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Negócios

Justiça de São Paulo decreta falência da livraria Saraiva

Decisão acontece após pedido feito pela própria empresa dentro de seu processo de recuperação judicial.

A 2ª Vara de Falências e Recuperações Judiciais da Capital decretou, na sexta-feira (6), a falência da rede de livrarias Saraiva. A decisão acontece após pedido feito pela própria empresa dentro de seu processo de recuperação judicial.

Loja da Saraiva, em foto de arquivo (Divulgação)
Loja da Saraiva, em foto de arquivo (Divulgação)

Na decisão, o juiz Paulo Furtado de Oliveira Filho reconheceu o descumprimento do plano de recuperação judicial e determinou a suspensão de ações e execuções contra a falida e a apresentação da relação de credores. Também foi mantido o administrador judicial.

“Embora formulado o pedido de autofalência, com a alegada apresentação de documentos exigidos pelo artigo 105, da Lei 11.101/2005 e o cumprimento dos demais requisitos legais, nos autos já há notícia de descumprimento do plano, o que determina, independentemente da vontade das devedoras, por força do artigo 73, IV, a convolação da recuperação em falência”, escreveu o magistrado.

Encerramento de lojas e renúncias

No último dia 21, a Saraiva havia anunciado o encerramento das suas lojas físicas, com a respectiva redução proporcional do quadro de colaboradores, afirmando que permaneceria, desde 25 de setembro de 2023, exclusivamente via e-commerce.

Nesta mesma data, por questões de foro pessoal, Marcos Guedes Pereira, membro
do conselho de administração da Saraiva, renunciou ao cargo.

Já no dia 25 do mês passado, também por questões de foro íntimo, Jorge Saraiva Neto, membro do conselho de administração e, no último dia 20, como diretor-presidente e diretor de Relações com Investidores (DRI), e Oscar Pessoa Filho, diretor vice-presidente, pediram renúncia aos cargos.

Recuperação judicial

A Saraiva havia entrado em recuperação judicial em 2018 com dívidas que somavam cerca de R$ 674 milhões na época.

Uma das maiores do ramo no Brasil, a empresa surgiu como Saraiva S.A, uma sociedade anônima, em 1947. Mais tarde, em 1972, transformou-se numa companhia aberta.

Naquela época, a empresa vivia uma sequência de inovações voltadas especialmente à área de tecnologia, como o lançamento em 2010, por exemplo, do Saraiva Digital Reader, uma plataforma que permite a venda de Livros Digitais (e-books). No mesmo ano, havia sido inaugurada a primeira loja iTown, uma operação da livraria totalmente dedicada à venda de produtos da Apple.

Situação financeira

No segundo trimestre de 2023, a Saraiva registrou prejuízo líquido de R$ 17,5 milhões, revertendo o lucro líquido de R$ 20,1 milhões ante um ano antes.

Na mesma base de comparação, a receita líquida caiu 60,6%, para R$ 7,4 milhões.

Já a receita líquida das lojas físicas caiu 60,2%, para R$ 7,2 milhões, e a receita do site Saraiva.com, por sua vez, recuou 78,6%, para R$ 128 mil.

História

A história da Saraiva remete a 1914, quando o imigrante português Joaquim Ignácio da Fonseca Saraiva abriu uma pequena livraria de livros usados no Largo do Ouvidor, em São Paulo, perto da Faculdade de Direito do Largo São Francisco.

Era a Livraria Acadêmica, que acabou se especializando em obras jurídicas. Ainda naquela década, ele editou um primeiro livro, Casamento Civil. Pelos 30 anos seguintes, a livraria seguiu com foco no direito, mas a editora passou a lançar também didáticos e obras gerais.

Em 1947, a empresa se transformou em sociedade anônima e passou a se chamar Saraiva S.A. – Livreiros Editores. Em 1972, a Saraiva virou uma companhia aberta.

Nos anos 1970, foi inaugurada a segunda livraria da empresa, na Praça da Sé – que resistiu até este último momento. Nos anos 1980, ela investiu em distribuição de livros e em 1983 iniciou o processo de expansão de sua rede de livrarias, com aberturas especialmente em shoppings. Vieram as primeiras megastores e, em 1998, ela inaugurou seu e-commerce.

Ao longo de sua história, ela comprou a Editora Atual, no fim dos anos 1990, e o Pigmento Editorial S.A., responsável pela comercialização do Ético Sistema de Ensino, em 2007.

O crescimento mais expressivo em número de livrarias ocorreu a partir da aquisição de 100% do controle acionário do Grupo Siciliano, em 2008. Foi quando a rede passou a ter mais de 100 lojas espalhadas pelo Brasil.

Com a chegada da Siciliano, vieram também os selos Arx e Caramelo. Dois anos depois, a empresa lançou o sistema de ensino Agora, para a educação pública, e criou o selo Benvirá, para obras de ficção.

A Saraiva entrou no mercado de e-books em 2010, com o lançamento de uma plataforma para venda de livro digital. Depois, em 2014, ela criaria a LEV, seu e-reader. Ainda em 2010, ela comemorou o fato de a LG ter criado uma linha de produtos com opção de acesso à internet que levava o usuário à plataforma de comercialização de filmes digitais da Saraiva. E ela inaugurou ainda a primeira loja iTown – exclusiva para venda de produtos da Apple.

Em 2012, ela lançou o selo SaraivaTec e, com a Hoper Educação, o Saraiva Solução de Aprendizagem, para ensino de Direito e Administração de Empresas. No ano seguinte, entrou no mercado de autopublicação, com a plataforma Publique-se!.

A Saraiva compraria ainda a editora Érica, para entrar no mercado de ensino técnico profissionalizante. Também em 2013, ela abriu sua primeira loja em aeroporto – em Cumbica.

Em 2015, a Saraiva vendeu todos os seus ativos editoriais e ficou apenas no varejo de livros. Naquele ano, o mercado editorial já dava indícios de que caminhava para uma recessão.

Os dois anos seguintes foram de ajustes operacionais. A empresa diminuiu. Em 2018, como consequência da crise macroeconômica, da crise do mercado editorial, mas, sobretudo, de suas escolhas próprias, a Saraiva começou a enfrentar problemas.

Foi quando ela iniciou o fechamento de suas lojas e tirou o foco da venda de eletrônicos. Em 2018, ela fechou 22 lojas e, seguindo os passos da Livraria Cultura, pediu recuperação judicial. Veio a pandemia. Em 2021, ela entrou com o pedido do 1°Aditivo ao Plano de Recuperação Judicial, homologado em março, e depois com o segundo pedido, homologado em abril de 2022.

Em julho, ela fechou mais sete lojas: Shopping Osasco (SP), Shopping Vila Velha (ES), Shopping Belém (PA), Shopping ABC Plaza (SP), Shopping Norte (RJ), Shopping Juiz de Fora (MG) e Shopping Passeio das Águas (GO).

(*Com informações de Estadão Conteúdo)

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