Após apresentar resultados acima das expectativas no terceiro trimestre, a Hypera reforçou seus planos para disputar o mercado das canetas de emagrecimento — aquela que o CEO Breno Oliveira descreveu como “a maior oportunidade do mercado farmacêutico brasileiro em uma década”.

Oliveira afirmou que a companhia pretende lançar sua própria versão da semaglutida — molécula do Ozempic e do Wegovy — logo após o vencimento da patente, previsto para março de 2026. Segundo o executivo, o mercado de medicamentos à base de GLP-1 (semaglutida e equivalentes) já movimenta cerca de R$ 10 bilhões por ano no país. A semaglutida é responsável por metade desse valor.

“Nosso produto não será licenciado. Será uma marca nossa, com registro nosso. Não pretendemos jogar no mercado de genéricos”, disse Oliveira em teleconferência com analistas.

A titular da patente, a dinamarquesa Novo Nordisk, tenta prorrogar a exclusividade no Superior Tribunal de Justiça (STJ), mas o caso ainda não teve decisão final. O interesse da Hypera se dá em meio a uma corrida nacional pelos medicamentos à base de GLP-1. A EMS já estreou nesse mercado com as canetinhas Olire e Lirux — versões nacionais da liraglutida, princípio ativo do Saxenda, de geração anterior à semaglutida.

A empresa de Carlos Sanchez, que investiu mais de R$ 1 bilhão em uma fábrica de peptídeos em Hortolândia (SP) e planeja produzir 750 mil canetas, já confirmou que pretende lançar sua própria semaglutida assim que o monopólio da Novo Nordisk terminar.

Outros laboratórios — Cimed, Biomm, Eurofarma e Prati-Donaduzzi — também anunciaram planos para produzir versões genéricas da molécula a partir de 2026.

Além da semaglutida, o CEO da Hypera afirmou que a empresa prepara lançamentos em outras moléculas prestes a perder exclusividade, como a dapagliflozina — que tem efeitos semelhantes aos medicamentos GLP-1 e é usada no tratamento de diabetes tipo 2 e de insuficiência cardíaca.

Esses medicamentos ajudam o corpo a eliminar o excesso de glicose pela urina e reduzem o risco de complicações cardiovasculares — um dos segmentos que mais crescem globalmente e cuja patente da AstraZeneca também se aproxima do vencimento. “Há um conjunto de produtos com queda de patente no curto prazo, e estamos prontos para entrar nesses mercados”, acrescentou Oliveira.

Além do chamado patent cliff, a Hypera aposta em novas categorias, como probióticos, vitaminas — entre elas a B12 — e o lançamento de produtos oncológicos.

Trimestre positivo

No trimestre encerrado em setembro, a Hypera registrou receita líquida de R$ 2,23 bilhões, alta de 16,3% em relação ao mesmo período de 2024, e lucro líquido de R$ 453,9 milhões, avanço de 22,6%.

O lucro operacional (Ebitda) foi de R$ 756 milhões, crescimento de 35% na comparação anual, com margem de 34%. A dívida líquida ficou em R$ 7,3 bilhões, o equivalente a uma alavancagem de 2,4 vezes o Ebitda anualizado.

O Itaú BBA classificou o resultado como “positivo e acima das expectativas” e manteve preço-alvo de R$ 35, enquanto o BTG Pactual reiterou recomendação neutra, com target de R$ 28, elogiando o trimestre, mas alertando que “a consistência ainda precisa ser provada”.

As ações da Hypera (HYPE3) subiam mais de 4% nesta quarta-feira (29), liderando as altas do Ibovespa, em meio ao otimismo do mercado com o novo ciclo de crescimento baseado em inovação e prescrição.