
Enquanto as vinhas francesas começam a brotar novamente, produtores europeus enfrentam uma dupla ameaça: tanques ainda cheios da safra anterior e a perspectiva de perder seu maior mercado internacional após o presidente Donald Trump anunciar possíveis tarifas de 200% sobre vinhos importados da Europa.
Na Cave Héraclès, maior cooperativa de vinhos orgânicos da França, mais de 200 tanques de aço inoxidável – alguns com altura de prédios de seis andares – continuam armazenando a produção do ano passado. “Nossa próxima colheita está chegando e nossos tanques ainda estão cheios,” alerta Jean Philippe Julien, presidente da cooperativa que representa 80 mil produtores no sul da França.
A situação já era crítica antes mesmo da ameaça americana. O consumo global de vinho vem caindo, especialmente entre os jovens, e o governo francês chegou a destinar € 120 milhões para pagar agricultores que aceitassem arrancar suas vinhas. Agora, com a crise comercial, muitos temem que grande parte da produção deste ano acabe estocada ou até mesmo transformada em álcool para desinfetantes.
A simples ameaça de tarifas já paralisou o setor. Após uma corrida inicial para enviar garrafas aos EUA antes que as tarifas entrassem em vigor, as encomendas despencaram. “Isso já está acontecendo,” confirma Lamberto Frescobaldi, presidente da associação italiana Unione Italiana Vini. “Importadores americanos estão pedindo para parar os embarques porque se os vinhos chegarem após 2 de abril, terão que pagar taxas de 200%.”
Essa paralisação custa cerca de € 100 milhões por semana ao setor europeu, segundo Ignacio Sánchez Recarte, do Comitê Europeu de Empresas Vinícolas. Para dimensionar o impacto: os EUA representam quase 30% das exportações europeias de vinho.
Adrian Bridge, CEO da Fladgate Partnership, dona da marca de vinho do Porto Taylor’s, é direto: “Se uma tarifa tão alta for aplicada, será praticamente impossível continuar abastecendo o mercado americano.”
Trump advertiu que a sobretaxa entrará em vigor se a União Europeia aplicar sua própria tarifa sobre o uísque americano, prevista para 14 de abril. A Comissão Europeia já trabalha em medidas para proteger seus produtores, mas a solução pode demorar.
Como resume Jerome Bauer, presidente da federação francesa de produtores de vinhos CNAOC: “Ninguém ganha com esse conflito, queremos resolvê-lo de maneira diplomática e inteligente.”
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