Enquanto os dois primeiros recebem o dinheiro imediatamente, o Assaí só terá reforço de caixa na segunda etapa da transação. Cada empresa receberá cerca de R$ 260 milhões por sua participação, mas apenas GPA e Casas Bahia têm direito ao valor agora, cerca de R$ 520 milhões, – a Casas Bahia com o maior cheque, de R$ 266,1 milhões.
Para GPA e Casas Bahia, o acordo funciona como um “presente de Natal”: os dois atravessam um período de estresse financeiro e ganham uma folga imediata em meio a dívidas altas, margens apertadas, vencimentos concentrados no curto prazo e fechamento do balanço de 2025 para cumprir suas obrigações financeiras (“covenants“).
O GPA, dono do Pão de Açúcar e Extra, encerrou o último trimestre com dívida líquida de R$ 2,7 bilhões e alavancagem de 3,1 vezes o resultado operacional (Ebitda) – metade da dívida vence em 12 meses, pressionando a rolagem. A companhia já havia sinalizado ao mercado que precisava reforçar o caixa em cerca de R$ 1 bilhão; a venda da FIC cobre parte desse esforço.
A Casas Bahia está em um momento de reconstrução de sua estrutura de capital. Em junho, realizou uma das maiores conversões de dívida em ações do ano, transformando R$ 1,57 bilhão em debêntures em ações – uma operação que reduziu a dívida líquida de R$ 3,37 bilhões para R$ 1,81 bilhão e entregou quase 80% do capital aos credores, com a gestora Mapa Capital assumindo o controle. Os R$ 266 milhões da venda chegam como um reforço imediato de liquidez.
O Assaí, por sua vez, participa da transação sob outra dinâmica: não vende sua fatia agora. Pelo acordo, o Itaú comprará a participação indireta da rede daqui a dois anos, quando se concluir a segunda fase da operação. Até lá, a exclusividade da FIC nos produtos financeiros oferecidos ao Assaí permanece válida. Para a companhia, que reduziu a alavancagem para 3,03 vezes o Ebitda – menor nível desde 2021, ainda alto em termos absolutos – a venda tem caráter estratégico, não emergencial.
Financeira das varejistas
Com a operação concluída, o Itaú se tornará o único acionista da financeira, encerrando a joint venture criada há quase 20 anos para operar cartões e serviços bancários quando as três empresas faziam parte do mesmo grupo.
No curto prazo, nada muda para os clientes: os cartões co-branded seguem válidos e as parcerias atuais permanecem até o fim contratual. No médio prazo, GPA e Casas Bahia ficam livres para buscar novos parceiros financeiros.
A transação ainda depende do aval do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) e do Banco Central.