Na última semana, a Kepler havia comunicado que concedeu exclusividade de 90 dias à GPT para fins de avaliação, negociação e documentação da potencial transação. A A-AG Holdco atua por meio da GSI (Grain Systems), empresa americana controlada pelo fundo American Industrial Partners (AIP).
Um atalho para a liderança
De acordo com o Citi, as negociações entre a Kepler e a GSI podem dar origem a uma multinacional de armazenagem de grãos sem paralelo no Brasil. A potencial fusão é vista como “um atalho para a liderança”, ao combinar a força da Kepler — líder nacional com cerca de 35% do mercado — com a GSI, terceira colocada, que detém aproximadamente 7% de participação.
Desde que foi vendida pela AGCO ao fundo AIP, em 2024, por US$ 700 milhões (equivalente a 8,3 vezes o Ebitda), a GSI vem adotando estratégias agressivas de preço e financiamento para ampliar sua presença no Brasil, com a meta de dobrar sua fatia de mercado em cinco anos.
Globalmente, a GSI disputa espaço com grupos como a canadense Ag Growth International (AGI), a americana Brock Grain Systems (do conglomerado CTB/Berkshire Hathaway), a também americana Sukup Manufacturing e a espanhola Symaga, referência na Europa. Em 2023, a empresa faturou cerca de US$ 1 bilhão, sendo 60% das vendas concentradas na América do Norte e 15% na América do Sul, segundo dados divulgados pela companhia.
Na avaliação do Citi, a combinação criaria um grupo com alcance quase onipresente, capaz de participar de praticamente todas as negociações de silos agrícolas do país. “O anúncio reforça o interesse da GSI em se tornar líder de mercado no Brasil por meio de um processo acelerado”, escreveram os analistas André Mazini, Kiepher Kennedy e Piero Trotta.
O Brasil enfrenta um déficit estrutural de armazenagem de grãos, com capacidade estática equivalente a 70% da produção anual, ante mais de 100% nos Estados Unidos. Entre 2016 e 2024, a produção brasileira de grãos cresceu 6% ao ano, enquanto a capacidade de armazenagem avançou apenas 2,5%. Segundo a Cogo Inteligência em Agronegócio, essa relação pode cair para 55% até 2033, abrindo uma lacuna que a nova companhia estaria bem posicionada para preencher.
Atualmente avaliada em R$ 1,64 bilhão (US$ 303 milhões), a Kepler negocia a um múltiplo de 6 vezes o Ebitda estimado para 2026, abaixo dos patamares históricos do setor. Em 2017, quando a AGCO chegou a oferecer US$ 185 milhões pela empresa, o valor representava um múltiplo de 12 vezes o Ebitda — o que, em valores atuais, equivaleria a mais de R$ 3 bilhões.
Possível OPA
O Citi avalia que, por ser controlada por um fundo de private equity, a GSI tende a buscar o fechamento de capital da Kepler, o que abriria caminho para uma eventual oferta pública de aquisição (OPA). Embora o banco não confirme que uma OPA esteja nos planos imediatos, considera que essa seria uma consequência natural caso a transação avance.
A base acionária pulverizada da Kepler facilitaria o processo: a Trígono Capital detém 15,3% do capital, seguida pela família Heller, com 11,6%, enquanto quase 70% das ações estão nas mãos de investidores de mercado.