A Kepler informou na noite de terça-feira (4) que fechou exclusividade com a dona da GSI para negociar uma combinação de negócios. A potencial fusão é vista como “um atalho para a liderança”, ao combinar a força da Kepler — líder nacional com 35% do mercado, com a GSI, terceira colocada, que detém cerca de 7% de participação.
Desde que foi vendida pela AGCO ao AIP, em 2024, por US$ 700 milhões (8,3 vezes o Ebitda), a GSI vem adotando estratégias agressivas de preço e financiamento para ampliar espaço no Brasil, com a meta de dobrar sua fatia em cinco anos.
“Faz sentido: fortalece a presença, traz sinergias e incorpora uma marca centenária e líder de mercado. É praticamente o único mercado do mundo que cresce, e com a Argentina ao lado. As margens aqui são muito melhores”, disse uma fonte ao InvestNews.
Globalmente, a GSI disputa espaço com grupos como a canadense Ag Growth International (AGI), uma das líderes do setor; a americana Brock Grain Systems, do conglomerado CTB/Berkshire Hathaway; a também americana Sukup Manufacturing; e a espanhola Symaga, referência na Europa.
A operação da GSI é fortemente concentrada na América do Norte, que respondeu por cerca de 60% das vendas do grupo em 2023, quando faturou US$ 1 bilhão, seguida pela América do Sul, com 15%, segundo informações divulgadas pela empresa.
Na leitura do Citi, a combinação criaria um grupo com alcance quase onipresente, capaz de participar de praticamente todas as negociações de silos agrícolas do país. “O anúncio reforça o interesse da GSI em se tornar líder de mercado no Brasil por meio de um processo acelerado”, escreveram os analistas André Mazini, Kiepher Kennedy e Piero Trotta.
O Brasil tem um déficit estrutural de armazenagem de grãos, com capacidade estática equivalente a 70% da produção anual, ante mais de 100% nos Estados Unidos. Entre 2016 e 2024, a produção brasileira de grãos cresceu 6% ao ano, enquanto a capacidade de armazenagem avançou apenas 2,5%.
Segundo a Cogo Inteligência em Agronegócio, essa relação pode cair para 55% até 2033, abrindo uma lacuna que a nova companhia estaria bem posicionada para preencher.
OPA é possibilidade
Hoje avaliada em R$ 1,64 bilhão (US$ 303 milhões), a Kepler negocia a um múltiplo de 6 vezes o resultado operacional (Ebitda) estimado para 2026, abaixo dos patamares históricos do setor. Em 2017, quando a AGCO chegou a oferecer US$ 185 milhões pela empresa, o valor representava um múltiplo de 12 vezes o Ebitda. Considerando esse múltiplo, seria um negócio que passaria dos R$ 3 bilhões.
O Citi ressalta que a GSI é controlada por um fundo de private equity, e que, em casos como esse, a manutenção da companhia na bolsa é pouco provável, o que abre caminho para uma eventual OPA. Embora o banco não crave uma oferta pública de aquisição, avalia que um fechamento de capital seria uma consequência natural, caso a transação avance.
A base acionária da Kepler, hoje uma corporação sem controlador definido, facilitaria o avanço das negociações. A Trígono Capital é o maior acionista, com 15,3% do capital, seguida pela família Heller, com 11,6%. O restante — quase 70% das ações — está pulverizado entre investidores de mercado, o que abriria espaço para uma oferta concentrada caso a operação com a GSI avance.
“Não houve proposta concreta ainda. Acredito que estão avaliando a empresa e estudando como estruturar essa combinação de negócios. Esses 90 dias serão determinantes para isso”, disse uma pessoa próxima às negociações.