As ações do IRB Brasil Re (IRBR3) caíram mais de 30% e o ressegurador perdeu R$ 8,4 bilhões em valor de mercado ontem, após o Grupo Berkshire Hathaway divulgar comunicado na noite de terça-feira (3), no qual informava que nunca deteve ações e “não tem a intenção de se tornar um acionista do IRB”. O Berkshire é um dos mais importantes fundos de investimento globais, com quase US$ 226 bilhões em ativos sob gestão, e que pertence ao megainvestidor Warren Buffett. Os grandes investidores estrangeiros, como Citigroup, JPMorgan e Morgan Stanley, lideraram as vendas dos papéis do IRB.
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Após o conselho de administração do IRB se reunir durante todo o dia, José Carlos Cardoso, presidente executivo da empresa, e Fernando Passos, diretor financeiro, foram demitidos, segundo fontes do conselho que participaram da reunião. Werner Suffert, diretor de finanças e relações com investidores da BB Seguridade, era cotado para ocupar interinamente os dois cargos.
Histórias mal contadas
O “Estadão/Broadcast” noticiou, na semana passada, que o Berkshire Hathaway havia comprado ações do IRB, dias após uma carta da gestora Squadra ter questionado dados do balanço do ressegurador e derrubado o preço das ações. Com a nota, publicada após checagem junto a fonte do mercado, houve alta nos papéis da empresa. Grandes investidores do IRB, que procuraram o ressegurador, receberam uma tabela com as participações dos principais acionistas, mostrando que tanto o megainvestidor, quanto outros fundos de peso, haviam aumentado sua posição, em função da queda no preço das ações. Era o mesmo documento ao qual o Estadão/Broadcast havia tido acesso e que agora circula nas redes sociais.
Dias antes de o Berkshire vir a público, o IRB também havia se pronunciado sobre o crescimento dos investimentos por parte do fundo de Buffett. Na segunda-feira (2) pela manhã, em teleconferência fechada para analistas do “sell side” (responsáveis por promover e recomendar investimentos no mercado financeiro), tanto Cardoso quanto Passos, ao serem questionados, confirmaram que o fundo de Buffett havia intensificado a compra de ações do ressegurador.
Em comentário enviado a clientes, o BTG Pactual disse, na ocasião, que os executivos “destacaram que a compra recente foi realizada pela Berkshire Hathaway International Insurance Ltd. O Berkshire já era cliente e retrocessionária do IRB no passado, passou a ser investidor e recentemente aumentou a posição”, informou o relatório. A plataforma XP e a corretora Guide, em relatórios enviados a clientes, também confirmaram que participaram da conferência e ouviram a mesma informação.
Comunicado semelhante foi feito pela empresa de análises Eleven Financial, que também estava na teleconferência. Carlos Daltozo, chefe de renda variável, e a analista Tatiana Brandt escreveram: “Quando questionados sobre a participação da BRK (Berkshire Hathaway) na base de acionistas do IRB, os executivos disseram que têm uma relação próxima com o sr. Ajit Jain, homem forte da Berkshire Hathaway e responsável pela operação de seguros da holding americana. Afirmaram, ainda, que a BRK é cliente e retrocessionária do IRB desde a época do IPO (oferta inicial de ações) e que depois, passaram a ser investidores e, recentemente, aumentaram a posição via Berkshire Hathaway International Insurance Ltd.”
“Problemas de saúde”
No meio do processo, o presidente do conselho do IRB, Ivan Monteiro, renunciou ao cargo. O IRB negou a informação num primeiro momento, mas confirmou na noite de sexta passada, dizendo que o executivo saiu por “problemas de saúde”. O Estadão/Broadcast havia apurado, contudo, que a razão da saída foi “desconforto” com a então administração.
A Comissão de Valores Mobiliários (CVM), órgão regulador do mercado, abriu na segunda-feira um processo para analisar o caso. Foi aberto um processo administrativo simples, para apurar as informações desencontradas sobre a renúncia de Monteiro e a compra de ações do IRB pela Berkshire Hathaway.
Nessa fase inicial o órgão regulador do mercado de capitais pede informações à companhia. Caso sejam encontradas irregularidades ao longo da apuração, a área técnica CVM pode no futuro abrir um inquérito – se precisar aprofundar a investigação – ou formular acusação em um processo sancionador contra a companhia ou quem considere que tenha violado alguma de suas normas no caso. O episódio entre o IRB e a gestora Squadra, que colocou a administração do ressegurador na berlinda, também é alvo de processos na autarquia.
Procurados pela reportagem, IRB e o executivo Ivan Monteiro não quiserem comentar o assunto. O porta-voz do Grupo Berkshire Hathaway não respondeu às ligações.
As informações são do jornal “O Estado de S. Paulo”.