Siga nossas redes

Negócios

Informação ESG nos balanços aumenta a emissão de títulos sustentáveis?

Mais empresas tendem a buscar oportunidades de negócios ESG o que pode alavancar financiamentos alinhados a esses projetos.

Na minha última coluna contei que o Brasil se tornou o primeiro país do mundo a adotar as novas regras de sustentabilidade da Fundação IFRS, entidade que também elabora as normas mundiais de informações financeiras aos investidores. Agora, com as informações de ESG no balanço das empresas, poderemos começar a analisar se a emissão de títulos verdes se tornará realmente robusta ao ponto de ser majoritária como fonte de financiamento dos negócios.

O que pode acontecer em breve é que, uma das consequências de aumentar a transparência sobre os impactos financeiros avaliando os riscos e oportunidades ESG nos balanços das companhias, é gerar um efeito positivo na captação de financiamentos verdes para atingir metas sustentáveis que antes não estavam relacionadas à operação da empresa, ou mesmo porque o custo de capital era maior se emitissem sob o selo verde.

Até o momento, não existia no mercado um custo de capital menor para esse tipo de financiamento que incentivasse as empresas a emitirem mais títulos verdes ou sociais. Pude comprovar isso ao conversar com mais de 100 diretores financeiros de grandes empresas sobre o tema captação de empréstimos por meio de títulos sustentáveis e não ouvi de nenhum deles que havia uma taxa diferenciada melhor dos bancos se emitissem sob o selo ESG. 

mãos sobre a mesa analisando relatórios esg

O mais interessante é que até os executivos financeiros – cujas empresas depois emitiram títulos verdes ou sociais – disseram que o custo de capital não era menor emitindo tais títulos verdes ou sociais. Pelo contrário, muitos deles me diziam que o custo era maior por conta da obrigação de despender recursos com certificações e selos verdes que comprovassem todas as ações sustentáveis que estavam nas suas “covenants”, compromissos e garantias verdes e sociais assumidos pela empresa nos títulos emitidos.

Porém, o que muda quando a empresa tem que expor seus riscos e oportunidades sustentáveis mais materiais no balanço é que elas colocarão exaustivamente na pauta do conselho, diretoria e demais níveis da empresa tais temas, criando um processo contínuo de aumento do conhecimento de ESG voltado para o negócio.

O efeito imediato é que mais empresas buscarão oportunidades de negócios ESG e, por conseguinte, isso trará também uma necessidade de buscar financiamentos alinhados a esses projetos. Dessa forma, poderemos começar a ver um aumento significativo do volume de captações por títulos sustentáveis.

Ao longo do tempo, isso pode impactar também na redução do custo de capital desses títulos, que pode ser acelerado se houver uma demanda maior por produtos que tenham pegada ESG ou que estejam atreladas a metas de negócio que demonstrem para o investidor que aquela empresa dará retorno sobre o seu investimento. 

No início de novembro, a Compass, empresa de óleo e gás controlada pela Cosan, levantou R$ 1,74 bilhão com a emissão de debêntures atreladas a metas ESG. Tais metas se referem ao volume de produção de biometano (combustível renovável produzido a partir do lixo e que substitui o gás natural), e do aumento na participação de mulheres, negros, LBTQIA+ e outros grupos ainda minorias em cargos de liderança, passando de 38% para 47% em 2027 e para 50% em 2030.

Assim como a Compass, quando o assunto sustentabilidade vier para a pauta do conselho e diretoria, virá tanto com temas de risco quanto de oportunidade, a exemplo da produção do biometano e do aumento na diversidade da empresa. 

Nesses casos, financiar a operação com títulos atrelados às metas de sustentabilidade fará mais sentido. Vamos ver se faz sentido para um número maior de empresas que também terão que cumprir as novas regras de divulgação de informações sustentáveis e se isso acarretará realmente em um mercado mais robusto de título de renda fixa ESG.

Alexandre Furtado é Presidente do Comitê de Informações ESG da Fundação Getúlio Vargas, Sócio e Diretor de ESG da Grant Thornton.

  • Confira: o que é CDB, quanto rende e mais

As informações desta coluna são de inteira responsabilidade do autor e não do InvestNews e das instituições com as quais ele possui ligação. 

Abra sua conta! É Grátis

Já comecei o meu cadastro e quero continuar.