Além de levar a Amazonas Energia, em um intrincado processo de aquisição ao longo do último ano, a J&F já notificou ao Cade a intenção de comprar também a Roraima Energia — responsável pela distribuição de energia em todo o Estado —, quatro usinas termelétricas em Roraima e a Norte Tech, companhia de serviços de redes elétricas.
Diferentemente da Amazonas, a Roraima Energia conseguiu estabilizar sua operação mesmo em um ambiente de elevada dependência de geração térmica e de subsídios da Conta de Consumo de Combustíveis (CCC). A distribuidora vinha sendo considerada um caso bem-sucedido de gestão pela Oliveira, que assumiu a concessão em 2018 após a caducidade da Eletrobras Boa Vista.
O desenho final da transação mostra que a J&F está absorvendo de uma só vez o núcleo de ativos da Oliveira Energia, consolidando sua presença no setor elétrico do Norte.
O Grupo Oliveira, que ganhou notoriedade nacional ao assumir a Amazonas Energia em 2018 no processo de privatização das distribuidoras da Eletrobras, enfrentava dificuldades crescentes para manter a concessionária em operação. As perdas não técnicas — os chamados “gatos” —, a inadimplência elevada e os custos operacionais muito acima da média tornaram a operação deficitária, exigindo sucessivas renegociações com o regulador.
No início de setembro, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) aprovou os termos de um acordo que permitirá a transferência da Amazonas Energia para a Âmbar, subsidiária da J&F. O aval incluiu flexibilizações em três parâmetros regulatórios — perdas não técnicas, receitas irrecuperáveis e custos operacionais — que terão alívio por 15 anos, com redução gradual. A medida foi considerada essencial para viabilizar a transação, que prevê um aporte de R$ 9,8 bilhões pela J&F em até 60 dias.

Em paralelo, a holding também fechou a aquisição das quatro usinas termelétricas de Roraima — Monte Cristo, Bonfim, Branco e Catrimani —, todas operando como Produtoras Independentes de Energia (PIEs) em sistemas isolados. Esses ativos complementam a cadeia de fornecimento e reforçam a presença da Âmbar no segmento de geração térmica, uma frente que já vinha sendo expandida pela companhia.
O pacote inclui ainda a Norte Tech Serviços em Energia, empresa de Manaus especializada em construção e manutenção de redes de distribuição elétrica, que atua principalmente no Amazonas e em Roraima, oferecendo suporte técnico e de infraestrutura às concessionárias locais.
Negociação polêmica
O caso da Amazonas dominou a agenda do setor elétrico em 2024, quando o governo editou a Medida Provisória 1.232, autorizando a transferência de controle como alternativa à caducidade da concessão. A MP perdeu a validade sem aprovação do Congresso, mas a negociação prosseguiu em paralelo no âmbito regulatório e judicial, culminando no acordo fechado com a Aneel neste ano.
Ao agregar também a Roraima Energia e os demais ativos da Oliveira, a J&F dá um passo além do esperado pelo mercado. A presença no Amazonas e em Roraima também posiciona o grupo em sistemas isolados — regiões do país não conectadas ao Sistema Interligado Nacional (SIN) e altamente dependentes de geração térmica subsidiada.
Do ponto de vista estratégico, a operação consolida a Âmbar Energia como um dos principais players privados do setor elétrico, ampliando sua atuação da geração para a distribuição em áreas desafiadoras, mas com elevado grau de previsibilidade regulatória.
Procurada pelo InvestNews, a J&F não comentou.