse era “o caso mais difícil do varejo já analisado pelo Cade”.

A decisão desta quarta também reverte, em partes, o tom do desfecho preliminar. A Superintendência-Geral havia aprovado a fusão em 2 de junho, sem impor remédios — e a decisão foi contestada pela Petlove, homologada como terceira interessada no processo.

Petlove quer comprar lojas

Na disputa pelo “pós-aval”, a Petlove se movimentou para se colocar como uma alternativa natural na compra dos ativos que serão vendidos. Em petição pública protocolada no processo, a empresa afirmou ter interesse no eventual pacote de desinvestimentos e defendeu que seria o melhor comprador para fortalecer um rival capaz de competir com a companhia combinada.

A Petlove argumentava, porém, que o remédio deveria ser ampliado, dado estudo do departamento de estudos econômicos do cade que identificou “40 locais” onde não foi possível afastar preocupações concorrenciais — cerca de 10% do total do mercado em que Petz e Cobasi operam.

“Entendemos que esse remédio não é suficiente para criar um rival efetivo capaz de equilibrar o jogo competitivo”, diz a Petlove em comunicado enviado à imprensa após a aprovação do Cade e a sinalização de venda de 26 lojas de Petz e Cobasi. De acordo com a concorrente da nova companhia criada, a rivalidade entre as agora sócias “beneficiava todo o ecossistema”.

Além da Petlove, outra companhia teria sinalizado interesse, afirmou o presidente do Cade, Gustavo Augusto Freitas de Lima. “Se vai dar certo ou não é o que vamos medir e monitorar”, afirmou Lima, sobre o ACC antes de proclamar a decisão que liberou a criação da nova companhia.

O que dizem Petz e Cobasi

A Petz e a Cobasi recebem com satisfação a decisão do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) que aprova a união entre as duas companhias.

A avaliação técnica do órgão reconhece que a operação preserva e estimula a livre concorrência no setor, em benefício direto do mercado, dos consumidores e de toda a cadeia pet.

A combinação das duas empresas fortalece a capacidade de investimento, amplia a eficiência operacional e cria condições para acelerar a inovação, a expansão do atendimento e a oferta de produtos e serviços de ainda mais qualidade em todo o país.

Petz e Cobasi reiteram seu compromisso com o desenvolvimento do mercado pet brasileiro, com a livre iniciativa e com as melhores práticas de governança e concorrência.

O que diz a Petlove

missão da Petlove é tornar o cuidado com o pet acessível para todos, oferecendo uma experiência incrível para tutores e empoderando médicos-veterinários e empreendedores. Tudo o que ameaça esse propósito merece nossa atenção.

A Petlove sempre teve uma posição ativista no mercado. Lutamos por causas que melhoram o bem-estar animal e impulsionam um setor mais ético e responsável. Fizemos isso quando lançamos a campanha Petlove Não Vende, denunciando a venda de animais em vitrines e de produtos que fazem mal aos pets. Fizemos isso com o Chega de Fogos, chamando atenção para o trauma (e em alguns casos até morte) causado por fogos barulhentos em pets. Fizemos isso ao promover a inclusão com a campanha para pets com deficiência.

Defender a concorrência e atuar contra a formação de um monopólio no mercado pet é apenas uma extensão natural desse compromisso.

A fusão entre Petz e Cobasi é o maior acontecimento do setor nos últimos anos. A empresa resultante, com mais de R$ 7 bilhões de faturamento, terá uma escala e um domínio territorial impossíveis de serem replicados por qualquer outro player. Não existe concorrente do mesmo porte. O mais próximo é a própria Petlove, três vezes menor. Depois da Petlove, todos os demais players são trinta vezes menores que a nova empresa formada. Ou seja: Petz e Cobasi, juntas, terão posição monopolista em centenas de mercados no Brasil.

E monopolistas representam riscos concretos: prejudicam a competição, ameaçam a sobrevivência de pequenos empreendedores, criam barreiras quase intransponíveis para novos entrantes e, invariavelmente, levam ao aumento de preços para milhões de consumidores. No mercado pet, quem paga essa conta não são apenas as famílias — são também os pets.

É exatamente esse cenário que fere profundamente a missão da Petlove. Por isso, nos posicionamos contra a fusão e defendemos remédios capazes de preservar a rivalidade que Petz e Cobasi exerciam entre si, uma rivalidade que beneficiava todo o ecossistema.

Acreditamos profundamente na competição. Entendemos que, em um mercado justo e equilibrado, há espaço para todos. E sabemos que inovação, qualidade e experiência surgem quando empresas precisam disputar o coração dos clientes, e não quando operam sem rivais à altura.

Após a aprovação sem restrições pela SG, o Tribunal do CADE impôs, como condicionante, a venda de 26 lojas no Estado de São Paulo. Entendemos que esse remédio não é suficiente para criar um rival efetivo capaz de equilibrar o jogo competitivo.