Na teleconferência de resultados do 3º trimestre de 2025, a diretoria comandada interinamente pelo CFO Rafael Russowsky anunciou um plano de eficiência que prevê economia anual de até R$ 800 milhões.
O pacote incluiu corte de mais de 700 funcionários, revisão de contratos e enxugamento de despesas administrativas, além da redução do capex para R$ 200 milhões a R$ 250 milhões por ano, após o fim do ciclo de expansão. No trimestre, o investimento total já caiu para R$ 146 milhões, e as despesas com vendas, gerais e administrativas recuaram para 19,5% da receita líquida, o menor patamar em dois anos.
O movimento marca a primeira guinada sob o comando da família Coelho Diniz, que se tornou a maior acionista da companhia, enquanto o grupo Casino deixou o controle e o ex-CEO Marcelo Pimentel se demitiu do cargo há poucos dias.
“Temos um novo paradigma daqui pra frente. O conselho, sob liderança do André [Coelho Diniz], passou a mergulhar nos números, questionar o status quo e trazer uma visão mais próxima da operação. Isso nos força a olhar para eficiência com outro rigor”, afirmou o executivo na teleconferência.
Segundo ele, o GPA é “uma companhia grande, mas que precisa se adaptar ao seu novo tamanho.” Esse movimento de redução e ajuste é parte de tornar a gestão mais realistas com a fase em que o GPA está.
O último fôlego
A gestão do GPA confirmou que negocia a venda de um ativo “relevante”, a ser concluída no curto prazo, sem detalhar qual, mas que terá todo o recurso destinado para a redução de dívida do grupo, hoje em R$ 2,7 bilhões.
A questão é que o GPA já vendeu boa parte de seu portfólio: vendeu os postos de combustíveis, a antiga sede administrativa e, anos antes, os hipermercados Extra, adquiridos pelo Assaí. Nos últimos ciclos, também promoveu vendas de imóveis e operações de sale-leaseback para reforçar o caixa — o que deixa pouco opção do que pode ser negociado.
Mesmo assim, a companhia avalia monetizar contratos de corretagem de seguros, tentando transformar uma despesa de cerca de R$ 200 milhões anuais em fonte de receita, com parcerias exclusivas no setor.
Passivo tributário
O passivo tributário segue como um dos principais desafios: ultrapassa R$ 15 bilhões, e cerca de 70% desse valor correspondem a multas e juros acumulados ao longo de disputas com a Receita Federal e a PGFN. Parte dessas garantias foi renovada neste ano, com pagamento antecipado de prêmios, o que aumentou a pressão de curto prazo sobre o caixa.
Para mitigar o impacto, o GPA vem reconhecendo créditos tributários relacionados a prejuízos fiscais acumulados. No trimestre, o reconhecimento desses créditos ajudou a sustentar o lucro líquido de R$ 145 milhões. O balanço mostra R$ 1,5 bilhão em créditos já ativados e outros R$ 2,1 bilhões a recuperar no longo prazo, além de R$ 600 milhões com alta probabilidade de aprovação.
A diretoria afirmou que o plano é usar parte desses créditos para compensar débitos federais e buscar acordos para reduzir penalidades e alongar prazos de pagamento.
Novo comando
A virada operacional acompanha uma mudança estrutural no GPA. A família Coelho Diniz consolidou 24,6% das ações da companhia, superando o Casino, que ficou com 22,5% e deixou de ser o controlador. A alteração na base acionária resultou em um novo conselho de administração, com três representantes ligados aos Diniz e nomes de perfil mais técnico, voltados à execução e disciplina financeira.
O ambiente interno também mudou de tom. O então CEO Marcelo Pimentel deixou o cargo em meados de outubro, após semanas de tensão na eleição do conselho. O comando interino ficou com o CFO Rafael Russowsky, que vem liderando a execução do plano de corte de custos e priorizando geração de caixa.
No trimestre, o GPA registrou receita líquida de R$ 4,56 bilhões, avanço de 1,4% em relação ao 3T24, com crescimento de 4,1% nas vendas mesmas lojas (SSS) — puxadas por Extra Mercado (+5,5%) e Pão de Açúcar (+3,5%), segundo o BTG Pactual.
O lucro operacional (Ebitda) ajustado somou R$ 412 milhões, alta de 3,4%, com margem de 9,1%, ajudada pela redução de custos operacionais. O lucro líquido das operações continuadas foi de R$ 145 milhões, revertendo o prejuízo de R$ 137 milhões um ano antes, impulsionado pelo reconhecimento de créditos fiscais.
Apesar da melhora operacional, o BTG avaliou que o resultado foi “ainda fraco”, com alavancagem estável em 3,1x EBITDA e uma estrutura de capital que segue pressionando a rentabilidade, diante de um consumo ainda contido e concorrência acirrada no varejo alimentar.
“Entramos agora nos dois meses mais importantes do varejo, responsáveis por 30% das nossas vendas anuais. Estamos confiantes na proposta de valor construída para entregar resultados expressivos e manter o foco no longo prazo”, diz Russowsky.
Por volta das 10h40 desta quarta-feira (5), o GPA recua 1,32%, a R$ 3,74, enquanto o Ibovespa operava estável.